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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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Uma segun<strong>da</strong> diferença concerne ao modo como eu e tu são reversíveis na situação<br />

<strong>de</strong> comunicação, o que não ocorre entre nenhuma <strong>de</strong>ssas duas pessoas e ele. Nota-<br />

se, ain<strong>da</strong>, que a terceira pessoa é a única pela qual qualquer coisa é predica<strong>da</strong><br />

verbalmente, como no trecho abaixo:<br />

[...] Tudo isto, naturalmente, nos preocupa, mas, confess<strong>em</strong>o-lo,<br />

muito mais nos preocuparia se não calhasse estarmos na Galiza,<br />

observando os preparativos <strong>de</strong> viag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Maria Guavaira e Joaquim<br />

Sassa, <strong>de</strong> Joana Car<strong>da</strong> e <strong>José</strong> Anaíço, <strong>de</strong> Pedro Orce e o Cão, a<br />

importância relativa dos assuntos é variável, ele 103 é o ponto <strong>de</strong> vista, ele é<br />

o humor do momento, ele é a simpatia pessoal. 104<br />

A essas diferenças po<strong>de</strong>-se acrescentar uma quarta aponta<strong>da</strong> por Kerbrat-<br />

Orecchioni 105 : os pronomes pessoais eu e tu são dêiticos puros, ou seja, para<br />

receber<strong>em</strong> um conteúdo referencial preciso, exig<strong>em</strong> do receptor que ele leve <strong>em</strong><br />

consi<strong>de</strong>ração tão-somente a situação <strong>de</strong> comunicação; já o pronome ele funciona ou<br />

como dêitico negativo, indicando apenas que o referente não se trata <strong>de</strong> interlocutor<br />

do processo <strong>de</strong> comunicação, ou como um anafórico, quando seu conteúdo<br />

referencial é <strong>de</strong>terminado por um antece<strong>de</strong>nte lingüístico.<br />

Apesar <strong>de</strong> estabelecer essa distinção, a autora refuta a posição <strong>de</strong><br />

Benveniste segundo a qual a noção <strong>de</strong> pessoa nos pronomes pessoais é própria <strong>de</strong><br />

eu / tu e que esta falta <strong>em</strong> ele, concepção que, ao que tudo indica, já havia surgido<br />

<strong>em</strong> 1660, como se po<strong>de</strong> inferir do seguinte trecho <strong>da</strong> Grammaire générale et<br />

raisonnée, <strong>de</strong> Arnauld e Lancelot, conheci<strong>da</strong> como “Grammaire <strong>de</strong> Port Royal” 106 :<br />

Mais parce que le sujet <strong>de</strong> la proposition n’est souvent ni soi-même,<br />

ni celui à qui on parle, il a fallu nécessair<strong>em</strong>ent, pour réserver ces <strong>de</strong>ux<br />

terminaisons à ces <strong>de</strong>ux sortes <strong>de</strong> personnes, en faire une troisième qu’on<br />

joignit à tous les autres sujets <strong>de</strong> la proposition. Et c’est ce qu’on a appelé<br />

troisième personne, tant au singulier qu’au pluriel; quoique le mot <strong>de</strong><br />

103<br />

Embora se encontre no singular, o pronome ele refere-se aos “preparativos <strong>de</strong> viag<strong>em</strong>”.<br />

104<br />

A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, p. 204.<br />

105<br />

KERBRAT-ORECCHIONI, Catherine. L’énonciation: <strong>de</strong> la subjectivité <strong>da</strong>ns le langage. Paris,<br />

Armand Colin, 1980, p. 34.<br />

106<br />

Apud SALUM, Isaac Nicolau. “As vicissitu<strong>de</strong>s dos dêiticos-anafóricos”. In: Língua e literatura.<br />

M<strong>em</strong>oriam Eurípe<strong>de</strong>s Simões <strong>de</strong> Paula. São Paulo, FFLCH-USP, p. 322.<br />

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