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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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s<strong>em</strong> que o leitor tenha ain<strong>da</strong> conhecimento <strong>de</strong> como as personagens se<br />

conheceram. Três páginas <strong>de</strong>pois, há um retrocesso e volta-se no t<strong>em</strong>po:<br />

Não há, pois, princípio, mas houve um momento <strong>em</strong> que Joaquim<br />

Sassa partiu don<strong>de</strong> estava, praia do norte <strong>de</strong> Portugal [...] por ter ouvido que<br />

um Pedro Orce <strong>de</strong> Espanha sentia tr<strong>em</strong>er o chão <strong>de</strong>baixo dos pés quando o<br />

chão não tr<strong>em</strong>ia. 195<br />

Daí por diante narra-se linearmente a sucessão <strong>de</strong> acontecimentos até que se<br />

retorne ao ponto interrompido à página 44, no momento <strong>em</strong> que os homens estão<br />

sentados no chão:<br />

[...] <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> uma oliveira cordovil. 196<br />

De maneira contrária, às vezes o narrador também se recusa a <strong>da</strong>r certas<br />

informações antes do momento que julga ser o mais apropriado:<br />

[...] bastou que nestes dias, a centenas <strong>de</strong> quilómetros <strong>de</strong> Cerbère,<br />

<strong>em</strong> um lugar <strong>de</strong> Portugal <strong>de</strong> cujo nome nos l<strong>em</strong>brar<strong>em</strong>os mais tar<strong>de</strong>,<br />

bastou que a mulher chama<strong>da</strong> Joana Car<strong>da</strong> riscasse o chão com a vara <strong>de</strong><br />

negrilho, para que todos os cães <strong>de</strong> além saíss<strong>em</strong> à rua vociferantes. 197<br />

Mas é preciso diferenciar voz narrativa <strong>de</strong> focalização. A voz narrativa é a que<br />

relata a história, enquanto que a focalização é a perspectiva a partir <strong>da</strong> qual se<br />

relata, ou seja, o ponto <strong>de</strong> vista, que po<strong>de</strong> ser o do narrador ou o <strong>de</strong> uma <strong>da</strong>s<br />

personagens.<br />

Greimas e Courtès 198 marcam essa distinção postulando a existência <strong>de</strong><br />

duas instâncias com funções diferentes no interior do texto narrativo: o narrador e o<br />

observador. O narrador é aquele que fala, ou seja, é o sujeito do fazer pragmático.<br />

Trata-se do <strong>de</strong>stinador do discurso explicitamente instalado no enunciado. Na<br />

195 Ibid<strong>em</strong>, p. 47.<br />

196 Ibid<strong>em</strong>, p. 78.<br />

197 Ibid<strong>em</strong>, p. 8.<br />

198 GREIMAS, Algir<strong>da</strong>s Julien COURTÉS, Joseph. Dicionário <strong>de</strong> s<strong>em</strong>iótica. Trad. Alceu Dias Lima<br />

et alii., São Paulo, Cultrix, s.d., 294.<br />

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