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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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A respeito <strong>da</strong> presença e <strong>da</strong> ausência do narrador no texto literário, dizia<br />

Genette 187 , <strong>em</strong> 1972:<br />

[...] l’absence est absolue, mais la présence a ses <strong>de</strong>grés.<br />

Entretanto, <strong>em</strong> obra posterior, o autor 188 atualiza sua teoria:<br />

Je ne sais pas si je maintiendrais aujourd’hui l’idée d’une frontière<br />

infranchissable entre ces <strong>de</strong>ux types [<strong>de</strong> narrador] hétéro- et<br />

homodiégétique.<br />

O narrador, entretanto, não é só aquele que relata a história e estabelece um<br />

contato com narratário. Além <strong>de</strong>ssas funções − narrativa e <strong>de</strong> comunicação −, ele<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha mais três: a test<strong>em</strong>unhal, a i<strong>de</strong>ológica e a <strong>de</strong> direção. 189<br />

A função test<strong>em</strong>unhal ou <strong>de</strong> atestação trata <strong>da</strong> orientação do narrador para<br />

ele mesmo. Po<strong>de</strong> assumir a forma <strong>de</strong> um simples test<strong>em</strong>unho, <strong>em</strong> que o narrador<br />

indica as fontes <strong>de</strong> suas informações ou o grau <strong>de</strong> precisão <strong>de</strong> suas l<strong>em</strong>branças,<br />

como no caso abaixo:<br />

[...] É t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> explicar que quanto aqui se diz ou venha a dizer é<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong> pura e po<strong>de</strong> ser comprovado <strong>em</strong> qualquer mapa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ele<br />

seja bastante minucioso para conter informações aparent<strong>em</strong>ente tão<br />

insignificantes. 190<br />

Ain<strong>da</strong> no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>de</strong>ssa função, o narrador transmite os sentimentos que<br />

nele <strong>de</strong>sperta <strong>de</strong>terminado episódio, conforme ilustra o trecho a seguir. Trata-se do<br />

momento <strong>em</strong> que surge, <strong>de</strong> madruga<strong>da</strong>, a primeira fen<strong>da</strong> <strong>em</strong> uma <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s que<br />

ligam a França à Espanha:<br />

[...] um automobilista [...] sentiu <strong>da</strong>r o carro um salto brusco, como<br />

se as ro<strong>da</strong>s tivess<strong>em</strong> entrado e saído <strong>de</strong> um rego transversal, e foi ver o<br />

187 GENETTE, Gérard. Figure III. Paris, Seuil, 1972, p. 253.<br />

188 GENETTE, Gérard. Nouveau discours du récit. Paris. Seuil, 1983, p.70.<br />

189 GENETTE, Gérard. Figure III. Paris, Seuil, 1972, p. 262.<br />

190 A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, p. 18.<br />

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