Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP
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<strong>no</strong>vamente. Continuo viven<strong>do</strong> com arte, e as colheitas voltaram a acontecer na<br />
casa de lulu.<br />
Continuo ten<strong>do</strong> que lutar para trabalhar ao me<strong>no</strong>s um pouco, aquele mínimo<br />
necessário para que tu<strong>do</strong> ande mais ou me<strong>no</strong>s <strong>no</strong> trilho, e assim vou sempre<br />
corren<strong>do</strong> contra o tempo, o que às vezes me chateia pois meus alu<strong>no</strong>s me<br />
salvam a vida diariamente, mas não são, de maneira alguma, minha prioridade.<br />
Cui<strong>do</strong> de to<strong>do</strong>s eles, mas me<strong>no</strong>s que deveria.<br />
A lulu continua na vida leve como o vento, voltou a ser assim, a exercer a prática<br />
da leveza, o que deve ser uma lembrança diária. Com ela, em algum lugar, sabe<br />
que leva uma promessa e um pla<strong>no</strong>, um homem e um cachorro.<br />
...<br />
a lulu está bem. e manda <strong>no</strong>tícias <strong>do</strong> front.<br />
Embreagem é o efeito de retor<strong>no</strong> à enunciação, produzi<strong>do</strong> pela suspensão da<br />
oposição entre certos termos da categoria da pessoa e/ou espaço e/ou tempo, bem<br />
como pela denegação da instância <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>. A embreagem actancial diz respeito<br />
à neutralização da categoria de pessoa. Como toda embreagem pressupõe<br />
uma debreagem anterior, quan<strong>do</strong> o enuncia<strong>do</strong>r diz “Depois de inúmeras revoadas e<br />
turbulências, continuamos por aqui, exercen<strong>do</strong> esse milagre diário que é a existência<br />
viva da lulu”, em essência temos uma debreagem enunciva, pois o termo lulu, na<br />
verdade, significa eu. Ao invés de ter uma primeira pessoa <strong>do</strong> singular, que corresponde<br />
a uma debreagem actancial enunciativa, é empregada a terceira <strong>do</strong> singular.<br />
Quan<strong>do</strong> lulu toma a palavra, referin<strong>do</strong>-se a si mesma em terceira pessoa, esvazia-se<br />
de qualquer subjetividade e distancia-se das circunstâncias narradas, buscan<strong>do</strong> ver<br />
os acontecimentos de sua vida como exteriores. No entanto, o enuncia<strong>do</strong> é marca<strong>do</strong><br />
por uma oscilação entre o mo<strong>do</strong> embrea<strong>do</strong> de se colocar <strong>no</strong> discurso e o mo<strong>do</strong> debrea<strong>do</strong>,<br />
ou seja, ora o enuncia<strong>do</strong>r se coloca como uma terceira pessoa a olhar suas<br />
próprias atividades, ora como o protagonista de tais ações: Continuo viven<strong>do</strong> com<br />
arte, e as colheitas voltaram a acontecer na casa de lulu.<br />
A embreagem, exemplo claro das instabilidades <strong>do</strong> discurso, constitui uma estratégia<br />
pela qual o enuncia<strong>do</strong>r destitui-se da imagem de si, de seu ethos, para<br />
instalar-se como um outro <strong>no</strong> enuncia<strong>do</strong>. Esse outro simboliza a alteridade <strong>do</strong> olhar,<br />
demonstran<strong>do</strong> que o efeito de subjetividade pode deixar escapar desse mesmo eu<br />
um outro a partir <strong>do</strong> qual o enuncia<strong>do</strong>r deseja que parta um olhar. Uma constituição<br />
essencialmente heterogênea <strong>do</strong> sujeito, apesar da tentativa <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r em suspender<br />
a presença <strong>do</strong> outro <strong>no</strong> discurso, por <strong>meio</strong> das debreagens.<br />
Embrea<strong>do</strong>, esse sujeito <strong>discursivo</strong> demonstra sua constituição polifônica e descentrada.<br />
No entanto, o acor<strong>do</strong> fiduciário entre o enuncia<strong>do</strong>r e o enunciatário presume,<br />
de saída, uma corporalidade e um olhar que constituem um sujeito empírico<br />
a partir <strong>do</strong> qual se constitui o ethos. Assim, apesar <strong>do</strong> descentramento <strong>do</strong> sujeito <strong>no</strong><br />
discurso, não se deve apoiar a <strong>no</strong>ção de que esse sujeito é fragmenta<strong>do</strong>, pois essa<br />
idéia de dispersão <strong>do</strong> sujeito é muitas vezes confundida e levada ao extremo de um<br />
sujeito perdi<strong>do</strong>, desreferencializa<strong>do</strong>.<br />
Um pesadelo hiper-realista<br />
Esta <strong>no</strong>ite visitou-me enfim o primeiro pesadelo realmente apavorante que tive<br />
em New Orleans.<br />
IDENtIFICAçõES E SuBjEtIVAçõES CONtEMPORâNEAS | 117