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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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Acho que <strong>no</strong> princípio o Lima Duarte tomou um susto de ganhar um cachorro.<br />

Mas logo em seguida, uma das coisas mais fantásticas era ouvi-lo chaman<strong>do</strong><br />

“James” com aquela voz poderosa que tantas vezes eu ouvi na televisão. Ele<br />

enchia a boca para falar: James!<br />

E o James a<strong>do</strong>rou o lugar. O grama<strong>do</strong>, o lago, tu<strong>do</strong>.<br />

Conversei longamente com o Lima Duarte. Ele me mostrou tu<strong>do</strong> por lá: suas<br />

carpas de estimação, que ele falava “nishiquigói” (acho que é assim), suas pingas<br />

que eu tive que provar. Um homem galante e charmoso.<br />

…<br />

Nunca mais o vi. Até que gostaria de saber <strong>do</strong> James e dele. Que dupla…<br />

O enuncia<strong>do</strong>r também utiliza as aspas para enfatizar a fala <strong>do</strong> interlocutor, <strong>no</strong><br />

caso, o ator Lima Duarte. Para simular a fala <strong>do</strong> interlocutor ao chamar o cachorro<br />

recebi<strong>do</strong> de presente, o enuncia<strong>do</strong>r precisa demarcar que se trata de uma segunda<br />

voz enunciativa. Para isso, o enuncia<strong>do</strong>r descreve até o tom de voz com que<br />

o interlocutor chamou o animal. Também para demarcar a voz <strong>do</strong> interlocutor, o<br />

enuncia<strong>do</strong>r coloca entre aspas a palavra nishiquigói, escrita de forma oralizada, para<br />

referir-se às carpas <strong>do</strong> ator. As aspas também são comumentente empregadas nas<br />

citações em discrurso direto, para simular uma segunda voz, como em Recordar,<br />

Repetir e Elaborar:<br />

Admitir um erro ou um problema, freqüentemente, constitui apenas uma<br />

excelente forma de se manter atrela<strong>do</strong> indefinidamente a eles. “Vejam, errei”<br />

quase sempre leva às justificativas: sou assim mesmo / não tem jeito / não<br />

apren<strong>do</strong>.<br />

Como saber, então, quan<strong>do</strong> é uma coisa e quan<strong>do</strong> é outra – quan<strong>do</strong> o<br />

reconhecimento de um erro ou problema é indício de sua iminente resolução, e<br />

quan<strong>do</strong> não passa de uma excelente desculpa para chafurdarmos na bobagem<br />

cada vez mais? Em outras palavras, como saber se estou sen<strong>do</strong> honesta quan<strong>do</strong><br />

digo que aos poucos estou resolven<strong>do</strong> os problemas relaciona<strong>do</strong>s à perda da<br />

minha mãe? Como saber que não estou me enganan<strong>do</strong>, contan<strong>do</strong> uma historinha<br />

fofa, quan<strong>do</strong> na verdade chafur<strong>do</strong> em meu egocentrismo cada vez mais?<br />

A modalização autonímica por <strong>meio</strong> da expressão Em outras palavras, permite ao<br />

enuncia<strong>do</strong>r des<strong>do</strong>brar a sua fala, comentan<strong>do</strong>-a, caso que Authier-Revuz de<strong>no</strong>mina<br />

como “não coincidência <strong>do</strong> discurso consigo mesmo”. Por último, o enuncia<strong>do</strong>r<br />

utiliza as aspas para marcar um trecho de um romance.<br />

Um tipo de polifonia me<strong>no</strong>s visível é aquela <strong>do</strong> provérbio e <strong>do</strong>s slogans, bastante<br />

presentes <strong>no</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong>. Quan<strong>do</strong> o enuncia<strong>do</strong>r de All made of stars<br />

efetua a imitação Pensei também nas inúmeras vezes em que esperamos certas atitudes<br />

de certas pessoas em vão, pois na verdade tomateiro nunca vai dar rabanete e focinho<br />

de porco nunca vai virar tomada, ele não apenas reproduz um provérbio, mas o<br />

capta, toman<strong>do</strong> seu valor pragmático. Não se trata de uma citação, como ocorre <strong>no</strong><br />

discurso direto, pois trata-se de uma retomada de outros enuncia<strong>do</strong>s já proferi<strong>do</strong>s<br />

anteriormente e cuja interpretação deve ser efetuada pelo enunciatário, que deve<br />

identificá-lo com base em sua memória,<br />

IDENtIFICAçõES E SuBjEtIVAçõES CONtEMPORâNEAS | 127

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