Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP
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to a discurso oral reduz a distinção ao suporte ou ao <strong>meio</strong> e dissimula o fato de que<br />
um texto é, na maioria das vezes, plurissemiótico.<br />
A partir <strong>do</strong> modelo comunicativo emissor-mensagem-receptor ou emitentemensagem-destinatário,<br />
Umberto Eco sugere que um texto representa uma cadeia<br />
de artifícios de expressão que devem atualiza<strong>do</strong>s pelo destinatário, uma vez que o<br />
texto está sempre incompleto, se não atualiza<strong>do</strong> pela leitura. Ou seja:<br />
Neste senti<strong>do</strong>, o destinatário é sempre postula<strong>do</strong> como o opera<strong>do</strong>r (não necessariamente<br />
empírico) capaz de abrir, por assim dizer, o dicionário para toda palavra que<br />
encontre e de recorrer a uma série regras sintáticas preexistentes para reconhecer a<br />
função recíproca <strong>do</strong>s termos <strong>no</strong> <strong>contexto</strong> da frase (Eco, 2002: 36).<br />
No entanto, ig<strong>no</strong>ra-se uma concepção de senti<strong>do</strong> equivalente à <strong>no</strong>ção de mensagem,<br />
escolha sintonizada também pela rejeição da Análise <strong>do</strong> Discurso de vertente<br />
francesa à idéia de senti<strong>do</strong> como conteú<strong>do</strong> de um texto, pois “a concepção de<br />
senti<strong>do</strong> como mensagem é tributária, entre outras, de uma idéia segun<strong>do</strong> a qual o<br />
senti<strong>do</strong> é uma espécie de objeto (um conceito) bem defini<strong>do</strong>, conti<strong>do</strong> <strong>no</strong> ou veicula<strong>do</strong><br />
pelo significante, de forma bastante estável, embora não para to<strong>do</strong> o sempre”<br />
(Possenti, 2002: 167).<br />
Supõe-se, portanto, sempre uma atividade inferencial por parte <strong>do</strong> leitor, que<br />
deve atualizar o texto por <strong>meio</strong> de movimentos cooperativos, conscientes e ativos.<br />
Há sempre espaços em branco a serem preenchi<strong>do</strong>s, lacunas de senti<strong>do</strong> deixadas<br />
pelo emitente, que supõem uma valorização <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> por parte <strong>do</strong> leitor, um sujeito<br />
que deve ajudar a preencher espaços semânticos vagos, a partir de seu repertório<br />
histórico ou social:<br />
Um texto postula o próprio destinatário como condição indispensável não só da própria<br />
capacidade concreta de comunicação, mas também da própria potencialidade<br />
significativa. Em outros termos, um texto é emiti<strong>do</strong> por alguém que o atualize —<br />
embora não se espere (ou não se queira) que esse alguém exista concreta e empiricamente<br />
(Eco, 2002: 37).<br />
Nesse senti<strong>do</strong>, o autor ou emitente confia ao leitor múltiplos atos de interpretação,<br />
supõe que ele ative uma série de competências discursivas. Ou seja, idealiza<br />
uma leitor-modelo “capaz de cooperar para a atualização textual como ele, o autor,<br />
pensava, e de movimentar-se interpretativamente conforme ele se movimentou gerativamente”,<br />
pressupõe a cooperação de um leitor para sua atualização e, portanto,<br />
gera um texto na expectativa de certos movimentos interpretativos <strong>do</strong> leitor. Por<br />
conseguinte, o autor não apenas pressupõe uma competência por parte <strong>do</strong> leitormodelo,<br />
mas também contribui para construí-la.<br />
Pierre Lévy também relaciona a leitura a uma atualização. O texto, segun<strong>do</strong> ele,<br />
é um objeto virtual, abstrato, independente de um espaço específico, e sua interpretação,<br />
por <strong>meio</strong> da leitura, permite que seu senti<strong>do</strong> se concretize, se atualize.<br />
A interpretação revolve de um mo<strong>do</strong> singular e inventivo o problema <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>.<br />
A atualização exercida pela leitura traz o senti<strong>do</strong> virtual <strong>do</strong> texto para a atualidade,<br />
para o tempo e o espaço <strong>do</strong> leitor, de acor<strong>do</strong> com suas coordenadas.<br />
Para Lévy, o autor se esforça para fazer seu texto ser compreendi<strong>do</strong> pelo leitor.<br />
Esses esforços possibilitam que mensagens produzidas há mil a<strong>no</strong>s por pessoas já<br />
falecidas possam ser hoje lidas e compreendidas <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Essa<br />
possibilidade corresponde ao que Lévy de<strong>no</strong>mina “Universal da Escrita”:<br />
62 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL