12.05.2013 Views

Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

lismo, a conjuntura intelectual francesa propiciou, em tor<strong>no</strong> de uma reflexão sobre<br />

a ‘escritura’ uma articulação entre a lingüística, o marxismo e a psicanálise. A AD<br />

nasceu ten<strong>do</strong> como base a interdisciplinaridade, pois ela era preocupação não só de<br />

lingüistas como de historia<strong>do</strong>res e de alguns psicólogos. (Brandão, 1991: 17),<br />

Ainda de acor<strong>do</strong> com a autora, a Análise <strong>do</strong> Discurso não focaliza o indivíduo falante,<br />

empírico, como alguém que tenha uma presença individualizada <strong>no</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Ela se foca justamente <strong>no</strong> sujeito inseri<strong>do</strong> social e historicamente, ou seja, toma<strong>do</strong><br />

como lugar social, histórica e ideologicamente marca<strong>do</strong>.<br />

O objeto da análise <strong>do</strong> discurso não é a língua, nem o texto e me<strong>no</strong>s ainda a fala.<br />

Os elementos lingüísticos possibilitam que os discursos sejam materializa<strong>do</strong>s, ou<br />

seja, que existam de forma material, possibilitan<strong>do</strong> um movimento analítico. O discurso<br />

encontra-se <strong>no</strong> social e envolve questões não necessariamente de natureza lingüística,<br />

pois a Análise <strong>do</strong> Discurso não admite uma imanência das palavras, estan<strong>do</strong><br />

elas impregnadas por aspectos ideológicos e sociais quan<strong>do</strong> são pronunciadas.<br />

A de<strong>no</strong>minação Análise <strong>do</strong> Discurso é, muitas vezes, utilizada desacompanhada<br />

de reflexões epistemológicas e meto<strong>do</strong>lógicas, fazen<strong>do</strong> desta orientação teórica apenas<br />

uma ferramenta de observação e análise de narrativas. No entanto, é importante<br />

ressaltar que a Análise <strong>do</strong> Discurso não se constitui apenas em uma “teoria em ato”.<br />

Ela é também uma perspectiva sobre a natureza da linguagem e da sua relação com<br />

questões centrais das ciências sociais. Por este motivo, deve-se especificar a linha<br />

teórica interna da Análise <strong>do</strong> Discurso à qual a pesquisa irá filiar-se. Esta escolha<br />

meto<strong>do</strong>lógica define caminhos a serem percorri<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong>s processos de observação,<br />

descrição e interpretação da pesquisa. Assim, esse caráter teórico da Análise<br />

<strong>do</strong> Discurso acarreta não só práticas de recolha de da<strong>do</strong>s e de análise, mas também<br />

um conjunto de assunções teóricas.<br />

A escolha da Análise <strong>do</strong> Discurso como matriz teórica <strong>do</strong> trabalho não pode ser<br />

interpretada a partir de uma ótica instrumentalista, crítica sofrida por muitos trabalhos<br />

que relacionam os movimentos da língua ao <strong>contexto</strong> social, ten<strong>do</strong> em vista sua<br />

utilização como ferramenta de análise <strong>do</strong>s processos <strong>discursivo</strong>s em varia<strong>do</strong>s tipos de<br />

objetos. Optar por estudar um corpus a partir da Análise <strong>do</strong> Discurso de linha francesa<br />

remete também à maneira de compreender o sujeito <strong>do</strong> discurso com o qual se<br />

quer trabalhar. Da mesma forma, não estão aparta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> horizonte da pesquisa os<br />

embates teórico-epistemológicos entre a Linguística e a Análise <strong>do</strong> Discurso.<br />

Este trabalho não se propõe como um estu<strong>do</strong> apenas das propriedades formais<br />

da língua ou das materializações lingüísticas <strong>no</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong>. Isso explica<br />

o motivo pelo qual não se enfocam os usos da língua <strong>no</strong> ambiente hipertextual,<br />

comumente chama<strong>do</strong> de internetês. Ele insere-se <strong>no</strong> estu<strong>do</strong> da linguagem à medida<br />

que ela “faz senti<strong>do</strong> para sujeitos inscritos em estratégias de interlocução, em posições<br />

sociais ou em conjunturas históricas” (Maingueneau: 1997, 12). Para falar de<br />

discurso, não podemos recorrer a <strong>no</strong>ções puramente lingüísticas, sen<strong>do</strong> necessário<br />

romper barreiras e reconhecer as relações da Linguagem com a Psicanálise e a<br />

História, por exemplo.<br />

As fundamentações epistemológicas e teóricas da Análise <strong>do</strong> Discurso encontram-se<br />

essencialmente <strong>no</strong> chama<strong>do</strong> pós-estruturalismo. Elas são herdeiras da Filologia<br />

e da Lingüística. No entanto, existem controvérsias a respeito da permanência<br />

da Análise <strong>do</strong> Discurso dentro <strong>do</strong> campo da Lingüística. Para Maingueneau, a dispersão<br />

da AD deve ser considerada não como desvio ilícito, mas como um sintoma<br />

da própria organização <strong>do</strong> campo da Lingüística, que passa a alocar certos estu<strong>do</strong>s<br />

para interfaces com a Sociologia, a Psicologia, a História e a Filosofia:<br />

40 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!