12.05.2013 Views

Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

possibilite o estu<strong>do</strong> de um sujeito <strong>do</strong>bra<strong>do</strong> entre as circunstâncias que delimitam a<br />

produção discursiva, mas que também favorecem a emergência da subjetividade.<br />

Vamos ver adiante que a Análise <strong>do</strong> Discurso se distancia de uma posição<br />

subjetivista <strong>do</strong> sujeito e se aproxima de uma concepção de sujeito que perde essa<br />

polaridade centrada <strong>no</strong> eu/tu para dar lugar a estu<strong>do</strong>s da presença <strong>do</strong> outro <strong>no</strong><br />

discurso. No entanto, é impossível dissociar esta pesquisa de alguma formulação<br />

teórica lingüística que admita, pelo me<strong>no</strong>s como efeito ilusório, a idéia de subjetividade.<br />

Por isso, se a Análise <strong>do</strong> Discurso admite um sujeito permea<strong>do</strong> pelas supressões<br />

ideológicas, qual o senti<strong>do</strong> que pode ser atribuí<strong>do</strong> aos relatos de si, associa<strong>do</strong>s a<br />

lugares de experimentação da identidade?<br />

A classificação da Análise <strong>do</strong> Discurso em suas três fases pode auxiliar uma<br />

compreensão da questão. A idéia de assujeitamento <strong>do</strong> sujeito presume discursos<br />

considera<strong>do</strong>s como homogêneos, fecha<strong>do</strong>s em si. Nessa fase, o discurso foi considera<strong>do</strong><br />

como resultante de condições de produção estáveis e homogêneas e por<br />

isso, seria também considera<strong>do</strong> como uma maquinaria fechada em si, conceito que<br />

sofre transformações na segunda fase, influenciada pela <strong>no</strong>ção de formação discursiva,<br />

que “começa a fazer explodir a <strong>no</strong>ção de maquinaria estrutural fechada, uma<br />

vez que o dispositivo da formação discursiva está em relação para<strong>do</strong>xal com seu<br />

exterior” (Pêcheux, 1990, 314).<br />

Assim, é na segunda fase que a <strong>no</strong>ção de interdiscurso toma forma, designan<strong>do</strong><br />

o exterior de uma formação discursiva: “A formação discursiva aparece, então, inseparável<br />

<strong>do</strong> interdiscurso, lugar em que se constituem os objetos e a coerência <strong>do</strong>s<br />

enuncia<strong>do</strong>s que provêem de uma formação discursiva” (Charaudeau 2004: 241).<br />

Segun<strong>do</strong> Pêcheux (1990: 297),<br />

Uma formação discursiva não é um espaço estrutural fecha<strong>do</strong>, já que ela é constitutivamente<br />

‘invadida’ por elementos provenientes de outros lugares (i. e., de outras<br />

formações discursivas) que nela se repetem, fornecen<strong>do</strong>-lhe suas evidências discursivas<br />

fundamentais (por exemplo, sob forma de ‘pré-construí<strong>do</strong>s’ e de ‘discursos<br />

transversos’).<br />

No entanto, apesar de admitir que uma formação discursiva constitui-se de<br />

outras formações discursivas, ou seja, de elementos exteriores, a segunda fase da<br />

Análise <strong>do</strong> Discurso ainda fala em um sujeito assujeita<strong>do</strong> por essas formações discursivas.<br />

Embora seja alvo de uma crítica a respeito <strong>do</strong> sujeito assujeita<strong>do</strong> pela ideologia,<br />

a teoria nãosubjetivista da subjetividade formulada por Pêcheux ainda permite falar<br />

em um sujeito singular, marca<strong>do</strong> por uma história particular. Já para Pêcheux, a<br />

<strong>no</strong>ção de sujeito é marcada por uma ambigüidade constitutiva, que o situa entre:<br />

1) uma subjetividade livre enquanto centro de iniciativas, senhora de sua vontade,<br />

responsável por seus atos que lhe permite ‘caminhar sozinho’ e 2) uma subjetividade<br />

assujeitada a uma ordem superior (submetida às coerções das condições de produção),<br />

portanto, desprovida de liberdade, exceto a de aceitar livremente sua sujeição<br />

(Brandão, 1991: 64).<br />

Assim, esse sujeito está marca<strong>do</strong> por uma condição para<strong>do</strong>xal, pois ele não é<br />

nem totalmente livre, nem totalmente submeti<strong>do</strong>, “pois, ao mesmo tempo em que é<br />

interpela<strong>do</strong> pela ideologia, ele ocupa, na formação discursiva que o determina, com<br />

uMA VISãO LINgüÍStICO-DISCuRSIVA | 47

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!