Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP
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Assim,<br />
(...) a emergência <strong>do</strong> que poderíamos chamar de uma espécie de ‘subjetivação plena<br />
constituída por <strong>meio</strong> <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s de subjetivação agencia<strong>do</strong>s <strong>no</strong> dispositivo é apontada<br />
por Foucault como possibilidade, como vir-a-ser. A subjetivação, constituída<br />
numa atmosfera filosófica, produziria em ‘saber de si’ que conduziria a um ‘cuidar<br />
de si’. Trata-se, pois, de uma subjetividade organizada num horizonte estético, cuja<br />
de<strong>no</strong>minação seria simplesmente ‘o si’ (Ribeiro, 2007: 254).<br />
E certamente as narrativas de si encarnam essas formas estratégicas de constituição<br />
singular, de organização de um conjunto de senti<strong>do</strong>s em busca de individualidades<br />
e particularidades, mesmo que a partir de elementos heterogêneos encontra<strong>do</strong>s<br />
na rede. A reunião desses elementos é que irá caracterizar a singularidade e<br />
permitirá a expressão subjetiva <strong>no</strong> hipertexto, bem como a incorporação interna <strong>do</strong>s<br />
rudimentos pelos sujeitos virtualiza<strong>do</strong>s.<br />
Como cada época produz um tipo de subjetivação <strong>do</strong>minante, em busca de uma<br />
eco<strong>no</strong>mia das relações de poder que ocorrem na contemporaneidade, o ciberespaço<br />
parece ser um importante componente analítico através <strong>do</strong> qual se constroem as<br />
formas de subjetivação e objetivação <strong>do</strong>minantes e <strong>no</strong> qual se podem reconhecer as<br />
relações entre racionalização e poder in loco.<br />
A subjetividade <strong>no</strong> hipertexto é intrínseca às relações de poder constitutivas <strong>do</strong><br />
hipertexto. As relações de poder, de comunicação e as capacidades objetivas têm<br />
suas especificidades, mas estão imbricadas umas às outras, apoian<strong>do</strong>-se reciprocamente<br />
e servin<strong>do</strong>-se mutuamente de instrumento. No entanto, segun<strong>do</strong> Foucault,<br />
os efeitos de poder são apenas um aspecto da significação, exercem-se por um<br />
aspecto extremamente importante através da produção e da troca de sig<strong>no</strong>s. As<br />
articulações entre essas três instâncias não são equilibradas, mas estão ajustadas<br />
em blocos, segun<strong>do</strong> fórmulas refletidas constituin<strong>do</strong> as disciplinas, que mostram<br />
diferentes modelos de articulação entre os sistemas de finalidade objetiva, de comunicações<br />
e de poder.<br />
Se o poder designa relações entre parceiros, coloca em jogo articulações de indivíduos<br />
ou de grupos e se exerce através <strong>do</strong>s processos de significação, é natural que<br />
se busquem os procedimentos de disciplinarização <strong>do</strong> comportamento <strong>do</strong>s diários<br />
virtuais <strong>no</strong> matriciamento entre os mo<strong>do</strong>s de ação de uns sobre os outros exerci<strong>do</strong>s<br />
por <strong>meio</strong> <strong>do</strong>s hiperlinks, principalmente, e as diferentes formas de produção e troca<br />
de sig<strong>no</strong>s possibilitadas pela interatividade e pela hipertextualidade.<br />
Os movimentos de objetivação e subjetivação <strong>do</strong> sujeito <strong>no</strong> ciberespaço estão<br />
interliga<strong>do</strong>s. Ao mesmo tempo em que a objetivação faz com que os sujeitos se reconheçam<br />
sujeitos <strong>do</strong>/ao mun<strong>do</strong>, neste mesmo movimento, favorece a emergência<br />
de uma subjetividade ‘objetivada’, expressa nas heterogeneidades gramaticais, pela<br />
mudança <strong>no</strong> senti<strong>do</strong> das palavras e, principalmente, pelo estilo.<br />
Envolto por relações de produção (de ordem histórica) e relações de significação (de<br />
ordem lingüística), o homem é coloca<strong>do</strong> em relações de poder muito complexas, a partir<br />
das quais os movimentos de objetivação e subjetivação se efetuam. Segun<strong>do</strong> Foucault,<br />
cita<strong>do</strong> por Maingueneau, a inscrição <strong>do</strong> sujeito em lugares enunciativos corresponde a:<br />
Determinar qual é a posição que pode e deve ocupar cada indivíduo para dela ser o<br />
sujeito’. Isso equivale a dizer que ‘a teoria <strong>do</strong> discurso não é uma teoria de sujeito antes<br />
que ele se enuncie, mas uma teoria da instância de enunciação que é, ao mesmo<br />
tempo e intrinsecamente, o efeito de anuncia<strong>do</strong> (Maingueneau, 1997: 41).<br />
50 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL