Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP
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Não há dúvidas, portanto, de que textos que possuem traços comuns tendem<br />
a ser agrupa<strong>do</strong>s em termos de gênero. No entanto, este agrupamento não se deve,<br />
segun<strong>do</strong> Bakhtin apenas às características <strong>do</strong> produto, mas também ao processo de<br />
sua produção. Os textos, segun<strong>do</strong> Bakhtin, devem ser considera<strong>do</strong>s como enuncia<strong>do</strong>s<br />
produzi<strong>do</strong>s a partir de cenas enunciativas organizadas em função de um processo<br />
de interação. As várias esferas em que agem as relações humanas implicam a<br />
produção de enuncia<strong>do</strong>s. A produção de enuncia<strong>do</strong>s sempre ocorre ten<strong>do</strong> em vista<br />
estas esferas de ação, que cristalizam estes enuncia<strong>do</strong>s precariamente.<br />
Na perspectiva comunicacional, os gêneros estão liga<strong>do</strong>s, necessariamente, a<br />
esferas de atividades humanas de diversas origens, constituin<strong>do</strong> tipos estáveis, mas<br />
não fixos e imutáveis, de enuncia<strong>do</strong>s. O gênero se constitui, desta maneira, como<br />
uma ponte móvel, mas transitável, entre a linguagem materializada em enuncia<strong>do</strong>s<br />
e a vida social exprimida por essa linguagem.<br />
Para Fiorin (2006b), três elementos agrupa<strong>do</strong>s são capazes de caracterizar um<br />
gênero <strong>do</strong> discurso: conteú<strong>do</strong> temático, composição e estilo. Evidencia-se aqui a<br />
pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> funcionamento lingüístico <strong>do</strong> texto, bem como sua organização.<br />
Maingueneau, <strong>no</strong> entanto, defende o desenvolvimento da tipologia discursiva <strong>do</strong>s<br />
gêneros, a ser empregada para a caracterização <strong>do</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong>:<br />
Para a análise <strong>do</strong> discurso, o ideal seria poder apoiar-se também sobre tipologias<br />
propriamente discursivas, ou seja, tipologias que não separassem, por um la<strong>do</strong>, as<br />
caracterizações ligadas às funções, aos tipos e aos gêneros de discurso e, por outro,<br />
as caracterizações enunciativas (Maingueneau, 2004: 63).<br />
Toda classificação rígida é impossível, <strong>no</strong> caso <strong>do</strong>s gêneros <strong>do</strong> discurso, uma vez<br />
que eles se adaptam constantemente à evolução das relações interpessoais. Suas<br />
fronteiras são instáveis e incertas. As esferas de ação <strong>no</strong> ambiente hipertextual são<br />
inúmeras, favorecen<strong>do</strong> a emergência de gêneros diferentes a cada clique <strong>do</strong> mouse.<br />
As possibilidades de ação e interação <strong>no</strong> <strong>meio</strong> on-line são múltiplas. O ambiente<br />
hipertextual <strong>no</strong>s quais se aportam os diários virtuais <strong>íntimos</strong> atribuem ao diário<br />
virtual elementos diferencia<strong>do</strong>s que caracterizam o gênero, elevan<strong>do</strong>-o a uma esfera<br />
de atividade peculiar, extremamente vinculada ao gênero trata<strong>do</strong>.<br />
Os diários virtuais <strong>íntimos</strong> provam o caráter de imprecisão entre as fronteiras<br />
<strong>do</strong>s gêneros, bem como a ausência de demarcação imutável de suas características.<br />
A instabilidade <strong>no</strong> discurso é provocada pela efemeridade <strong>do</strong> <strong>meio</strong> on-line, pois os<br />
discursos permanecem sempre em construção constante. Assim como a <strong>no</strong>rmatividade<br />
não é uma marca <strong>do</strong> gênero, <strong>no</strong> ambiente on-line essa ausência é elevada ao<br />
seu máximo grau.<br />
As particularidades hipertextuais provocam a emergência de <strong>no</strong>vos gêneros, pois<br />
as esferas de atividades humanas são adaptadas a uma forma de interação técnica<br />
mediada por um computa<strong>do</strong>r. Os enuncia<strong>do</strong>s, interliga<strong>do</strong>s entre si pelos links, sofrem<br />
interferências constantes de outros enuncia<strong>do</strong>s, agregan<strong>do</strong> <strong>no</strong>vos senti<strong>do</strong>s a<br />
esse gênero <strong>do</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> <strong>no</strong> <strong>meio</strong> <strong>discursivo</strong> on-line. Fiorin (2006b:<br />
65) reitera essa condição: “Com o aparecimento da Internet, <strong>no</strong>vos gêneros surgem:<br />
o chat, o blog, o e-mail, etc. A epopéia desaparece e dá lugar a <strong>no</strong>vos gêneros. Gênero<br />
une estabilidade e instabilidade, permanência e mudança”.<br />
A estrutura formal que define o gênero trata<strong>do</strong>, em vinculação direta com as<br />
atividades que possibilitam sua emergência, isto é, a comunicação mediada por<br />
computa<strong>do</strong>r, permitem que o gênero se instale legitimamente. Essa esfera de ação<br />
técnica mantida por uma relação mediada entre os parceiros de comunicação que<br />
PERCuRSOS DE SENtIDO NO LABIRINtO HIPERtEXtuAL | 69