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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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circunstâncias epistemológicas e teóricas que surgem a partir da intersecção <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>do</strong>s de cibercultura sobre os <strong>meio</strong>s digitais e com as diversas perspectivas analíticas<br />

de tais fenôme<strong>no</strong>s, advindas de áreas como Psicologia, Linguística e Teoria<br />

da Informação. Fato comunicacional pertencente ao <strong>contexto</strong> das mídias digitais,<br />

os blogs expressam as condições sociais e históricas contemporâneas, marcadas por<br />

diversas transformações face às conjunturas da modernidade, relativas às formas<br />

de subjetivação e aos mo<strong>do</strong>s de posicionamentos identitários, aos mecanismos de<br />

representação das conjunções espaciais e temporais, bem como aos modelos de visibilidade<br />

pública e privada e às arquiteturas da memória na contemporaneidade.<br />

Independentemente <strong>do</strong> termo emprega<strong>do</strong> para <strong>no</strong>meá-la, seja pós-modernidade,<br />

segunda modernidade, modernidade tardia, alta modernidade, modernidade líquida,<br />

sociedade da informação ou sociedade pós-industrial, a época <strong>do</strong> surgimento<br />

<strong>do</strong>s blogs caracteriza-se pelas remodelações <strong>do</strong> <strong>contexto</strong> social, econômico e cultural,<br />

principalmente ao longo <strong>do</strong> século XX. O advento da sociedade da informação<br />

teria determina<strong>do</strong> a crise da idéia de progresso e de história unitária, ambas criações<br />

burguesas <strong>do</strong> Iluminismo que admitiam o homem como ser único, caracteriza<strong>do</strong> por<br />

uma identidade coesa e racional. Teria ocorri<strong>do</strong>, portanto, uma ruptura <strong>do</strong> projeto<br />

moder<strong>no</strong>, apoia<strong>do</strong> na emancipação humana a partir <strong>do</strong> progresso. O movimento não<br />

se restringe exclusivamente ao campo social, estenden<strong>do</strong>-se ao aos âmbitos cultural<br />

e acadêmico. Enquanto uma das palavras-chave <strong>do</strong> modernismo é paranóia, que<br />

presume uma unidade em tor<strong>no</strong> da identidade, na pós-modernidade ela é substituída<br />

pela esquizofrenia, uma concepção da personalidade com base na fragmentação<br />

e instabilidade da linguagem e <strong>do</strong> discurso.<br />

É nesse <strong>contexto</strong> que podem ser compreendi<strong>do</strong>s os blogs, ferramentas para a<br />

exploração <strong>do</strong> caráter disperso da identidade contemporânea. No entanto, pre<strong>do</strong>mina<br />

aqui uma perspectiva critica frente às perspectivas <strong>do</strong> pós-moder<strong>no</strong>, principalmente<br />

aquelas que acentuam um aspecto de ruptura em relação a um projeto<br />

moder<strong>no</strong>, enfatizan<strong>do</strong> um aspecto oscilativo de continuidade e descontinuidade<br />

com base na concepção de liquidez. Zygmunt Bauman (2001) utiliza a metáfora da<br />

fluidez para marcar a especificidade <strong>do</strong> estágio presente da era moderna, dada sua<br />

maleabilidade e flexibilidade em contraposição ao artefato sóli<strong>do</strong>. A modernidade<br />

seria, assim, fluida desde a sua concepção, um processo de liquefação <strong>do</strong>s sóli<strong>do</strong>s<br />

representa<strong>do</strong>s por sistemas que persistem <strong>no</strong> tempo e por sedimentos <strong>do</strong> passa<strong>do</strong><br />

<strong>no</strong> presente, com a finalidade de limpar a área para <strong>no</strong>vos e mais aperfeiçoa<strong>do</strong>s sóli<strong>do</strong>s.<br />

Esse processo de derretimento determina, segun<strong>do</strong> o autor, uma <strong>no</strong>va condição<br />

humana, modifican<strong>do</strong> conceitos básicos em tor<strong>no</strong> <strong>do</strong>s quais as narrativas orto<strong>do</strong>xas<br />

da condição humana tendem a se desenvolver, como a individualidade e a relação<br />

tempo/espaço.<br />

O computa<strong>do</strong>r, para Sherry Turkle (1997), exerce na sociedade contemporânea<br />

um papel não apenas de ferramenta de comunicação, mas também de transformação<br />

<strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s de cognição e interações perceptivas. O sistema de redes em<br />

expansão da Internet altera as configurações sociais e culturais da sociedade. As<br />

janelas <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r oferecem vários níveis de material com acesso simultâneo<br />

e permitem que os usuários naveguem em várias direções e trabalhem em vários<br />

<strong>do</strong>cumentos, arquivos ou softwares, além de poderem interagir com as informações,<br />

reagin<strong>do</strong> a elas.<br />

Na cultura da interface e da simulação, as identificações são processadas na interação<br />

com a máquina. Da mesma maneira que a cultura da interface fragmentada<br />

em janelas torna-se uma metáfora para pensar <strong>no</strong> eu como um sistema múltiplo e<br />

heterogêneo, o computa<strong>do</strong>r simboliza a condição contemporânea:<br />

INtRODuçãO | 3

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