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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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análise <strong>do</strong>s procedimentos de espacialização enunciativas e enuncivas praticadas<br />

pelo enuncia<strong>do</strong>r.<br />

Comprovada a temporalização das ações por <strong>meio</strong> da linguagem, a busca pelas<br />

estratégias de discursivização <strong>do</strong> tempo <strong>no</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> deve, impreterivelmente,<br />

passar por uma análise <strong>do</strong>s mecanismos lingüísticos que estabelecem<br />

uma narrativa baseada em uma cro<strong>no</strong>logia imposta pelo formato <strong>do</strong> diário virtual,<br />

pois to<strong>do</strong>s os textos ‘posta<strong>do</strong>s’ são referencializa<strong>do</strong>s a partir de uma data, inserida<br />

<strong>no</strong> início de cada texto. Essa análise discursiva fornecerá elementos para refutar ou<br />

confirmar as teses a respeito <strong>do</strong> tempo e da memória na contemporaneidade.<br />

Para Benveniste, situar um acontecimento <strong>no</strong> tempo crônico é diferente de situá-lo<br />

<strong>no</strong> tempo da língua, ou seja, para ele, há um tempo específico da língua, que<br />

se distingue das outras <strong>no</strong>ções de tempo:<br />

O que o tempo lingüístico tem de singular é que ele é organicamente liga<strong>do</strong> ao exercício<br />

da fala, que ele se define e se ordena como função <strong>do</strong> discurso. Esse tempo tem<br />

seu centro – um centro, ao mesmo tempo, gera<strong>do</strong>r e axial – <strong>no</strong> presente da instância<br />

da fala. (Benveniste, 1974: 73)<br />

A temporalidade lingüística é produzida na e pela enunciação. O discurso instaura<br />

um agora, momento da enunciação. Em contraposição ao agora, cria-se um<br />

então. Esse agora é o fundamento das oposições temporais da língua.<br />

Segun<strong>do</strong> Fiorin, o tempo presente indica a contemporaneidade entre o evento<br />

narra<strong>do</strong> e o momento da narração (o agora é reinventa<strong>do</strong> cada vez que o enuncia<strong>do</strong>r<br />

enuncia). O eixo ordena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> tempo é sempre o momento da enunciação, um<br />

agora a partir <strong>do</strong> qual se organizam um sistema enunciativo, concomitante (marco<br />

referencial presente) e um sistema enuncivo não concomitante que, por sua vez, se<br />

organiza em anterioridade (marco referencial pretérito) VS. Posterioridade (marco<br />

referencial futuro). A anterioridade <strong>do</strong> acontecimento em relação ao discurso deve<br />

ser evocada pela memória e a posterioridade corresponde à expectativa.<br />

Fiorin também ressalta que a temporalidade <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r é aceita como sua<br />

pelo enunciatário, ou seja, o agora <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r é o agora <strong>do</strong> enunciatário. Segun<strong>do</strong><br />

ele, o tempo lingüístico comporta suas próprias divisões, sua própria ordem,<br />

independentemente <strong>do</strong> tempo crônico, o que acarreta um problema que surge<br />

quan<strong>do</strong> a recepção é simultânea à produção (ex: carta). Nesse caso, a compreensão<br />

<strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong> depende de ancoragem numa divisão <strong>do</strong> tempo crônico para poder se<br />

tornar inteligível: datas <strong>do</strong>s posts, por exemplo.<br />

Além de ser ordena<strong>do</strong> em relação ao momento de enunciação, outras importantes<br />

especificidades <strong>do</strong> tempo lingüístico são as <strong>no</strong>ções de ordem, duração e direção,<br />

ou seja, ele está relaciona<strong>do</strong> à ordenação <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s e transformações narradas <strong>no</strong><br />

texto. Na língua existem, portanto, <strong>do</strong>is sistemas temporais: um sistema temporal<br />

lingüístico ordena<strong>do</strong> em relação a marcos temporais instala<strong>do</strong>s <strong>no</strong> enuncia<strong>do</strong> (sistema<br />

enuncivo) e outro sistema temporal organiza<strong>do</strong> em função <strong>do</strong> presente implícito<br />

da enunciação (sistema enunciativo).<br />

O sistema enunciativo presume uma concomitância entre o momento da enunciação<br />

(ME) e o momento de referência (MR) instala<strong>do</strong> <strong>no</strong> enuncia<strong>do</strong>. No sistema<br />

enuncivo, esta concomitância não está presente, poden<strong>do</strong> o momento de referência<br />

(MR) ser anterior, ou seja, pretérito, ao momento de enunciação (ME) ou posterior<br />

a ele, corresponden<strong>do</strong> a um futuro.<br />

Assim, trechos seleciona<strong>do</strong>s de diários virtuais <strong>íntimos</strong> são aborda<strong>do</strong>s sob a temática<br />

da temporalidade e da memória, busca<strong>do</strong> observar os seus mecanismos de<br />

148 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL

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