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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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Tais trechos são pre<strong>do</strong>minantemente temáticos. O rompimento da isotopia abstrata<br />

e temática efetua-se a partir de elementos figurativos como pele e relógio. Se<br />

o tempo passa<strong>do</strong> é tematiza<strong>do</strong> como um tempo solitário e figurativiza<strong>do</strong> por <strong>meio</strong><br />

de elementos dessa solidão, como vento e relógio, o tempo presente foi transforma<strong>do</strong><br />

e aparece como o tempo da conjunção com um par amoroso, figurativiza<strong>do</strong><br />

alegoricamente por olhos <strong>no</strong>s olhos, pele na pele. Esse conjunto de figuras de média<br />

densidade sêmica, varian<strong>do</strong> entre a iconização e a simbolização, passan<strong>do</strong> pela alegoria<br />

é tematiza<strong>do</strong> como o tempo da união carnal valorizada a partir de um espaço<br />

comum aos amantes.<br />

Aos processos de colocação <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r em determina<strong>do</strong> tempo seguem-se<br />

os processos de instauração <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r em da<strong>do</strong> espaço, não como uma sintaxe<br />

espacial, mas em busca de uma ambientação que referencia figurativamente a<br />

pluridimensionalidade <strong>do</strong> espaço, seguin<strong>do</strong> a mesma ordem sucessiva <strong>do</strong> tempo e<br />

comprovan<strong>do</strong> a interdependência tempo-espaço. Assim, o espaço <strong>do</strong> tempo passa<strong>do</strong><br />

é topicaliza<strong>do</strong> como aquele <strong>do</strong> afastamento entre o enuncia<strong>do</strong>r e o ponto de<br />

referência outro. O espaço <strong>do</strong> tempo presente, que surge por <strong>meio</strong> de figuras como<br />

pele na pele, é um espaço da proximidade entre ambos, ou seja, um espaço tópico e<br />

enuncivo, que determina uma posição em relação a um ponto de referência. A visão<br />

de proximidade demarcada pelas preposições em e contra sugere o contato físico<br />

entre o objeto e o ponto de referência, enquanto de longe, em Palavras que o vento<br />

traz de longe chegam mornas e insossas, de<strong>no</strong>ta uma distância entre ambos. Embora<br />

as temporalizações sejam pre<strong>do</strong>minantemente enunciativas, os fatos se passam, <strong>no</strong><br />

entanto, na localização enunciva, ou seja, o enuncia<strong>do</strong>r instala <strong>no</strong> enuncia<strong>do</strong> os<br />

espaços enuncivos onde vão-se dar os acontecimentos, ressaltan<strong>do</strong> as variações de<br />

distâncias e as ocupações <strong>no</strong> espaço enuncivo. Assim, não há qualquer menção ao<br />

espaço enunciativo a partir <strong>do</strong> qual ocorre o ato da fala, mas apenas mecanismos de<br />

espacialização que delimitam o espaço <strong>do</strong>s acontecimentos.<br />

No pla<strong>no</strong> espacial e temporal <strong>do</strong>s acontecimentos, é valorizada euforicamente a<br />

conjunção carnal amorosa <strong>no</strong> tempo presente. O amor só pode se concretizar pela<br />

presença física de ambos os amantes e pelo olhar. A intimidade recíproca está impossibilitada<br />

na comunicação que suprime a presença física, como a mediada pelo<br />

telefone ou pelo computa<strong>do</strong>r.<br />

Muniz Sodré debruça-se sobre o fenôme<strong>no</strong> <strong>do</strong> olhar para abordar a questão <strong>do</strong><br />

simulacro e <strong>do</strong> duplo de si mesmo. Aproxima<strong>do</strong> seu poder àquele <strong>do</strong> órgão sexual, o<br />

olhar é capaz de evocar sentimentos de terror, mistério e amor, mas, principalmente,<br />

o olhar fornece o caminho de fusão com o outro e permite o reconhecimento <strong>do</strong><br />

corpo como distinto, a integração <strong>do</strong> eu pelo reconhecimento de sua imagem.<br />

A relação entre amantes, por exemplo, é a ocasião na qual o olhar permite que,<br />

além de amar a si mesmo, o sujeito possa ser social e, portanto, realizar a troca com<br />

o outro, experimenta<strong>do</strong> como diferença. O esta<strong>do</strong> de paixão evoca uma relação em<br />

espelho, na qual “cada um <strong>do</strong>s parceiros extrai <strong>do</strong> outro a si mesmo, ou melhor, a<br />

imagem de si mesmo” (Sodré, 1990:13). Pelos mecanismos imaginários de comércio<br />

de identidades, <strong>no</strong> esta<strong>do</strong> amoroso, o objeto ama<strong>do</strong> toma o lugar de ideal de eu,<br />

instância resultante <strong>do</strong> narcisismo e da identificação com os pais.<br />

A partir <strong>do</strong> Renascimento, a subjetivação <strong>do</strong> homem moder<strong>no</strong> ocorre a partir da<br />

identificação com dispositivos técnicos e estéticos como o livro, o teatro e a pintura,<br />

que “possibilitam o aparecimento <strong>do</strong> ponto de vista particular, imóvel, fixo, que<br />

outorga ao olho <strong>do</strong> sujeito da observação um <strong>do</strong>mínio sem precedentes” (Sodré,<br />

1990: 18). A experiência individual substitui a tradição coletiva, o eu conquista<br />

sua auto<strong>no</strong>mia (psicológica, filosófica, econômica) liberta<strong>do</strong>ra: “o indivíduo apren-<br />

154 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL

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