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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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to semântico é justamente exigi<strong>do</strong> pela descontextualização espacial e temporal. No<br />

entanto, o universal da cibercultura não se articula sobre o fechamento semântico<br />

da descontextualização e não se totaliza, pois a interconexão geral entre os usuários<br />

não permite o fechamento semântico.<br />

O ciberespaço se constrói em sistema de sistemas, mas, por esse mesmo fato, é também<br />

o sistema <strong>do</strong> caos. Encarnação máxima da transparência técnica, acolhe, por seu<br />

crescimento inconti<strong>do</strong>, todas as opacidades <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>. Desenha e redesenha várias<br />

vezes a figura de um labirinto móvel, em expansão, sem pla<strong>no</strong> possível, universal, um<br />

labirinto com qual o próprio Dédalo não teria sonha<strong>do</strong>. Essa universalidade desprovida<br />

de significa<strong>do</strong> central, esse sistema da desordem, essa transparência labiríntica,<br />

chamo-a de “universal sem totalidade”. Constitui a essência para<strong>do</strong>xal da cibercultura.<br />

(Lévy, 2000: 111)<br />

Devi<strong>do</strong> a esse princípio de aparência desorganizada da interconexão (Lévy 2000:<br />

118), o senti<strong>do</strong> global da cibercultura é difícil de <strong>do</strong>minar, de circunscrever, de<br />

fechar. Não há senti<strong>do</strong> geral, que possa ser interpreta<strong>do</strong> por várias pessoas em locais<br />

e tempos diferentes, como acontecia com a escrita. O senti<strong>do</strong> não “se fecha”, isto é,<br />

não há conclusão semântica válida para to<strong>do</strong>s os internautas. Desta maneira, Lévy<br />

defende que, quanto mais universal (extenso, interconecta<strong>do</strong>, interativo), me<strong>no</strong>s<br />

totalizável.<br />

Para Lévy, a cibercultura dissolve a pragmática da reunião entre a universalidade<br />

e a totalidade que pre<strong>do</strong>minava desde a invenção da escrita. A cibercultura, de certo<br />

mo<strong>do</strong>, promoveria uma volta às condições das culturas orais, na qual não havia um<br />

senti<strong>do</strong> fecha<strong>do</strong>, estrito, das mensagens emitidas.<br />

Abordadas as características da virtualização e <strong>do</strong> ambiente hipertextual, é importante<br />

relativizar algumas previsões a respeito das conseqüências da digitalização<br />

das informações para a emergência de uma revolução da ordem textual, bem como<br />

outras <strong>no</strong>ções que enfatizam as i<strong>no</strong>vações tec<strong>no</strong>lógicas como fonte única de rupturas<br />

nas ordens discursiva e autoral.<br />

Não se pretende, dessa maneira, negar a importância da digitalização das informações<br />

para a sociedade, nem a influência <strong>do</strong> suporte para a interpretação e leitura<br />

<strong>do</strong>s textos. Porém, a finalidade se resume a enfrentar algumas profecias a respeito<br />

das maravilhas da tec<strong>no</strong>logia com olhos críticos, sem ter que obrigatoriamente concordar<br />

com tu<strong>do</strong> que se afirma sobre um <strong>no</strong>vo mun<strong>do</strong> que se descortina por trás <strong>do</strong><br />

hipertexto, como a proposição de que autoria e leitura se confundem. O hipertexto<br />

constitui uma grande <strong>no</strong>vidade e implica conseqüências relevantes, mas é importante<br />

interpretá-las criticamente.<br />

Ou seja, não se trata de refutar a tese de Chartier (2002) de que o suporte influencia<br />

na compreensão que o leitor tem <strong>do</strong> texto e de que <strong>no</strong> hipertexto perde-se<br />

a vinculação natural entre o texto e seu suporte, já que os textos passam a serem<br />

li<strong>do</strong>s na mesma plataforma e nas mesmas formas. Concorda-se também com Maingueneau<br />

(2004) quan<strong>do</strong> ele afirma que as transformações revolucionam a natureza<br />

<strong>do</strong>s textos e seu mo<strong>do</strong> de consumo e que o mídium (sic) modifica o conjunto de um<br />

gênero de discurso.<br />

No entanto, trata-se de rever algumas idéias que elevam a disseminação desenfreada<br />

de informação a um patamar de indício democrático. Afirmar que a Internet<br />

é capaz de promover a democracia e facilitar o acesso à informação equivale a<br />

assegurar, sem questionamento, que o simples fato de instalar equipamentos de<br />

informática nas escolas gera um aumento <strong>no</strong> nível de aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>s alu<strong>no</strong>s e<br />

64 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL

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