Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP
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Segun<strong>do</strong> o autor, a ideologia pode ser explicada pela formulação de três hipóteses.<br />
A primeira delas sustenta que a ideologia representa a relação imaginária <strong>do</strong>s<br />
indivíduos com suas reais condições de existência, ou seja, é por <strong>meio</strong> <strong>do</strong> imaginário<br />
que o homem atua e se relaciona com as condições reais de vida. A segunda determina<br />
que a ideologia tem uma existência porque existe sempre um aparelho e é<br />
somente <strong>no</strong> aparelho ideológico material que se pode se materializar as idéias de um<br />
sujeito. Assim, “a existência da ideologia é, portanto, material, porque as relações<br />
vividas, nela representadas, envolvem a participação individual em determinadas<br />
práticas e rituais <strong>no</strong> interior de aparelhos ideológicos concretos” (Brandão, 1991:<br />
23). A terceira postula que a ideologia interpela indivíduos como sujeitos, isto é, a<br />
ideologia seria responsável por constituir indivíduos concretos em sujeitos.<br />
Distancian<strong>do</strong>-se de uma concepção de ideologia diretamente relacionada à<br />
classe social, segun<strong>do</strong> Brandão, “Ricoeur (1977) atribui à ideologia a função geral<br />
de media<strong>do</strong>ra de integração social, na coesão <strong>do</strong> grupo”. Este caráter media<strong>do</strong>r se<br />
dá por <strong>meio</strong> da perpetuação, pela ideologia, de um ato funda<strong>do</strong>r inicial, responsável<br />
por manter o grupo coeso, em tor<strong>no</strong> de uma memória social que os permite<br />
representarem-se. Também, a ideologia é dinâmica e motiva<strong>do</strong>ra da práxis social,<br />
além de ser simplifica<strong>do</strong>ra e esquemática. A ideologia é marcada por um estatuto<br />
nãoreflexivo e nãotransparente, por ser operatória e nãotemática. Seu caráter esquematiza<strong>do</strong>r<br />
estreita as possibilidades de interpretação <strong>do</strong>s acontecimentos, pois a<br />
ideologia resiste às modificações e “recebe o <strong>no</strong>vo como típico”.<br />
Quan<strong>do</strong> o caráter de <strong>do</strong>minação da ideologia encontra o caráter de integração,<br />
o conceito de ideologia oscila entre <strong>do</strong>is pólos e afeta diretamente a maneira de<br />
pensar a relação entre linguagem e ideologia. Da concepção marxista advém “a<br />
existência de um discurso ideológico que, utilizan<strong>do</strong>-se de várias ma<strong>no</strong>bras, serve<br />
para legitimar o poder de uma classe ou grupo social. Da visão de Ricoeur, segun<strong>do</strong><br />
Brandão, a ideologia é definida historicamente, acarretan<strong>do</strong>:<br />
Uma compreensão <strong>do</strong>s fenôme<strong>no</strong>s de linguagem e ideologia como <strong>no</strong>ções estreitamente<br />
veiculadas e mutuamente necessárias, uma vez que a primeira é uma das<br />
instâncias mais significativas em que a segunda se materializa. Nesse senti<strong>do</strong>, não há<br />
discurso ideológico, mas to<strong>do</strong>s os discursos o são (Brandão, 1991: 27).<br />
A ideologia, nesse caso, é inerente ao sig<strong>no</strong> e o discurso é uma das instâncias em<br />
que a materialidade ideológica se concretiza, isto é, é um <strong>do</strong>s aspectos materiais da<br />
“existência material” das ideologias. Os posicionamentos ideológicos estão, assim<br />
estritamente liga<strong>do</strong>s à formações discursivas.<br />
A análise de discurso de linha francesa a<strong>do</strong>ta o conceito de discurso formula<strong>do</strong><br />
por Foucault, filósofo francês que trata o discurso como prática, jogo estratégico e<br />
polêmico e espaço em que saber e poder se articulam rompen<strong>do</strong> com as concepções<br />
clássicas <strong>do</strong> termo poder. Foucault concebe os discursos em termos de dispersão<br />
“isto é, como sen<strong>do</strong> forma<strong>do</strong>s por elementos que não estão liga<strong>do</strong>s por nenhum<br />
princípio de unidade”, rompen<strong>do</strong> com as idéias cristalizadas a respeito desse termo<br />
(Brandão, 1991: 28).<br />
A ordem <strong>do</strong> discurso, nesse caso, se dá juntamente à Análise <strong>do</strong> Discurso, que<br />
deve ordenar essa dispersão, buscan<strong>do</strong> estabelecer regras da formação <strong>do</strong>s discursos.<br />
Os princípios e procedimentos que regem a produção discursiva, ou seja, os<br />
mo<strong>do</strong>s de produção <strong>do</strong> discurso, não estão fora <strong>do</strong> próprio discurso.<br />
Foucault também especifica os princípios de análise <strong>do</strong> discurso, que deve ser<br />
visto como acontecimento, em detrimento de criação. Buscan<strong>do</strong> as séries e descon-<br />
44 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL