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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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As percepções corporais são externalizadas pelos sistemas de comunicação, os<br />

dispositivos comunicacionais virtualizam os senti<strong>do</strong>s. Numa espécie de reviravolta,<br />

os sistemas médicos virtualizam o corpo: “pela tele-presença e pelos sistemas de<br />

comunicação, os corpos visíveis, audíveis e sensíveis se multiplicam e se dispersam<br />

<strong>no</strong> seu exterior” (Lévy, 1996: 30). O corpo agora pode ser segmenta<strong>do</strong> em inúmeras<br />

partes sem deixar de viver.<br />

Virtualiza<strong>do</strong>, o corpo deixa de ser o representante supremo de uma identidade<br />

pessoal. A identidade clássica, baseada na presença <strong>do</strong> corpo físico é corrompida<br />

pelos processos de virtualização, que transformam o corpo em imagem virtual, em<br />

uma tele-presença:<br />

A virtualização, passagem à problemática, deslocamento <strong>do</strong> ser para a questão, é algo<br />

que necessariamente põe em causa a identidade clássica, pensamento apoia<strong>do</strong> em definições,<br />

determinações, exclusões, inclusões e terceiros excluí<strong>do</strong>s (Lévy, 1996: 25).<br />

A Realidade Virtual é o fenôme<strong>no</strong> mais apropria<strong>do</strong> para demonstrar a virtualização<br />

<strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s corporais. São ambientes programa<strong>do</strong>s para obter informações<br />

que sejam inteligíveis à vida humana e determinam outra forma de pensar, sentir,<br />

conhecer e experimentar o mun<strong>do</strong>, como resposta a uma necessidade de viver ambientes<br />

que não podem ser capta<strong>do</strong>s pela <strong>no</strong>ssa percepção.<br />

Para Lévy, a escrita é uma tec<strong>no</strong>logia intelectual e atua como uma virtualização<br />

da memória, tec<strong>no</strong>logia cognitiva. De um pólo <strong>do</strong> manifesto, a memória atual se<br />

virtualiza, se artificializa, se exterioriza em direção a um pólo <strong>do</strong> latente, onde se<br />

transforma em uma problemática de discurso, a ser interpretada pela leitura, em<br />

<strong>contexto</strong> diferencia<strong>do</strong> daquele de origem:<br />

Virtualizante, a escrita dessincroniza e deslocaliza. Ela fez surgir um dispositivo de<br />

comunicação <strong>no</strong> qual as mensagens muito freqüentemente estão separadas <strong>no</strong> tempo<br />

e <strong>no</strong> espaço de sua fonte de emissão, e, portanto são recebidas fora de <strong>contexto</strong><br />

(Lévy, 1996: 38).<br />

Virtualização não é desrealização, mas mutação de identidade. Ela fluidifica as<br />

distinções instituídas, aumenta os graus de liberdade; é o desprendimento <strong>do</strong> aqui<br />

e <strong>do</strong> agora. A digitalização <strong>do</strong> texto não equivale a uma virtualização, como seria comum<br />

pensar. Ela corresponde ao nível das substâncias, e não <strong>do</strong>s acontecimentos,<br />

como são a leitura e a escrita. O texto pode ser possível ou real, mas nunca virtual<br />

ou atual. O armazenamento em memória digital é uma potencialização, a exibição<br />

é uma realização:<br />

O suporte digital (disquete, disco rígi<strong>do</strong>, disco ótico) não contém um texto legível por<br />

huma<strong>no</strong>s, mas uma série de códigos informáticos que serão eventualmente traduzi<strong>do</strong>s<br />

por um computa<strong>do</strong>r em sinais alfabéticos para um dispositivo de apresentação.<br />

A tela apresenta-se então como uma pequena janela a partir da qual o leitor explora<br />

uma reserva potencial. (Lévy, 1996: 39).<br />

O efeito da interação <strong>do</strong> usuário faz com que alguns <strong>do</strong>s textos potenciais apareçam,<br />

em forma de imagem, para os olhos dele. No entanto, esses textos não são<br />

virtuais, mas digitais, potenciais. Só se tornam virtuais por <strong>meio</strong> das interpretações<br />

geradas pelos leitores que relocalizam seu senti<strong>do</strong> em outro <strong>contexto</strong> espacial e<br />

temporal:<br />

26 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL

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