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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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sua história particular, um lugar que é especificamente seu: cada sujeito é assujeita<strong>do</strong><br />

<strong>no</strong> universal como singular ‘insubstituível’” (Brandão, 1991: 65).<br />

Feita a ressalva, a terceira fase da Análise <strong>do</strong> Discurso, <strong>no</strong> entanto, opera com<br />

a desconstrução da idéia de assujeitamento e da <strong>no</strong>ção de maquinaria discursiva<br />

fechada, levan<strong>do</strong> ao aban<strong>do</strong><strong>no</strong> de uma homogeneidade atribuída à <strong>no</strong>ção de condições<br />

de produção <strong>do</strong> discurso e reconhecen<strong>do</strong> a desestabilidade das garantias<br />

sócio-históricas. É nessa fase que se pode falar na <strong>no</strong>ção de enunciação e heterogeneidade<br />

enunciativa.<br />

Também é na terceira fase dessa teoria que os objetos analisa<strong>do</strong>s sob sua perspectiva<br />

saem <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio institucional, ou seja, admite-se uma pluralidade maior com<br />

relação aos tipos de objeto. Os discursos <strong>do</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> não podem ser<br />

aproxima<strong>do</strong>s de um conjunto de enuncia<strong>do</strong>s circunscritos sócio-historicamente que<br />

presumem uma identidade enunciativa, como se pode dizer a respeito <strong>do</strong> discurso<br />

político ou religioso, por exemplo. Esses enuncia<strong>do</strong>s marca<strong>do</strong>s por uma identidade<br />

estão liga<strong>do</strong>s a posicionamentos de ordem ideológica, estritamente, o que não se<br />

pode afirmar sobre o discurso de si <strong>no</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong>, que se aproximam<br />

mais <strong>do</strong> publicitário.<br />

A<strong>do</strong>ta-se assim uma concepção interdiscursiva de formação discursiva, pela qual<br />

uma formação discursiva apenas se constitui e se mantém pelo interdiscurso, permitin<strong>do</strong><br />

abordar alguns corpora não <strong>do</strong>utrinais, como o discurso de si <strong>no</strong> hipertexto.<br />

O recuo em relação a essa <strong>no</strong>ção de espaço <strong>discursivo</strong> que se supõe <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> por<br />

condições de produção estáveis e homogêneas favorece a busca <strong>do</strong>s mecanismos de<br />

construção de senti<strong>do</strong> <strong>no</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong>. Longe de uma visão instrumentalista<br />

de linguagem, não se busca desvendar a universalidade de um senti<strong>do</strong>, mas mostrar<br />

o jogo imposto de rarefação e delimitação <strong>do</strong>s discursos. Esta visão, ao desvalorizar a<br />

monarquia de um significante, restitui ao discurso seu caráter de acontecimento.<br />

Este estu<strong>do</strong> defende que, apesar da liberdade expressiva possibilitada pelo <strong>meio</strong><br />

on-line, os sujeitos que por <strong>meio</strong> dele se manifestam não deixam de ser coagi<strong>do</strong>s<br />

justamente pelo formato e características inerentes a esse <strong>meio</strong> e também, em<br />

segun<strong>do</strong> pla<strong>no</strong>, mas não me<strong>no</strong>s importante, pelas coerções de gênero <strong>do</strong>s diários<br />

virtuais <strong>íntimos</strong>.<br />

Se, para Foucault (1996: 8-9), “em toda sociedade a produção <strong>do</strong> discurso é ao<br />

mesmo tempo distribuída, selecionada, organizada e redistribuída por certo número<br />

de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, <strong>do</strong>minar seu<br />

acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e terrível materialidade”, é incoerente<br />

tentar esquivar os textos materializa<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s hipertextos dessas delimitações sociais<br />

<strong>do</strong> discurso.<br />

Embora impere uma suposta liberdade <strong>no</strong>s textos materializa<strong>do</strong>s na Internet, os<br />

procedimentos de controle e delimitação <strong>do</strong>s discursos não deixam de intervir <strong>no</strong>s<br />

relatos de si hipertextuais. Mais que isso. Essas narrativas se desenvolvem a partir<br />

desses procedimentos de interdição e separação, que transportam as articulações<br />

das relações de poder <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> off-line. São relações de poder transpostas para<br />

o mun<strong>do</strong> on-line, que, portanto, trazem consigo as coerções das formações discursivas.<br />

São transpostas, mas são regidas segun<strong>do</strong> <strong>no</strong>rmas diferenciadas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

‘real’, pois o contrato fiduciário entre enuncia<strong>do</strong>r e enunciatário é regi<strong>do</strong> pelo caráter<br />

público das informações disponíveis na rede, em contraposição à manutenção<br />

<strong>do</strong> segre<strong>do</strong>, propriedade <strong>do</strong>s diários tradicionais. Também este contrato presume a<br />

ocultação da identidade <strong>do</strong> sujeito em sua vida real.<br />

Assim, embora se beneficie da liberdade na rede, o discurso <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r não<br />

deixa de ser transpassa<strong>do</strong> por interditos (palavra proibida), separa<strong>do</strong> e rejeita<strong>do</strong><br />

48 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL

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