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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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polifonia presente <strong>no</strong>s discursos se efetiva em <strong>do</strong>is pla<strong>no</strong>s distintos: o da heterogeneidade<br />

mostrada e o da heterogeneidade constitutiva.<br />

A leitura que Authier-Revuz faz de Bakhtin, articulan<strong>do</strong> o conceito de dialogismo<br />

como o seu (dela) de heterogeneidade constitutiva da linguagem, <strong>no</strong>s leva a ver que,<br />

segun<strong>do</strong> essa perspectiva, o conceito de subjetividade não pode estar centra<strong>do</strong> em<br />

um Ego enquanto entidade única e fonte to<strong>do</strong>-poderosa de sua palavra, mas num<br />

sujeito que se cinde porque átomo, partícula de um corpo histórico-social <strong>no</strong> qual<br />

interage com outros discursos de que se apossa ou diante <strong>do</strong>s quais se posiciona (ou<br />

é posiciona<strong>do</strong>) para construir sua fala (Brandão, 1991: 54).<br />

As <strong>no</strong>ções de heterogeneidade constitutiva e heterogeneidade mostrada também<br />

podem ser empregadas com a finalidade de demonstrar a presença <strong>do</strong> outro <strong>no</strong>s<br />

enuncia<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong>. Destaca<strong>do</strong> o caráter essencialmente dialógico<br />

de to<strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong> <strong>do</strong> discurso, a heterogeneidade <strong>no</strong> discurso é a forma mais<br />

comum de alteridade.<br />

A heterogeneidade mostrada ocorre quan<strong>do</strong> “formas, lingüisticamente detectáveis<br />

<strong>no</strong> nível da frase ou <strong>do</strong> discurso, inscrevem, em sua linearidade, o outro”<br />

(Authier-Revuz, 1990: 12). Para a autora, a heterogeneidade mostrada não é a<br />

revelação (nem parcial) da heterogeneidade constitutiva, e sim uma tentativa <strong>do</strong><br />

sujeito de se individualizar, e/ou singularizar seu discurso. É o caso <strong>do</strong> discurso relata<strong>do</strong><br />

(direto e indireto), das aspas, <strong>do</strong> itálico e <strong>do</strong> metadiscurso <strong>do</strong> locutor (conjunto<br />

de expressões, glosas, retoques, comentários).<br />

Formas mais complexas em que a presença <strong>do</strong> outro não é explicitada por marcas<br />

unívocas na frase são de<strong>no</strong>minadas de heterogeneidade constitutiva – que não<br />

revela o outro, porque é concebida <strong>no</strong> nível <strong>do</strong> interdiscurso e <strong>do</strong> inconsciente –,<br />

referin<strong>do</strong>-se ao funcionamento real <strong>do</strong> discurso, enquanto a heterogeneidade mostrada<br />

diz respeito à voz <strong>do</strong> outro inscrita <strong>no</strong> discurso:<br />

É o caso <strong>do</strong> discurso indireto livre, da ironia, da antífrase, da alusão, da imitação, da<br />

reminiscência em que se joga com o outro discurso (às vezes, tornan<strong>do</strong>-o mais vivo)<br />

não mais <strong>no</strong> nível da transparência, <strong>do</strong> explicitamente mostra<strong>do</strong> ou dito, mas <strong>no</strong><br />

espaço <strong>do</strong> implícito, <strong>do</strong> semidesvela<strong>do</strong>, <strong>do</strong> sugeri<strong>do</strong> (Brandão, 1991: 50).<br />

Authier-Revuz (1990) distingue <strong>no</strong> conjunto das formas de heterogeneidade<br />

mostrada as formas marcadas (discurso direto, discurso indireto, aspas, itálico, incisos<br />

de glosa) e as formas não-marcadas em que o outro é da<strong>do</strong> a conhecer sem<br />

uma marca unívoca (discurso indireto livre, pastiche, imitação, jogos de palavras).<br />

Os discursos direto e indireto constituem formas bastante presentes <strong>no</strong>s diários<br />

virtuais <strong>íntimos</strong>:<br />

Sampa, 13º<br />

Esquina da Purpurina com a Fradique.<br />

Na rua, quase em frente a uma galeria de arte, um casalzinho discute aos berros.<br />

O cara aparentemente tenta se explicar e a moça não dá muita confiança ao que<br />

ele diz. Fala mais alto, o cara já não sabe o que fazer, eu também não saberia, a<br />

menina tava realmente puta e o cara só piorava a situação, falava pouco e falava<br />

merda. Foram subin<strong>do</strong> a rua e discutin<strong>do</strong>, o semáforo abriu e eu andei mais<br />

IDENtIFICAçõES E SuBjEtIVAçõES CONtEMPORâNEAS | 121

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