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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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da cena enunciativa. Esse momento também pode ser concomitante ao momento<br />

de referência, um hoje que ocorre num <strong>do</strong>mingo, dia 2 de <strong>no</strong>vembro de 2008,<br />

conforme pode ser observa<strong>do</strong> <strong>no</strong> trecho Agora nós estamos aqui <strong>no</strong> Beco trabalhan<strong>do</strong><br />

juntas, em que uma espacialização enunciativa determina um aqui dentro <strong>do</strong> espaço<br />

enunciativo <strong>do</strong> presente. A enunciatividade temporal é assim acompanhada<br />

pela pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> espaço lingüístico. A organização temporal e espacial enunciativa,<br />

em que os tempos <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong> simulam os tempos da enunciação, como<br />

se o ato de dizer fosse descrito sucessivamente, marca grande parte das cenas enunciativas<br />

<strong>do</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong>.<br />

Em termos de tempo e espaço, trata-se assim de uma debreagem enunciativa<br />

<strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> os acontecimentos são narra<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s tempos enunciativos,<br />

para criar um efeito de senti<strong>do</strong> de simultaneidade entre a narração e os eventos.<br />

Os fatos narra<strong>do</strong>s se passam, portanto, na localização enunciativa. A localização e<br />

a espacialização enunciativas, nesse caso, estão diretamente relacionadas ao nível<br />

de figurativização com alta densidade sêmica (sacolão, garrafa, suqim de laranja espremidim<br />

na hora e gatos), pois pertencem ao mun<strong>do</strong> natural contruí<strong>do</strong> como simulacro<br />

e representam o mun<strong>do</strong>. A isotopia figurativa de tempo e espaço é assumida<br />

pelo tema espacial e temporal <strong>do</strong> trabalho que correspondem a um agora e um aqui<br />

da enunciação e dão senti<strong>do</strong> a essas figuras, que formam uma rede de significação e<br />

instituem um percurso figurativo. Tanto o lugar quanto o tempo da enunciação são<br />

remeti<strong>do</strong>s diretamente ao local e ao tempo <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r, compõem o<br />

percurso figurativo da valorização <strong>do</strong> espaço e <strong>do</strong> tempo <strong>do</strong> trabalho.<br />

V.2 – O PúBLICO E O PRIVADO<br />

A compreensão da forma como os diários se inserem na atividade cotidiana na<br />

sociedade moderna depende de uma análise criteriosa da realidade histórica da<br />

privacidade, esta construída de diversas maneiras por sociedades determinadas. A<br />

articulação das esferas pública e privada sofreu metamorfoses tanto em sua forma,<br />

isto é, em sua realidade histórica, quanto em seu conteú<strong>do</strong>, ou seja, o que se entende<br />

pelas delimitações fronteiriças entre ambos. No entanto, a história da vida<br />

privada pode ser definida, inicialmente, como a história de sua definição.<br />

Sennett refaz a história <strong>do</strong>s conceitos público e priva<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong>s séculos na<br />

cultura ocidental. A idéia que se tem hoje de público como bem comum em contraposição<br />

ao priva<strong>do</strong>, que corresponde à esfera familiar, é originária <strong>do</strong> século XVII:<br />

Perto <strong>do</strong> século XVII a oposição entre “público” e “priva<strong>do</strong>” era matizada de mo<strong>do</strong><br />

mais semelhante ao de seu uso atual. “Público” significava aberto à observação de<br />

qualquer pessoa, enquanto “priva<strong>do</strong>” significava uma região protegida da vida, definida<br />

pela família e pelos amigos. (Sennett, 1988: 30)<br />

Esses senti<strong>do</strong>s básicos da dicotomia entre o público e o priva<strong>do</strong> estão na interpretação<br />

de público como um poder político institucionaliza<strong>do</strong>, liga<strong>do</strong> ao Esta<strong>do</strong> e<br />

na interpretação <strong>do</strong> priva<strong>do</strong> representa<strong>do</strong> pela sociedade civil, pelas relações pessoais,<br />

bem como às atividades econômicas. Assim, o público estava liga<strong>do</strong> a um<br />

caráter aberto, acessível às pessoas, e o priva<strong>do</strong>, àquilo que estaria fecha<strong>do</strong> a elas.<br />

O senti<strong>do</strong> de público como uma espécie de grupo especta<strong>do</strong>r amplia-se <strong>no</strong> início<br />

<strong>do</strong> século XVIII. O crescimento das capitais e o surgimento <strong>do</strong> homem cosmopolita<br />

redefinem o conceito de público, adicionan<strong>do</strong> a idéia de contato entre grupos muito<br />

diversos na sociedade. Na cidade, a rua representava o espaço público, <strong>do</strong> trabalho<br />

e da civilidade, enquanto a moradia remetia à esfera íntima.<br />

150 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL

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