Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP
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chora na cama, de quem usou o primeiro sutiã Du Loren, de quem não esquece<br />
os bolos da avó, <strong>do</strong> tempo e <strong>do</strong>s amores perdi<strong>do</strong>s, das <strong>no</strong>ites sem respirar, <strong>do</strong>s<br />
e-mails desespera<strong>do</strong>s, <strong>do</strong> cheiro de maçã verde. E é por essas e mais tantas,<br />
que estarei <strong>no</strong> lançamento deste livro da Fal pela editora Rocco, dia 9, na livraria<br />
Prefácio, Rio de Janeiro. Aproveitan<strong>do</strong> aqui para convidar to<strong>do</strong>s vocês.<br />
Há os elogios que engordam o eguinho, deixam a gente bestinha e<br />
mascaradinha. (“Mais mascarada??”, dirão alguns) Há os elogios que aquecem. A<br />
Maira aquece. Querida, querida, querida. Obrigada.<br />
Os diários virtuais <strong>íntimos</strong>, na busca de um estilo, incorporam algumas das<br />
propostas de Calvi<strong>no</strong> para a Literatura <strong>do</strong> próximo milênio, que buscam atingir “a<br />
literatura – quero dizer, aquela que responde a <strong>no</strong>ssas exigências – é a Terra Prometida<br />
em que a linguagem se torna aquilo que na verdade deveria ser” (Calvi<strong>no</strong>,<br />
1990:72).<br />
A primeira das propostas, a da leveza é algo que se cria <strong>no</strong> processo de escrever,<br />
uma gravidade sem peso que propõe uma relação particular entre melancolia e<br />
humor: “A melancolia é a tristeza que se tor<strong>no</strong>u leve, humor é o cómico que perdeu<br />
peso corpóreo... e põe em dúvida o eu e o mun<strong>do</strong>, com toda a rede de relações que<br />
o constituem” (Calvi<strong>no</strong>, 1990: 32). O objeto aqui trata<strong>do</strong> congrega para<strong>do</strong>xalmente<br />
a opacidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> como da<strong>do</strong> referencial com a leveza da linguagem em busca<br />
de uma precisão <strong>do</strong>tada de transparência por <strong>meio</strong> de uma alta capacidade de abstração<br />
e figurativização.<br />
Também a rapidez, não como velocidade física, mas como relação entre ela e a<br />
velocidade de pensamento e raciocínio, corresponde à eco<strong>no</strong>mia, ao ritmo e à lógica<br />
essencial da narração, apoian<strong>do</strong>-se <strong>no</strong> compartilhamento da continuidade e descontinuidade<br />
<strong>do</strong> tempo, conectan<strong>do</strong> post a post. Essa narração, por vez, empreende a<br />
força <strong>do</strong> processo imaginativo que transforma palavras em imagens, aproveitan<strong>do</strong> a<br />
capacidade de abstração que o texto escrito propicia, trabalhan<strong>do</strong> com o imaginário<br />
<strong>do</strong> leitor e evocan<strong>do</strong> a sua abstração pictórica, processo liga<strong>do</strong> à proposta da visibilidade,<br />
ordem literária em um mun<strong>do</strong> na Era da imagem visual.<br />
Da proposta subsequente da multiplicidade advém uma das potencialidades<br />
<strong>do</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> que concretiza a ideia de um “romance contemporâneo<br />
como enciclopédia, como méto<strong>do</strong> de conhecimento e, principalmente, como rede<br />
de conexões entre os fatos, entre as pessoas, entre as coisas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.” (Calvi<strong>no</strong>,<br />
1990: 121). A multiplicidade reproduz o potencial virtualizante <strong>do</strong> texto, pois<br />
quanto mais múltiplo, mas ele se desvincula de seu próprio senti<strong>do</strong>. Está aberta,<br />
portanto, a problemática da complexificação hipertextual <strong>do</strong> texto, um fluxo que<br />
se estabelece na leitura. Enfatizamos aqui a importância <strong>do</strong> termo potencial, uma<br />
vez que na rede, imigrantes analógicos e nativos digitais convivem, mas fazem usos<br />
diferentes das funcionalidades interativas. Quanto mais aberturas o autor confere<br />
ao texto, maior é o seu caráter nativo, mais múltiplo é o senti<strong>do</strong>, confian<strong>do</strong> ao leitor<br />
o percurso na espiral <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>.<br />
Seja o estilo como uma totalidade de um blog apenas, ou a totalidade de um grupo<br />
de blogs, é possível afirmar que o estilo <strong>do</strong>s blogs analisa<strong>do</strong>s se relaciona a um mo<strong>do</strong><br />
de enunciação característico da literatura feminina. Longe de reproduzir a idéia de<br />
que o objeto de estu<strong>do</strong> aqui trata<strong>do</strong> somente pode ser produzi<strong>do</strong> por mulheres, depreende-se<br />
que esse estilo é também um efeito de estilo, uma construção discursiva<br />
apoiada <strong>no</strong> imaginário da literatura desenvolvida pela autoria feminina. Também, não<br />
CONSIDERAçõES FINAIS | 181