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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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timos também proporcionam um instrumento de deliberação com o qual o autor pode<br />

acompanhar de perto uma tomada de decisão, com a ajuda <strong>do</strong>s leitores. Também o<br />

diário virtual íntimo faculta aos indivíduos a conservação da memória pela criação de<br />

um arquivo, embora virtual, das histórias de suas vidas, ten<strong>do</strong> a si mesmos como destinatários<br />

<strong>do</strong> futuro. Por último, mas não me<strong>no</strong>s importante, estimulam a integração<br />

em tor<strong>no</strong> de uma comunidade virtual, espaço de criação e participação coletiva.<br />

Tais empregabilidades <strong>do</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> somente efetivam-se devi<strong>do</strong><br />

às características <strong>do</strong> <strong>meio</strong> digital em que estão inseri<strong>do</strong>s. A presença <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r<br />

com acesso à Internet em grande parte das casas e a escrita <strong>do</strong> diário com um<br />

tecla<strong>do</strong>, antes manuscrito e tranca<strong>do</strong> a chave, transformaram o exercício de escrever<br />

diários. Antes, escritos a mão, em páginas de cader<strong>no</strong>s ou folhas avulsas nas quais<br />

se eternizavam as reflexões <strong>do</strong> indivíduo sobre sua vida pessoal, os diários refletiam<br />

a personalidade de seus autores. Escritas <strong>no</strong> computa<strong>do</strong>r, as teclas <strong>do</strong> tecla<strong>do</strong> adquirem<br />

um <strong>no</strong>vo significa<strong>do</strong> nas palavras escritas em uma página virtual, uma interface<br />

preenchida por <strong>no</strong>vos elementos, como cores, fotografias, enfim, uma capa diferente<br />

daquela <strong>do</strong> cader<strong>no</strong> de couro, modelo da imagem de um diário tradicional.<br />

Tais transformações <strong>no</strong>s mo<strong>do</strong>s de leitura e escrita exige uma concepção de gênero<br />

<strong>do</strong> discurso que considere propriedades como a legitimidade e o contrato das<br />

instâncias de comunicação. A análise <strong>do</strong> discurso não se contenta com uma tipologia<br />

puramente lingüística ou puramente situacional ou comunicacional para definir<br />

os gêneros <strong>do</strong> discurso, mas busca privilegiar as tipologias que associam propriedades<br />

lingüísticas e situacionais. Segun<strong>do</strong> o autor, para que possam ser bem sucedi<strong>do</strong>s<br />

como gênero <strong>do</strong> discurso, os enuncia<strong>do</strong>s devem ter sua legitimidade reconhecida, o<br />

estatuto <strong>do</strong>s parceiros, o lugar e o momento devem ser legítimos. Se “to<strong>do</strong> gênero <strong>do</strong><br />

discurso visa a um certo tipo de modificação da situação da qual participa” (Maingueneau,<br />

2004: 68), finalidade que se define ao se responder à questão implícita<br />

Estamos aqui para dizer ou fazer o quê?, enuncia<strong>do</strong>res e coenuncia<strong>do</strong>res devem reconhecer<br />

minimamente a finalidade à qual se destina aquela atividade enunciativa. O<br />

reconhecimento e a legitimidade <strong>do</strong> discurso a partir da parceria que se estabelece<br />

pela enunciação fornecem ao gênero <strong>do</strong> discurso um certo êxito, também influencia<strong>do</strong><br />

pela legitimidade <strong>do</strong> lugar e <strong>do</strong> momento da enunciação. A temporalidade de<br />

um gênero <strong>do</strong> discurso implica vários eixos, entre eles a periodicidade, a duração e<br />

continuidade de encadeamento e a duração de validade presumida.<br />

As <strong>no</strong>vas condições de produção possibilitadas pelo hipertexto revolucionam a<br />

natureza <strong>do</strong> texto autobiográfico, bem como seu mo<strong>do</strong> de consumo. Apesar de estar<br />

aporta<strong>do</strong> em um ambiente hipertextual, <strong>no</strong> qual as referências físicas e temporais se<br />

perdem, o diário virtual íntimo ainda institui um lugar e um momento legítimos que<br />

sustentam sua caracterização como um gênero <strong>do</strong> discurso. Esse lugar está marca<strong>do</strong>,<br />

essencialmente, pela interface e pelos seus elementos constituintes, integra<strong>do</strong>s<br />

de forma a delimitar um locus virtual, <strong>no</strong> qual a continuidade cro<strong>no</strong>lógica organiza<br />

textualmente se conteú<strong>do</strong>.<br />

As transformações digitais revolucionam a natureza <strong>do</strong>s textos e seu mo<strong>do</strong> de<br />

consumo. Para Maingueneau (2004: 71), “o mídium (sic) não é um simples <strong>meio</strong><br />

de transmissão <strong>do</strong> discurso, mas ele imprime um certo aspecto a seus conteú<strong>do</strong>s e<br />

comanda o uso que dele podemos fazer”. Isso equivale a dizer que o <strong>meio</strong> modifica<br />

o conjunto de um gênero de discurso:<br />

Na realidade, é necessário partir de um dispositivo comunicacional que integre logo<br />

de saída o mídium (sic). O mo<strong>do</strong> de transporte de recepção <strong>do</strong> anuncia<strong>do</strong> condiciona a<br />

própria constituição <strong>do</strong> texto, modela o gênero de discurso (Maingueneau, 2004: 72).<br />

PERCuRSOS DE SENtIDO NO LABIRINtO HIPERtEXtuAL | 75

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