Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP
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a o momento de referência esteja explícito na data <strong>do</strong> post, a marcação hoje indica<br />
um momento de referência mais longo que o momento de enunciação e, em algum<br />
momento, é simultâneo a ele. Trata-se, portanto, de um presente de continuidade.<br />
O hoje aqui não se refere apenas ao momento de referência, mas prolonga-se ao momento<br />
de acontecimento, como se o enuncia<strong>do</strong>r quisesse transparecer um esta<strong>do</strong><br />
de continuidade <strong>no</strong> presente, um hábito incentiva<strong>do</strong> <strong>no</strong> “hoje em dia”.<br />
O tempo lingüístico, gera<strong>do</strong> <strong>no</strong> discurso, marca essa cro<strong>no</strong>logia enunciativa. No<br />
entanto, as <strong>no</strong>ções de ordem (sucessividade e simultaneidade), duração e direção<br />
(retrospectiva e prospectiva) são dadas por marcas temporais instaladas <strong>no</strong> texto,<br />
como, <strong>no</strong> caso, hoje e <strong>no</strong> momento em que, que expressa relações de sucessividade<br />
entre esta<strong>do</strong>s e transformações representa<strong>do</strong>s <strong>no</strong> texto.<br />
Assim, a transformação de um esta<strong>do</strong> inicial de disjunção ao amor recíproco<br />
e outro final, em conjunção a um esta<strong>do</strong> de tranqüilidade e completude amorosa<br />
explica as sucessividades narrativas <strong>do</strong> post. A narratividade é um componente da<br />
teoria <strong>do</strong> discurso e não deve ser confundida com a narração “que constitui a classe<br />
de discurso em que esta<strong>do</strong>s e transformações estão liga<strong>do</strong>s a personagens individualiza<strong>do</strong>s”<br />
(Fiorin, 2006a).<br />
Então, quan<strong>do</strong> alguém especial morre, eu fico assim, reavalian<strong>do</strong> a minha vida e<br />
as minhas escolhas. Eu me pego pensan<strong>do</strong> com desdém <strong>no</strong> passa<strong>do</strong> e nas vezes<br />
em que me senti sabotada pelo tic-tac <strong>do</strong> relógio. Eu me lembro <strong>do</strong> que já foi e<br />
me alivio ao perceber não-arrependimentos, penso <strong>no</strong> que será e me orgulho de<br />
to<strong>do</strong>s os meus não-me<strong>do</strong>s. E a pergunta que não me sai da cabeça é: e se tu<strong>do</strong><br />
acabasse exatamente agora, teria vali<strong>do</strong> a pena?<br />
Essa ordenação passa<strong>do</strong> – presente é rompida <strong>no</strong> final <strong>do</strong> post, ainda de All made<br />
of stars. Um parágrafo situa<strong>do</strong> <strong>no</strong> presente da enunciação efetua uma espécie de<br />
balanço da vida <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r. Para marcar esse aspecto durativo iterativo, o enuncia<strong>do</strong>r<br />
postula uma situação hipotética, inicia<strong>do</strong> pelo advérbio quan<strong>do</strong>. Diante de<br />
um possível acontecimento trágico, o enuncia<strong>do</strong>r reavalia suas escolhas e atitudes<br />
feitas durante o tempo vivi<strong>do</strong>, presentifican<strong>do</strong>-o, para então opor a ele um futuro,<br />
indican<strong>do</strong> a possibilidade condicional da ocorrência de um esta<strong>do</strong> final, que pode<br />
ser representa<strong>do</strong> hipoteticamente pela morte <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r. Diante dessa possibilidade,<br />
o enuncia<strong>do</strong>r questiona a validade <strong>do</strong>s momentos e acontecimentos vivi<strong>do</strong>s,<br />
empregan<strong>do</strong> a forma passada <strong>do</strong> verbo valer com função de futuro <strong>do</strong> pretérito e<br />
sefeito de senti<strong>do</strong> de possibilidade.<br />
Teria.<br />
E isso é melhor <strong>do</strong> que qualquer outro sentimento que exista.<br />
18 changes of colours Post by Flavia Melissa em Saturday, August 02, 2008 as<br />
4:10 AM.<br />
Nos trechos anteriores de All Made of Stars, podem ser observadas debreagens<br />
enunciativas de tempo, ou seja, mecanismos de temporalização que conservam <strong>no</strong><br />
enuncia<strong>do</strong> as marcas da enunciação, e com as quais o enuncia<strong>do</strong>r coloca-se numa<br />
perspectiva de centralidade, como se pudesse manipular o tempo e presentificar o<br />
passa<strong>do</strong>.<br />
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