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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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A entrada <strong>do</strong> sujeito na ordem <strong>do</strong> discurso por <strong>meio</strong> da palavra não acarreta, <strong>no</strong><br />

entanto, uma perda ou ausência de singularidade, pois o conceito de lugar enunciativo<br />

se apóia em um “conceito de lugar cuja especificidade repousa sobre esse traço<br />

essencial segun<strong>do</strong> o qual cada um alcança sua identidade a partir e <strong>no</strong> interior de<br />

um sistema de lugares que o ultrapassa”. (Maingueneau, 1997: 33).<br />

O lugar <strong>discursivo</strong> é a chave para a compreensão da heterogeneidade discursiva<br />

<strong>no</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong>. Como lugar de enunciação, revela relações de poder e<br />

forças, legitima, representa, dá significação aos senti<strong>do</strong>s e os materializa nas práticas<br />

discursivas. A ce<strong>no</strong>grafia confere credibilidade e autoridade às enunciações:<br />

Para E. Lan<strong>do</strong>wski, ‘ce<strong>no</strong>grafia’ ou ‘<strong>contexto</strong> semiótico’ encontra-se <strong>no</strong> mesmo nível<br />

que a possibilidade de ‘formulações eficazes’ (os atos de fala) que conferem sua credibilidade<br />

às enunciações; delas fazem parte ‘o próprio enuncia<strong>do</strong>, certamente, mas<br />

também o mo<strong>do</strong> pelo qual o enuncia<strong>do</strong> se inscreve (gestualmente, proxemicamente<br />

etc.) <strong>no</strong> tempo e <strong>no</strong> espaço de seu interlocutor, bem como todas as determinações<br />

semânticas e sintáticas que contribuem para forjar ‘a imagem distinguida’ que os<br />

parceiros remetem ao outro <strong>no</strong> ato de comunicação’ (Maingueneau, 1997: 31).<br />

Assim, não se pode falar em lugares enunciativos sem aprofundar o caráter institucional<br />

da atividade discursiva e levar em conta o complexo institucional que está<br />

associa<strong>do</strong> à sua enunciação. As práticas discursivas de submissão da subjetividade<br />

são também práticas institucionais, o sujeito está funda<strong>do</strong> <strong>no</strong> discurso, mas também<br />

nas posições na ordem institucional. A ordem é descobrir como os sujeitos se<br />

reconhecem nessas relações, suas posições nas cenas que descrevem e que lugares<br />

ocupam. Enfim, como se reconhecem sujeitos em seus atos e em seus discursos.<br />

No entanto, como ainda falar em um sujeito singular, mas institucional, <strong>no</strong>s<br />

diários virtuais <strong>íntimos</strong>? A chave está <strong>no</strong> duplo horizonte da objetivação e da subjetivação.<br />

Só se pode falar em sujeito psíquico porque é também sujeito institucional.<br />

A subjetividade é constituída nas e constitutivas das relações concretas e, portanto,<br />

nas práticas discursivas.<br />

Articula<strong>do</strong> esse conceito, pode-se abstrair um sujeito ‘<strong>do</strong>bra<strong>do</strong>’ entre sua singularidade<br />

discursiva e sua dimensão institucional, subjuga<strong>do</strong> pelas relações de poder,<br />

mas também sujeito de si. É assim que se deve pensar <strong>no</strong> sujeito contemporâneo,<br />

dividi<strong>do</strong> entre as mil posições enunciativas e institucionais em que pode enquadrarse<br />

<strong>no</strong> ciberespaço e entre suas habilidades e capacidades individuais, sem que um<br />

exclua o outro.<br />

Assim, é possível falar em formações discursivas mesmo em corpora pouco marca<strong>do</strong>s<br />

por uma identidade, mas formações discursivas que se mantêm pelo interdiscurso.<br />

Essa abertura teórica também beneficia a abordagem da subjetividade, <strong>no</strong>ção<br />

primordial para o tema em questão. No entanto, como será aprofunda<strong>do</strong> adiante,<br />

esta não é uma subjetividade centrada <strong>no</strong> eu, mas na relação entre o eu e o outro.<br />

Objetiva<strong>do</strong>s pelas práticas discursivas, os sujeitos se inscrevem em formações<br />

discursivas determinadas. Subjetiva<strong>do</strong>s, marcam seu lugar por <strong>meio</strong> da enunciação<br />

e da heterogeneidade enunciativa. Por esta razão, para tratar de formações discursivas,<br />

faz-se necessário abordar a interação entre formações discursivas, pois a identidade<br />

<strong>do</strong> discurso se constrói na relação com o outro, esteja esse outro marca<strong>do</strong> ou<br />

não, lingüisticamente.<br />

Para finalizar a problemática da subjetividade e <strong>do</strong> descentramento <strong>do</strong> sujeito e<br />

introduzir as articulações entre as rupturas provocadas pelas mídias digitais ao texto<br />

autobiográfico e os mecanismos de operacionalização da Teoria da Enunciação e da<br />

uMA VISãO LINgüÍStICO-DISCuRSIVA | 51

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