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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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lha <strong>do</strong> léxico e seu uso revelam a presença de formações que se opõem e revelam<br />

a presença de diferentes discursos. Esses diferentes discursos expressam a posição<br />

de grupos de sujeitos acerca de um mesmo tema.<br />

A Análise <strong>do</strong> Discurso pode prover uma visão <strong>do</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> que fuja<br />

da desordem discursiva sem deixar de levar em conta as descontinuidades <strong>do</strong> discurso<br />

e <strong>do</strong> social. E é justamente essa capacidade para fornecer elementos teóricos que<br />

integram língua, discurso e sociedade que possibilita constituir os abalos <strong>discursivo</strong>s<br />

<strong>no</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> como uma desordem que pode ser ordenada ou reconstituída<br />

teoricamente pelos movimentos interpretativos da Análise <strong>do</strong> Discurso.<br />

Buscar uma sistematicidade descontínua nas materializações lingüísticas <strong>do</strong>s<br />

diários virtuais <strong>íntimos</strong> pode não ser fácil. Mas é possível justamente a partir das<br />

fundamentações teóricas da Análise <strong>do</strong> Discurso, que considera um sujeito não exclusivamente<br />

psicológico, autô<strong>no</strong>mo e singular, mas um sujeito intercepta<strong>do</strong> pelos<br />

embates sociais. No entanto, isso não significa ig<strong>no</strong>rar a subjetividade individual,<br />

pelo contrário. O diário virtual só existe e pode ser observa<strong>do</strong> analiticamente porque<br />

um indivíduo empírico se presta a discursar sobre o seu mun<strong>do</strong> em um ambiente<br />

hipertextual e público.<br />

De qualquer maneira, pode-se perguntar: Será que pelo fato de estarem materializa<strong>do</strong>s<br />

na Internet, os discursos produzi<strong>do</strong>s por esses indivíduos deixam de<br />

ser permea<strong>do</strong>s por instituições que restringem fortemente a enunciação? Qual a<br />

fundamentação ou importância histórica e social desses discursos? Eles delimitam<br />

um espaço próprio <strong>no</strong> exterior de um interdiscurso limita<strong>do</strong>?<br />

Apesar da aparência, os discursos proferi<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> não<br />

escapam das sujeições e formações discursivas. Logicamente, eles não possuem o<br />

mesmo estatuto <strong>do</strong>s discursos institucionaliza<strong>do</strong>s, como os discursos jurídico e religioso,<br />

poden<strong>do</strong> servir de exemplo para aqueles que criticam a Análise <strong>do</strong> Discurso<br />

por considerarem-na uma prática excessivamente restritiva. De fato, os discursos<br />

<strong>no</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> não possuem o mesmo estatuto desses discursos, poden<strong>do</strong><br />

se aproximar daquilo que Bakhtin (2006) de<strong>no</strong>mina “ideologia <strong>do</strong> cotidia<strong>no</strong>”,<br />

definida como a “totalidade da atividade mental centrada sob a vida cotidiana”,<br />

assim como a expressão a que a ela se liga em contraposição aos sistemas ideológicos<br />

constituí<strong>do</strong>s. No entanto, apesar disso, não se pode furtar <strong>do</strong>s diários virtuais<br />

<strong>íntimos</strong> uma análise discursiva que considere a ideologia constituinte <strong>do</strong> sig<strong>no</strong>. Já<br />

diria Bakhtin que toda palavra carrega uma carga ideológica.<br />

Os diários virtuais <strong>íntimos</strong> são constituí<strong>do</strong>s por textos escritos e fotos (o chama<strong>do</strong><br />

ico<strong>no</strong>texto, segun<strong>do</strong> Maingueneau). No entanto, seus enuncia<strong>do</strong>s podem ser<br />

aproxima<strong>do</strong>s <strong>do</strong> discurso oral, ou seja, da conversação cotidiana comum de propósitos<br />

comunicacionais, geralmente estudada pelo interacionismo psicológico e sociológico.<br />

Esses enuncia<strong>do</strong>s, geralmente não impressos, cujas estruturas são reguladas<br />

com flexibilidade por fatores heterogêneos, são usualmente enfoca<strong>do</strong>s sob a perspectiva<br />

da antropologia. Nesse caso, convém responder a outra pergunta: será que<br />

os mecanismos textuais <strong>do</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> correspondem exclusivamente à<br />

ordem <strong>do</strong> discurso oral não planeja<strong>do</strong>? Parte-se da hipótese negativa: embora sejam<br />

enuncia<strong>do</strong>s aparentemente desordena<strong>do</strong>s, sem quaisquer unidades consistentes e<br />

próximos <strong>do</strong> discurso oral, os enuncia<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> seguem um<br />

conjunto de regras anônimas que regulam a produção discursiva, constituin<strong>do</strong>-se,<br />

assim, como objetos pertinentes à compreensão por <strong>meio</strong> da Análise <strong>do</strong> Discurso.<br />

Portanto, mais adequada à análise de textos impressos, a Análise <strong>do</strong> Discurso<br />

configura-se como instrumento teórico e metódico primordial desta pesquisa, pois<br />

os diários virtuais estão mais próximos de um texto autobiográfico escrito por um<br />

42 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL

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