12.05.2013 Views

Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

percorrer o texto sem se dispersar <strong>no</strong>s links. As narrativas <strong>do</strong> trecho analisa<strong>do</strong> são,<br />

portanto, imediadas, acentuan<strong>do</strong> o caráter (ethos) centra<strong>do</strong> frente à diversidade de<br />

vozes e pontos de vista a respeito <strong>do</strong> tema. Os poucos links emprega<strong>do</strong>s direcionam,<br />

portanto, a páginas que corroboram tal ponto de vista.<br />

Embora <strong>no</strong> ciberespaço concorram formações discursivas tanto em defesa quanto<br />

contrárias à prática da eutanásia, o enuncia<strong>do</strong>r opta por elencar apenas as favoráveis<br />

ao seu ponto de vista, transmitin<strong>do</strong> um ethos centraliza<strong>do</strong>r e estável frente<br />

às instabilidades discursivas de suas viagens pelos labirintos <strong>do</strong> ciberespaço. Ainda<br />

inseri<strong>do</strong> na lógica humana, o enuncia<strong>do</strong>r identifica-se apenas com as perspectivas<br />

eufóricas da certeza e da unidade, refutan<strong>do</strong> aquelas disfóricas da incerteza frente à<br />

morte e da pluralidade de pontos de vista sobre a prática da eutanásia.<br />

A possibilidade de diálogo facilitada pela tec<strong>no</strong>logia permite uma diversidade de<br />

posições identificatórias e, <strong>no</strong> diário virtual íntimo, o enuncia<strong>do</strong>r tem, a cada post,<br />

uma imensa variedade de representações (temos aqui, o senti<strong>do</strong> de representação<br />

como cena ou papel) à disposição, com as quais se associar, ten<strong>do</strong> sempre latente<br />

a tensão entre uma pluralidade de cenas possíveis e uma unidade que clama pela<br />

responsabilidade autoral. Essas identificações feitas a partir da voluntariedade por<br />

<strong>meio</strong> <strong>do</strong>s links <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r demonstram a tensão entre uma abertura à descentralização<br />

e um fechamento totaliza<strong>do</strong>r, tentativa intencional de centralização. As<br />

construções subjetivas <strong>no</strong> diário virtual íntimo ocorrem justamente por <strong>meio</strong> dessa<br />

interface tensa e para<strong>do</strong>xal.<br />

Os enuncia<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> constroem redes de senti<strong>do</strong>s <strong>no</strong> ciberespaço,<br />

nichos em relação global com o mun<strong>do</strong> e com as outras redes. No ciberespaço,<br />

são vários os senti<strong>do</strong>s em tor<strong>no</strong> de tais parâmetros, bem como os mo<strong>do</strong>s<br />

de colocação destes na superfície discursiva. Os diários virtuais <strong>íntimos</strong> são um<br />

ponto da rede onde convergem e concorrem tais senti<strong>do</strong>s e formações discursivas<br />

em função das características <strong>do</strong> ciberespaço como labirinto pelo qual os indivíduos<br />

navegam.<br />

A identidade se constrói navegan<strong>do</strong> <strong>no</strong> labirinto, povoan<strong>do</strong> essa rede emaranhada<br />

de narrativas hipertextuais individuais e singulares. As idas e vindas por várias<br />

dimensões, sejam elas hipertextuais, lingüísticas ou espaciais, arquitetam a identidade<br />

<strong>do</strong> sujeito, ou melhor, são processos de identificações que permitem ao sujeito<br />

se fazer conhecer, dan<strong>do</strong> um senti<strong>do</strong> à sua existência, construin<strong>do</strong> uma linearidade,<br />

uma coerência, mesmo que fantasiosas.<br />

Além <strong>do</strong> tema sexo, o sistema de restrições semânticas que circunscreve um<br />

mo<strong>do</strong> de enunciação e um ethos específico também pode ser observa<strong>do</strong> em posts<br />

que tratam das relações amorosas. Ao longo <strong>do</strong> texto a seguir, de Continua Valen<strong>do</strong>,<br />

um narra<strong>do</strong>r se propõe a descrever suas percepções a respeito de um filme, recémlança<strong>do</strong><br />

à época da publicação <strong>do</strong> post, chama<strong>do</strong> Sex and the City, continuação de<br />

uma série de televisão <strong>no</strong>rte-americana famosa, lançada em 2001.<br />

O Casamento e a Cidade<br />

Reparei que o filme Sex and the city chegou nas loca<strong>do</strong>ras. Para mim, que an<strong>do</strong><br />

na idade das pedras e não tenho tevê, devedê, nem tevê a cabo é totalmente<br />

indiferente, mas serve de pretexto para a escrita sobre o filme, ou... sobre como<br />

a busca de sexo e curtição na cidade vira a busca frenética <strong>do</strong> casamento.<br />

Quan<strong>do</strong> a série estreou, acho que <strong>no</strong> raiar deste <strong>no</strong>víssimo século, apresentavase<br />

como algo <strong>no</strong>vo e disruptor daquilo que era usual em séries de personagens<br />

136 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!