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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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o mun<strong>do</strong> enquanto objeto, ao mesmo tempo em que constrói esse sujeito por <strong>meio</strong><br />

de efeitos de senti<strong>do</strong> que conferem ao sujeito um estatuto ilusório <strong>do</strong> ser, ou seja,<br />

as debreagens e embreagens.<br />

A operacionalização <strong>do</strong>s conceitos propostos por uma Teoria da Enunciação não<br />

deve trabalhar senão por <strong>meio</strong> de uma enunciação enunciada, materializada <strong>no</strong><br />

enuncia<strong>do</strong> hipertextual correspondente a um simulacro que imita, dentro <strong>do</strong> discurso,<br />

o fazer enunciativo. Assim, este estu<strong>do</strong> observa os mecanismos de construção<br />

<strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s discursos textualiza<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong>, e não apenas<br />

depreende significa<strong>do</strong>s aparentes. Ou seja, analisa as condições internas de significação,<br />

pois esses significa<strong>do</strong>s são efeitos de senti<strong>do</strong>, observa recorrências na relação<br />

entre o enuncia<strong>do</strong> e a enunciação, ten<strong>do</strong> em vista a atuação de contratos veridictórios<br />

entre os actantes na cena enunciativa. Além da perspectiva das teorias lingüísticas<br />

da Enunciação, esse estu<strong>do</strong> aborda os diários virtuais <strong>íntimos</strong> a partir da Análise <strong>do</strong><br />

Discurso. Para tanto, é importante iniciá-lo explicitan<strong>do</strong> essa interlocução.<br />

Os mo<strong>do</strong>s de enunciação <strong>do</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> são permea<strong>do</strong>s tanto por<br />

entradas subjetivas, ou seja, por movimentos que permitem aos enuncia<strong>do</strong>res reconhecerem-se<br />

sujeitos, quanto por orientações sociais que admitem sua inserção na<br />

ordem <strong>do</strong> discurso. Um estu<strong>do</strong> que pretenda examinar a relação entre a materialização<br />

em forma de palavras <strong>do</strong>s discursos <strong>no</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> e as condições<br />

sociais dessa enunciação não deve se furtar de observar as relações que vinculam<br />

a linguagem à ideologia. E a palavra é o lugar privilegia<strong>do</strong> para a manifestação da<br />

ideologia.<br />

Uma análise lingüística imanente não deve ser a única proposta, nesse caso. Um<br />

estu<strong>do</strong> inter<strong>no</strong> da língua não pode dar conta de abordar todas as tramas discursivas<br />

<strong>do</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong>. É necessária uma interlocução entre o lingüístico e o<br />

social, sen<strong>do</strong> o social constitutivo das significações, e não apenas um fator secundário,<br />

como considerava Saussure. Em suma, é importante buscar uma orientação<br />

teórica que assuma esse caráter dual da linguagem, como a Análise <strong>do</strong> Discurso:<br />

O reconhecimento da dualidade constitutiva da linguagem, isto é, <strong>do</strong> seu caráter ao<br />

mesmo tempo formal e atravessa<strong>do</strong> por entradas subjetivas e sociais, provoca um deslocamento<br />

<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s lingüísticos até então baliza<strong>do</strong>s pela problemática colocada<br />

pela oposição língua/fala que impôs uma lingüística da língua (Brandão, 1991: 12).<br />

Por esse motivo, entra em cena a Análise <strong>do</strong> Discurso, orientação teórica que<br />

entende a linguagem entrecortada exatamente pelo social e pelo subjetivo, sem<br />

desconsiderar as aberturas teóricas trazidas pelas análises imanentes <strong>do</strong> texto, voltadas<br />

para considerações sobre sua estrutura. Nesse senti<strong>do</strong>, Benveniste é pioneiro,<br />

ao dar relevo ao papel <strong>do</strong> sujeito falante <strong>no</strong> processo da enunciação, procuran<strong>do</strong><br />

mostrar como acontece a inscrição desse sujeito <strong>no</strong>s enuncia<strong>do</strong>s que ele emite:<br />

Ao falar em posição <strong>do</strong> locutor, ele [Benveniste] levanta a questão da relação que se<br />

estabelece entre o locutor, seu enuncia<strong>do</strong>, e o mun<strong>do</strong>; relação que estará <strong>no</strong> centro<br />

das reflexões da análise <strong>do</strong> discurso em que o enfoque da posição sócio-histórica <strong>do</strong>s<br />

enuncia<strong>do</strong>res ocupa um lugar primordial (Brandão: 1991, 16).<br />

A perspectiva teórica francesa da análise <strong>do</strong> discurso filia-se:<br />

(...) a uma certa tradição intelectual européia (e, sobretu<strong>do</strong> na França) acostumada<br />

a unir reflexão sobre texto e sobre história. Nos a<strong>no</strong>s 60, sob a égide <strong>do</strong> estrutura-<br />

uMA VISãO LINgüÍStICO-DISCuRSIVA | 39

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