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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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leitor. Comprova-se o gênero diário virtual como da ordem da descentralidade, até<br />

<strong>no</strong> diário virtual íntimo.<br />

De tema geralmente emprega<strong>do</strong> pelo discurso informativo, como efeito de objetividade,<br />

e ao discurso priva<strong>do</strong>, como efeito de subjetividade, a sexualidade é abordada<br />

nesse ínterim <strong>do</strong> público que marca o jornalístico e o <strong>meio</strong> hipertextual e <strong>do</strong> priva<strong>do</strong><br />

que indica um tema sujeito a provocar indiscrições. Comprova-se, portanto, a heterogeneidade<br />

<strong>do</strong> gênero <strong>do</strong> diário virtual íntimo, construí<strong>do</strong> a partir da identidade e da<br />

diferença que o remetem às relações intergenéricas com o diário íntimo tradicional.<br />

A busca por um termo adequa<strong>do</strong> para a <strong>no</strong>meação <strong>do</strong> ato sexual demonstra, de<br />

mo<strong>do</strong> claro, um sujeito extremamente preocupa<strong>do</strong> em transmitir ao enunciatário<br />

uma concepção moralizante de mun<strong>do</strong>. Além disso, a materialização desse texto<br />

<strong>no</strong> <strong>contexto</strong> público da internet demonstra um sujeito que busca passar essa idéia<br />

de moralidade ao enunciatário, já que o objetivo da interação é claramente exibicionista.<br />

Assim, apesar e justamente por se dar a ver ao outro, o enuncia<strong>do</strong>r busca<br />

transmitir um ethos explicitamente ético.<br />

O deslocamento <strong>do</strong> tema sexo para o erotismo, que pode ser observa<strong>do</strong> <strong>no</strong> post,<br />

surge na contemporaneidade como um sintoma de uma revolução erótica, caracterizada<br />

pelo desligamento <strong>do</strong>s laços que uniam o erotismo ao sexo em sua função<br />

reprodutiva e ao amor:<br />

O sexo, livre das conseqüências reprodutivas e das ligações amorosas obstinadas<br />

e prolongadas, pode ser incluí<strong>do</strong> na estrutura de um episódio: não deixará sulcos<br />

profun<strong>do</strong>s na face a to<strong>do</strong> momento rearrumada, que assim fica assegurada contra<br />

limitações à sua liberdade de experimentar. (Bauman, 2008: 290)<br />

O emprego utilitarista <strong>do</strong> sexo e <strong>do</strong> erotismo, bem como seu processamento<br />

cultural, ten<strong>do</strong> o orgasmo como finalidade central deixam clara a função de experimentação<br />

<strong>do</strong> sexo, de<strong>no</strong>mina<strong>do</strong> por Bauman como boa-forma e que tomou o lugar<br />

da <strong>no</strong>rma perante o colapso <strong>do</strong> modelo panóptico foucaultia<strong>no</strong> que propunha a manutenção<br />

da ordem pela autovigilância. Desliga<strong>do</strong> <strong>do</strong> amor e <strong>do</strong> fator reprodutivo,<br />

o erotismo pós-moder<strong>no</strong> destina-se apenas à exploração da sedução instantânea, à<br />

abertura a <strong>no</strong>vas sensações e ao recolhimento de experiências corpóreas, ele<br />

Tor<strong>no</strong>u-se um significante livre, capaz de ser casa<strong>do</strong> em termos semióticos com um<br />

número quase ilimita<strong>do</strong> de significa<strong>do</strong>s, mas também um significa<strong>do</strong> pronto a ser<br />

representa<strong>do</strong> por qualquer um <strong>do</strong>s significantes disponíveis (Bauman, 2008: 288).<br />

Rompi<strong>do</strong> o laço afetivo <strong>do</strong> erotismo, o sexo perde também sua função de ponte<br />

entre a transitoridade <strong>do</strong> corpo para a imortalidade. Substituir a pronúncia da palavra<br />

boquete significa, portanto, uma tentativa de restabelecer essa ponte, religar o<br />

erotismo à afetividade para atingir o evanescente. Esta investida, <strong>no</strong> entanto, nunca<br />

se efetiva, pois a boa-forma é um “horizonte que-nunca-deve-ser-alcança<strong>do</strong>, localizada<br />

sempre <strong>no</strong> futuro, uma espora para esforços sem fim, e nenhum <strong>do</strong>s quais<br />

pode ser visto como completamente satisfatório, muito me<strong>no</strong>s definitivo” (Bauman,<br />

2001: 283). A abdicação <strong>do</strong>s prazeres instantâneos ti<strong>do</strong>s socialmente como obrigatórios<br />

a to<strong>do</strong>s, homens e mulheres, seria representada pela <strong>no</strong>va pronúncia, pois a<br />

validade temporal da experiência genuína deveria ser revalorizada: Afinal, o mun<strong>do</strong><br />

será um lugar melhor quan<strong>do</strong> as pessoas pararem de se impor certos prazeres exóge<strong>no</strong>s<br />

aos seus desejos: acordar ce<strong>do</strong> nas férias para aproveitar; trabalhar muito para gastar<br />

ainda mais; beijar uma garota para experimentar, e assim por diante.<br />

IDENtIFICAçõES E SuBjEtIVAçõES CONtEMPORâNEAS | 143

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