Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP
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entemente <strong>do</strong>s diários tradicionais, os blogs permitem a expressão de uma escrita<br />
de si fundamentada na percepção <strong>do</strong> outro, ou seja, motivada pela possibilidade de<br />
presença (mesmo mediada pelo computa<strong>do</strong>r) <strong>do</strong> leitor.<br />
Uma parcela de blogs de fato baseia-se na escrita de percepções e reflexões sobre<br />
o cotidia<strong>no</strong> e os sentimentos <strong>do</strong> autor. Contu<strong>do</strong>, essa prática não se aplica a tantos<br />
outros blogs, que apresentam estilos e objetivos diversos. A principal distinção entre<br />
diários e blogs os opõe de maneira inconciliável. Diários pessoais se voltam para o<br />
intrapessoal, têm como destinatário o próprio autor. <strong>Blogs</strong>, por outro la<strong>do</strong>, visam o<br />
interpessoal, o grupal (Primo, 2008).<br />
Diversas são as tentativas em busca de uma classificação <strong>do</strong>s blogs. Rebecca<br />
Blood divide os blogs em tipos, classifica<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com a disposição <strong>do</strong>s links e<br />
seus conteú<strong>do</strong>s. O primeiro tipo, segun<strong>do</strong> ela, seriam os chama<strong>do</strong>s blogs. Os blogs<br />
são pareci<strong>do</strong>s com peque<strong>no</strong>s periódicos, ou diários. O assunto remete ao cotidia<strong>no</strong><br />
<strong>do</strong> seu autor, com links subordina<strong>do</strong>s ao texto. Os links, quan<strong>do</strong> incluí<strong>do</strong>s, parecem<br />
ter mais a finalidade de definir palavras e levar o leitor a sites de amigos <strong>do</strong> autor.<br />
Esse tipo de site, segun<strong>do</strong> Blood, teria <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> o universo <strong>do</strong>s weblogs <strong>no</strong> a<strong>no</strong><br />
2000, provavelmente quan<strong>do</strong> a proliferação de ferramentas facilitou a publicação<br />
de simples <strong>no</strong>tas e pensamentos. Estavam mais volta<strong>do</strong>s aos pensamentos <strong>do</strong> autor<br />
<strong>do</strong> que às <strong>no</strong>tícias divulgadas diariamente pela mídia. O segun<strong>do</strong> tipo seriam os<br />
<strong>no</strong>tebooks. Por vezes pessoais, por vezes basea<strong>do</strong>s <strong>no</strong> mun<strong>do</strong> exterior, os <strong>no</strong>tebooks<br />
se diferenciam <strong>do</strong>s blogs por longas partes de conteú<strong>do</strong> único. Registros pessoais<br />
às vezes estão em forma de história. Alguns deles foram desenvolvi<strong>do</strong>s como um<br />
espaço de contemplação pública, mas os registros de seu autor geralmente estão <strong>no</strong><br />
centro. Mais curtos que ensaios, mais longos que os registros-pílula <strong>do</strong> blog, esses<br />
sites se destinam a textos mais edita<strong>do</strong>s que aqueles <strong>do</strong> blog típico. No entanto, ambos<br />
tendem a se focar <strong>no</strong> mun<strong>do</strong> inter<strong>no</strong> <strong>do</strong> autor e nas suas relações com o mun<strong>do</strong><br />
exterior. Blood procura distinguir os blogs e <strong>no</strong>tebooks <strong>do</strong> que ela chama de online<br />
journals (diários online), que seriam os antecessores <strong>do</strong>s blogs e <strong>no</strong>tebooks. Os<br />
online journals contêm um registro diário, e cada registro ficaria em uma página.<br />
Apesar dessa diferença estrutural, Blood assinala que a grande divergência estaria<br />
na intenção <strong>do</strong> autor. Os online journals seriam análogos aos diários impressos, com a<br />
única diferença de serem publica<strong>do</strong>s com a finalidade de estarem expostos. Segun<strong>do</strong><br />
ela, os blogs contêm mais e me<strong>no</strong>res registros por dia, e seus autores estariam mais<br />
interessa<strong>do</strong>s em se comunicar <strong>do</strong> que em se exibirem a outros internautas.<br />
O terceiro tipo seriam os chama<strong>do</strong>s filters, <strong>no</strong> qual pre<strong>do</strong>minam os links. Atuam<br />
como sites filtra<strong>do</strong>res da mídia tradicional e reproduzem seu conteú<strong>do</strong> por <strong>meio</strong> de<br />
hiperlinks. Independentemente <strong>do</strong> tamanho de seus registros, seus autores desejam<br />
mostrar o mun<strong>do</strong> ao leitor. Esses sites, embora lembrem os blogs e <strong>no</strong>tebooks, revelam<br />
a personalidade de seu autor de fora para dentro, em sua relação com o mun<strong>do</strong><br />
exterior. Geralmente os filters são manti<strong>do</strong>s por vários autores, como um esquema<br />
de colaboração.<br />
Os diários virtuais <strong>do</strong> tipo filter foram mais populares até 1999. Antes da criação<br />
das ferramentas gratuitas de publicação de diários virtuais, estes eram cria<strong>do</strong>s por<br />
pessoas habituadas a lidar com linguagem de programação. Eram geralmente pessoas<br />
que trabalhavam com Internet, que publicavam <strong>no</strong>tícias, contextualizavam-nas,<br />
recebiam comentários de leitores, etc.<br />
Apesar de diferenciar os tipos de blogs de acor<strong>do</strong> com o conteú<strong>do</strong> e a disposição<br />
de links, esse modelo de classificação não consegue dar conta de inúmeras variantes<br />
20 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL