Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP
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necessariamente o estilo da escrita feminina supõe um autor <strong>do</strong> sexo femini<strong>no</strong>. Essa<br />
escrita não se trata de uma questão de gênero, mas de um eu lírico e de uma estrutura<br />
narrativa que compõem um mo<strong>do</strong> de enunciação e uma forma individualizada de<br />
congregar temas e figuras, enfatizan<strong>do</strong> seus aspectos intimistas e cotidia<strong>no</strong>s.<br />
De certo, os dez blogs aqui analisa<strong>do</strong>s foram escritos por mulheres, marca distintiva<br />
<strong>do</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong>. No entanto, a tônica desse estu<strong>do</strong> buscou enfatizar<br />
os efeitos de senti<strong>do</strong> desse mo<strong>do</strong> de enunciação, partin<strong>do</strong> de uma perspectiva das<br />
posições enunciativas e não <strong>do</strong> papel social <strong>do</strong> autor.<br />
Esta pesquisa opera justamente em vetor contrário a um ponto de vista sexista,<br />
pois deixa de tratar os diários virtuais <strong>íntimos</strong> a partir de uma questão de gênero<br />
(escritos somente por mulheres) e aborda o objeto como um mo<strong>do</strong> de enunciação,<br />
que transcende a fonte autoral. Sen<strong>do</strong> assim, tratamos <strong>do</strong>s blogs de escrita feminina<br />
e não de blogs femini<strong>no</strong>s. Tal desordem conceitual pode ser observada na carta a<br />
seguir, proposta por um grupo de mulheres autoras de blogs em resposta a uma<br />
entrevista concedida pela professora e pesquisa<strong>do</strong>ra Luiza Lobo, da Universidade<br />
Federal <strong>do</strong> Rio de Janeiro, em 2008:<br />
Esclarecimentos à Professora Luiza Lobo – A real produção das mulheres em blogs<br />
Professora Luiza Lobo,<br />
Somos um grupo de mulheres blogueiras, que têm vários temas diariamente (ou<br />
quase) em <strong>no</strong>ssos blogs. Ouvimos sua entrevista para a Rádio CBN <strong>no</strong> último<br />
dia 1º de <strong>no</strong>vembro. A senhora falava sobre seu livro “Segre<strong>do</strong>s Públicos: Os<br />
<strong>Blogs</strong> de Mulheres <strong>no</strong> Brasil”. Na ocasião, a senhora foi categórica em afirmar: a<br />
produção feminina em blogs tem a característica <strong>do</strong> diário, <strong>do</strong> texto confessional,<br />
da exposição pública de sua vida privada. Por outro la<strong>do</strong>, homens fazem blogs de<br />
<strong>no</strong>tícias.<br />
Ficamos realmente indignadas com a sua generalização. Uma de <strong>no</strong>ssas<br />
companheiras, inclusive, escreveu para a senhora e recebeu uma resposta,<br />
digamos, arrogante (como não temos permissão para publicar, não o faremos).<br />
Sentimos falta, em sua entrevista, <strong>do</strong> que lemos diariamente em <strong>no</strong>ssos leitores<br />
de feed.<br />
Será que a senhora entende realmente o que é um blog? Das redes que podem<br />
– e devem – se formar em tor<strong>no</strong> deles? Das conversas que proporcionam. Da<br />
linkania resultante? Das comunidades que se encontram felizes, como a <strong>no</strong>ssa,<br />
ao vivo e compartilham seus conhecimentos, experiências?<br />
Blog, professora, é uma ferramenta de publicação na web. Nada mais e nada<br />
me<strong>no</strong>s que uma ferramenta. Como tal, não conhece preconceitos de gênero.<br />
Homens e mulheres podem, livremente e sem prejulgamentos, utilizá-los para<br />
expor suas idéias, quaisquer que sejam. Tentar reduzi-los a gênero – seja<br />
ele sexual ou literário – é só isso; reduzir porque não dá conta de entender a<br />
complexidade <strong>do</strong> <strong>no</strong>vo, seu caráter rizomático e sua filosofia absolutamente livre.<br />
Algumas pessoas optam em fazer blogs confessionais. Outras preferem trilhar<br />
o caminho da ficção. Há aquelas que fazem blogs <strong>no</strong>ticiosos e há quem prefira<br />
escrever blogs opinativos. Alguns blogs são coleções de links, outros expõem<br />
trabalhos manuais, ou quadrinhos, ou poesia. Há blogs especializa<strong>do</strong>s em<br />
qualquer tema que a senhora imaginar. Há blogs de variedades. Há blogs que<br />
são uma extensão da profissão, como os produzi<strong>do</strong>s por colunistas da imprensa.<br />
Outros são, em si mesmos, uma profissão. Alguns são escritos por uma única<br />
pessoa, outros por uma coletividadade.<br />
182 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL