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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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que qualquer pessoa pode se transformar em um jornalista pelo simples fato de ter<br />

acesso aos recursos de divulgação. É necessário que as pessoas tenham mais tempo<br />

para captarem mais informações <strong>do</strong> que já são capazes, ao mesmo tempo em que<br />

é indispensável ensinar aos estudantes como buscar o conhecimento deseja<strong>do</strong>, na<br />

Internet. Ou seja, a competência também deve ser valorizada como fator essencial,<br />

pois, <strong>do</strong> contrário, corre-se o risco de defender a quantidade de informação em<br />

detrimento de sua qualidade.<br />

Uma das questões mais relevantes a respeito das conseqüências da digitalização<br />

das informações diz respeito ao senti<strong>do</strong> e à interpretação <strong>no</strong> ambiente hipertextual.<br />

Tanto Lévy quanto Eco enfatizam a importância <strong>do</strong> leitor para a atualização <strong>do</strong><br />

senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> texto, bem como os esforços <strong>do</strong> autor para que essa interpretação resulte<br />

em um senti<strong>do</strong> semelhante ao proposto <strong>no</strong> <strong>contexto</strong> espacial e temporal de origem.<br />

Para Eco, já a leitura é capaz de atualizar o texto, cujos senti<strong>do</strong>s podem ser tanto<br />

abertos quanto fecha<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com a intenção <strong>do</strong> autor em favorecer ou não<br />

a cooperação <strong>do</strong> leitor. A interpretação é sempre aberta, permitin<strong>do</strong> que o autor<br />

atualize o senti<strong>do</strong> conforme o <strong>contexto</strong> social e físico em que se situa.<br />

Para Lévy, o universal da escrita busca sempre imprimir uma totalidade de senti<strong>do</strong><br />

aos textos impressos, bem como aqueles propaga<strong>do</strong>s pela mídia. Assim, esses<br />

textos dissemina<strong>do</strong>s pelos dispositivos comunicacionais um-to<strong>do</strong>s não possibilitariam<br />

uma abertura em seus senti<strong>do</strong>s, pois estariam determina<strong>do</strong>s por uma totalidade<br />

inerente, que trata de centralizá-los.<br />

Por esse motivo, segun<strong>do</strong> o autor, apenas a atualização <strong>do</strong> texto pelo leitor por<br />

<strong>meio</strong> da leitura não é suficiente para promover uma abertura de senti<strong>do</strong>. Ela só se<br />

efetiva com a participação ativa <strong>do</strong> leitor, que apenas pode ocorrer <strong>no</strong> ambiente<br />

hipertextual, toma<strong>do</strong> por Lévy como um ambiente único.<br />

Assim, para este autor, apenas a cibercultura possibilitaria esta abertura, uma<br />

vez que seus participantes são ativos na produção <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> das mensagens transmitidas:<br />

A verdadeira ruptura com a pragmática da comunicação instaurada pela escrita não<br />

pode estar em cena com o rádio ou a televisão, já que estes instrumentos de difusão<br />

em massa não permitem nem uma verdadeira reciprocidade nem interações transversais<br />

entre participantes. O <strong>contexto</strong> global instaura<strong>do</strong> pelas mídias, em vez de emergir<br />

das interações vivas de uma ou mais comunidades, fica fora <strong>do</strong> alcance daqueles<br />

que dele consomem apenas a recepção passiva, isolada (Lévy, 2000: 117).<br />

No entanto, apesar da relevância e contribuição das avaliações de Lévy a respeito<br />

da cibercultura, opta-se aqui por uma posição crítica a respeito de suas ponderações.<br />

Defender a transparência, a interconexão e a universalidade da cibercultura<br />

equivale a ig<strong>no</strong>rar que, apesar de sua possibilidade ilimitada de produção e publicação<br />

textual, ela ultrapassa os limites da audiência e <strong>do</strong> idioma. Seu ‘<strong>contexto</strong> global’<br />

ainda foi feito para poucos, e seria impossível afirmar que qualquer pessoa pode ter<br />

acesso a qualquer texto pela Internet.<br />

Talvez um <strong>do</strong>s equívocos de Lévy esteja <strong>no</strong> fato de postular que tanto a cibercultura<br />

quanto a escrita são universais, ou seja, em defender a presença de uma totalidade<br />

ou unidade de senti<strong>do</strong> na escrita e uma ausência <strong>no</strong> caso <strong>do</strong> hipertexto, pois<br />

os dispositivos hipertextuais nas redes digitais desterritorializariam o texto, fariam<br />

emergir um texto sem fronteiras nítidas, sem interioridade definível. Não haveria<br />

mais o texto, mas apenas texto. O senti<strong>do</strong>, <strong>no</strong> hipertexto, segun<strong>do</strong> ele, emergiria a<br />

cada clique, e, portanto, não poderia ser único.<br />

PERCuRSOS DE SENtIDO NO LABIRINtO HIPERtEXtuAL | 65

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