Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP
Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP
Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
o processo de interação verbal. Dessa maneira, o sig<strong>no</strong> adquire uma dinamicidade,<br />
ig<strong>no</strong>rada por Saussure. A constituição <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> é intrínseca à interação social,<br />
ou seja, o papel <strong>do</strong> Outro é constitutivo da linguagem.<br />
A enunciação, dessa maneira, revela suas duas faces, a lingüística e a social. O<br />
enuncia<strong>do</strong> é orienta<strong>do</strong> socialmente, ou seja, até que seja materializa<strong>do</strong> e objetiva<strong>do</strong><br />
externamente, em forma de enunciação, teve inúmeros des<strong>do</strong>bramentos de origem<br />
social.<br />
II.2 - tEORIA DA ENuNCIAçãO E ANáLISE DO DISCuRSO<br />
Benveniste (1958) soluciona o impasse entre a língua e a fala, inaugura<strong>do</strong> por<br />
Saussure, ao introduzir a questão da enunciação. Como texto materializa<strong>do</strong> por<br />
uma interface hipertextual, o registro cro<strong>no</strong>lógico presente <strong>no</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong><br />
corresponde ao material enuncia<strong>do</strong> <strong>no</strong> qual se devem buscar as projeções da<br />
enunciação. A partir da matriz conceitual das teorias lingüísticas da Enunciação, o<br />
parâmetro de sujeito é integra<strong>do</strong> à análise lingüística, configuran<strong>do</strong>, portanto, um<br />
sujeito lingüístico.<br />
Segun<strong>do</strong> Lan<strong>do</strong>wski (1992), o sujeito lingüístico é a entidade semiótica, produtora<br />
de senti<strong>do</strong>s, por <strong>meio</strong> <strong>do</strong> ato da enunciação. Assim, a enunciação é o “ato pelo<br />
qual o sujeito faz ser o senti<strong>do</strong>” e o enuncia<strong>do</strong> “o objeto cujo senti<strong>do</strong> faz ser o sujeito”.<br />
A to<strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong> corresponde uma enunciação pressuposta ou seja, a enunciação<br />
é a “instância de mediação que assegura a discursivização da língua, que permite a<br />
passagem da competência à performance, das estruturas semióticas virtuais às estruturas<br />
realizadas sob a forma de discurso” (Lan<strong>do</strong>wski apud Fiorin, 2006a: 31).<br />
O sujeito da enunciação converte os esquemas narrativos presentes em seu cotidia<strong>no</strong><br />
em discurso, que carrega marcas da cena enunciativa. O texto materializa<strong>do</strong><br />
pressupõe sempre uma enunciação (Fiorin, 2006a: 55): “A enunciação é o ato da<br />
produção <strong>do</strong> discurso, é uma instância pressuposta pelo enuncia<strong>do</strong> (produto da<br />
enunciação). Ao realizar-se, ela deixa marcas <strong>no</strong> discurso que constrói”. Há sempre<br />
duas interpretações para a problemática da enunciação. Ela pode ser compreendida<br />
como uma estrutura nãolingüística que subentende a comunicação lingüística. Esta<br />
diz respeito ao <strong>contexto</strong> psicossociológico em que o enuncia<strong>do</strong> é produzi<strong>do</strong>, ou<br />
seja, a situação de comunicação que atualiza a produção de enuncia<strong>do</strong>s. A segunda<br />
matriz interpretativa, de origem greimasiana, revela uma enunciação pressuposta<br />
pela existência de um enuncia<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> este enuncia<strong>do</strong> um resulta<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong><br />
pela enunciação.<br />
Para esta segunda referência teórica, o enuncia<strong>do</strong> proferi<strong>do</strong> <strong>no</strong>s diários virtuais<br />
por um ser oculto pela interface hipertextual pressupõe a existência de uma<br />
instância de enunciação, marcada por uma actorialização, uma temporalização e<br />
uma espacialização, guardan<strong>do</strong> marcas enunciativas próprias <strong>do</strong> ato e <strong>do</strong> momento<br />
enunciativo. Essas referências ao momento de enunciação, por sua vez, são desterritorializadas<br />
em virtude das particularidades <strong>do</strong> suporte em que se atualizará o<br />
enuncia<strong>do</strong>.<br />
De acor<strong>do</strong> com Fiorin (2006a), o sujeito da enunciação é referencia<strong>do</strong> a partir de<br />
uma cena enunciativa que pressupõe uma instância eu-aqui-agora. Os participantes<br />
da cena enunciativa, o eu e o tu, são estabeleci<strong>do</strong>s por um eu que se diz eu, em<br />
determina<strong>do</strong> tempo e espaço. Aqui é o espaço <strong>do</strong> eu, e, a partir dele to<strong>do</strong>s os outros<br />
espaços são ordena<strong>do</strong>s. Agora é o momento em que este eu toma a palavra e a partir<br />
deste agora, toda a temporalidade lingüística é organizada.<br />
Sob a perspectiva da intencionalidade por parte <strong>do</strong> autor <strong>no</strong> diário virtual íntimo,<br />
a colocação de elementos autobiográficos <strong>no</strong> discurso pelo sujeito o leva a construir<br />
38 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL