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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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narrativiza<strong>do</strong> a partir de uma visualização <strong>do</strong>s movimentos <strong>no</strong> espaço, comprovan<strong>do</strong><br />

a inter-relação espaço-tempo.<br />

A espacialização também se dá em conjunto com a temporalização, por <strong>meio</strong> da<br />

explicitação <strong>do</strong> espaço <strong>do</strong> acontecimento, o cruzamento da Avenida Angélica com a<br />

Rua Jaguaribe, <strong>no</strong> bairro de Higienópolis, na cidade de São Paulo. Com seu corpo<br />

físico para<strong>do</strong> dentro de um carro posiciona<strong>do</strong> em determina<strong>do</strong> espaço tópico, situa<strong>do</strong><br />

em relação a um ponto de referência inscrito <strong>no</strong> enuncia<strong>do</strong>, os acontecimentos<br />

não ocorrem em função de ações <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r, mas de suas movimentações e<br />

sucessões mentais (rumo, em casa) durante o tempo em que esteve posiciona<strong>do</strong> em<br />

tal ponto, tratan<strong>do</strong>-se assim de debreagens enuncivas nas quais não se projetam <strong>no</strong><br />

enuncia<strong>do</strong> o aqui de onde fala o enuncia<strong>do</strong>r.<br />

Sexta-feira, <strong>meio</strong>-dia e <strong>do</strong>is. Cruzamento da Avenida Angélica com a Avenida<br />

Higienópolis.<br />

Na esquina-<strong>do</strong>-la<strong>do</strong>-de-lá um velinho (sic) cabelu<strong>do</strong> toca seu saxofone. Strangers<br />

in the Night, de Sinatra, é a trilha escolhida. As pessoas passam, algumas param<br />

para ouvir, crianças levadas pelas mãos relutam para ficar ali mais um instante.<br />

Os pássaros parecem fazer parte de uma orquestra que existiu apenas para mim.<br />

Naquele momento obedeci à Onda Encantada e demorei-me fitan<strong>do</strong> o velhinho<br />

cabelu<strong>do</strong> que me fez sorrir por revisitar meus sonhos e projetos arquiva<strong>do</strong>s,<br />

os problemas desapareceram e fui invadida por uma sensação de quietude e<br />

tranqüilidade que me levou às lágrimas. Só percebi que o semáforo havia fica<strong>do</strong><br />

verde quan<strong>do</strong> buzinaram atrás de mim.<br />

Old sax man, thank you for being there.<br />

You remembered me that it will always exists Blue Eyes.<br />

14 changes of colours Post by Flavia Melissa em Friday, September 05, 2008 as<br />

12:50 PM.<br />

Um terceiro momento de referência é introduzi<strong>do</strong> ao longo da narrativa, para<br />

ilustrar a ordem <strong>do</strong>s acontecimentos <strong>do</strong>is minutos após o momento de referência<br />

anterior. No entanto, a enuncividade temporal cede espaço a um sistema enunciativo,<br />

ou seja, o enuncia<strong>do</strong>r passa a narrar os acontecimentos concomitantemente<br />

a um momento de referência preciso, um agora que se passa <strong>do</strong>is minutos após o<br />

<strong>meio</strong>-dia: um velinho (sic) cabelu<strong>do</strong> toca seu saxofone. Trata-se de debreagens enunciativas<br />

<strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>, pois é projeta<strong>do</strong> <strong>no</strong> enuncia<strong>do</strong> apenas o tempo <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r<br />

e não o <strong>do</strong> narratário, crian<strong>do</strong> um efeito de senti<strong>do</strong> de simultaneidade entre a narração<br />

e os eventos.<br />

O espaço também diz respeito a um sistema enunciativo, não pluridimensional<br />

e que posiciona o enuncia<strong>do</strong>r dentro da cena enunciativa que tem como ponto de<br />

referência outro cruzamento <strong>do</strong> mesmo bairro de Higienópolis, na avenida Angélica<br />

com a avenida Higienópolis. A posição <strong>do</strong> velho, na esquina-<strong>do</strong>-la<strong>do</strong>-de-lá, inaugura<br />

um lá fora <strong>do</strong> espaço da cena enunciativa, espaço de um tu que também surge <strong>no</strong><br />

trecho crianças levadas pelas mãos relutam para ficar ali mais um instante.<br />

A isotopia figurativa, a partir de crianças levadas pelas mãos, por exemplo, podem<br />

ser tematizadas por um tempo presentifica<strong>do</strong> dentro de um espaço unidimensional.<br />

Numa terceira ma<strong>no</strong>bra narrativa temporal, o enuncia<strong>do</strong>r volta a operar numa relação<br />

de anterioridade entre o momento de referência e o momento de enunciação,<br />

reinstauran<strong>do</strong> o sistema enuncivo a partir <strong>do</strong> adjunto adverbial Naquele momento.<br />

ESPAçO E tEMPO | 157

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