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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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lembranças. Ao ser materializa<strong>do</strong>, permite ao indivíduo relembrar os fatos sociais<br />

<strong>do</strong>s quais fez parte, bem como reinterpretar este passa<strong>do</strong> à luz das percepções <strong>do</strong><br />

presente em que vive. Um mo<strong>do</strong> de reconhecer a condição mortal da raça humana,<br />

condição que exige um cuida<strong>do</strong> com a memória <strong>do</strong>s mortos para os vivos de hoje.<br />

A discursivização temporal das ações propicia ao homem a experiência <strong>do</strong> tempo,<br />

ou seja só quan<strong>do</strong> o tempo é significa<strong>do</strong> é que pode ser medi<strong>do</strong> pela experiência<br />

humana. A temporalização narrativa estabelece assim, uma certa forma de estar <strong>no</strong><br />

mun<strong>do</strong>, de localização na ordem <strong>do</strong>s acontecimentos, sejam eles de ordem individual<br />

ou coletiva.<br />

A cena genérica <strong>do</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> sugere uma cro<strong>no</strong>grafia proveniente<br />

<strong>do</strong> diário, pois o sistema de publicação gera automaticamente a data <strong>do</strong> post, acima<br />

de cada texto. Ou seja, o diário virtual íntimo está pauta<strong>do</strong> obrigatoriamente pelo<br />

momento de enunciação, torna<strong>do</strong> inteligível a partir de uma ancoragem numa divisão<br />

<strong>do</strong> tempo crônico, ou seja, em um momento de referência, a data já dada pelo<br />

publica<strong>do</strong>r.<br />

Da relação entre o tempo <strong>do</strong>s acontecimentos gera<strong>do</strong> a partir de debreagens<br />

<strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>, que condicionam uma temporalidade <strong>do</strong>s eventos narra<strong>do</strong>s e outra<br />

temporalidade <strong>do</strong> dito, formada a partir de debreagens da enunciação foram depreendi<strong>do</strong>s<br />

os movimentos pela preservação da memória e pela busca da anulação da<br />

efemeridade da vida <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r. A sucessão desses eventos narra<strong>do</strong>s dá origem<br />

a um conjunto de acontecimentos significa<strong>do</strong>s e rememora<strong>do</strong>s pelo enuncia<strong>do</strong>r.<br />

Assim, os posts, em sua maioria, são marca<strong>do</strong>s por uma ordenação temporal<br />

<strong>do</strong>s acontecimentos narra<strong>do</strong>s que privilegia a estrutura passa<strong>do</strong>-presente-futuro.<br />

O futuro surge tematiza<strong>do</strong> em forma de uma expectativa, ou mesmo um conselho<br />

que enuncia<strong>do</strong>r deseja sugerir ao enunciatário após narrativizar os acontecimentos<br />

e experiência vividas, ativadas pela memória.<br />

Esse processo de ativação passa, necessariamente, pela estrutura coercitiva <strong>do</strong><br />

blog, que valoriza a estratificação <strong>do</strong> tempo em forma de enuncia<strong>do</strong>s referencia<strong>do</strong>s<br />

cronicamente, <strong>no</strong> qual o último post publica<strong>do</strong> está sempre em posição hierárquica<br />

e espacial superior aos outros. Por isso, embora a continuidade <strong>do</strong> tempo seja valorizada<br />

<strong>no</strong> conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s posts, as formas de apropriação <strong>no</strong> labirinto hipermidiático<br />

estimulam a instantaneidade e a efemeridade:<br />

O ciberespaço faz parte <strong>do</strong> processo de desmaterialização <strong>do</strong> espaço e de instantaneidade<br />

temporal contemporâneos, após <strong>do</strong>is séculos de industrialização moderna<br />

que insistiu na <strong>do</strong>minação física de energia e de matérias, e na compartimentalização<br />

<strong>do</strong> tempo. Se na modernidade o tempo era uma forma de esculpir o espaço, com a<br />

cibercultura contemporânea nós assistimos à um processo onde o tempo-real vai aos<br />

poucos exterminan<strong>do</strong> o espaço (Lemos, 1996: 12)<br />

No blog não importa o contar <strong>do</strong>s dias, mas apenas a data mais atual, pois essa é<br />

uma tarefa automatizada e que não depende da manifestação humana, corroboran<strong>do</strong><br />

com a idéia de que as <strong>no</strong>ções de espaço e tempo da modernidade devam ser repensadas,<br />

pois o espaço físico não impõe mais limite à ação. Com as mídias digitais<br />

a concepção materialista de tempo e espaço, bem como a forma de experienciar o<br />

tempo em termos de duração é suprimida pela velocidade e pela presentificação:<br />

A experiência comum ensina que o tempo está corren<strong>do</strong> não em linha reta, mas em<br />

espirais e ro<strong>do</strong>pios difíceis de prever: o tempo não é irrreversível, nada está perdi<strong>do</strong><br />

para sempre, assim como nada é obti<strong>do</strong> e possuí<strong>do</strong> para sempre, e o que está acon-<br />

CONSIDERAçõES FINAIS | 177

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