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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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tangível. De acor<strong>do</strong> com o uso filosófico da palavra, o virtual não se opõe ao real,<br />

mas sim ao atual. Para Lévy, o real assemelha-se ao possível; em troca, o atual em<br />

nada se assemelha ao virtual; responde-lhe. Virtualidade e atualidade seriam apenas<br />

<strong>do</strong>is mo<strong>do</strong>s diferentes de realidade, diferencia<strong>do</strong>s apenas pela atualização, ou não,<br />

da potencialidade (Lévy, 2000: 48): “Repetin<strong>do</strong>, ainda que não possamos fixá-lo em<br />

nenhuma coordenada espaço-temporal, o virtual é real. O virtual existe sem estar<br />

presente. Uma palavra existe de fato”.<br />

Como afirma o autor (2000: 29), <strong>no</strong> mun<strong>do</strong> da cibercultura, a palavra virtual<br />

está associada a <strong>do</strong>is aspectos. O primeiro, liga<strong>do</strong> ao senti<strong>do</strong> técnico, diz respeito à<br />

digitalização da informação, que permite que da<strong>do</strong>s sejam traduzi<strong>do</strong>s em números<br />

de forma rápida, em grande escala, com precisão e fácil manipulação. O segun<strong>do</strong>,<br />

liga<strong>do</strong> ao senti<strong>do</strong> filosófico, considera o mun<strong>do</strong> virtual (que, na verdade, é um conjunto<br />

de códigos digitais) um potencial de imagens, disponível ao ato de um clique<br />

<strong>do</strong> mouse. Para acentuar a desordem das interpretações a respeito <strong>do</strong> virtual na<br />

cibercultura, é muito utiliza<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong> corrente da palavra, <strong>no</strong> qual virtual é algo<br />

que não existe.<br />

A atualização, como um processo de resolução que busca tornar o virtual atual,<br />

aparece como a solução de um problema, uma solução que não estava contida<br />

previamente <strong>no</strong> enuncia<strong>do</strong>, exigida por um complexo problemático, <strong>no</strong> nível <strong>do</strong>s<br />

acontecimentos. Ela equivale, <strong>no</strong> nível das substâncias, à realização <strong>do</strong> potencial<br />

em real. A virtualização pode ser compreendida como o movimento inverso da atualização,<br />

uma passagem <strong>do</strong> atual ao virtual:<br />

A virtualização não é uma desrealização (a transformação de uma realidade num<br />

conjunto de possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento <strong>do</strong> centro<br />

de gravidade ontológico <strong>do</strong> objeto considera<strong>do</strong>: em vez de se definir principalmente<br />

por sua atualidade (uma ‘solução’), a entidade passa a encontrar sua consistência<br />

essencial num campo problemático (Lévy, 1996: 18).<br />

Como, para Lévy (2000: 52), informações digitais sempre necessitarão de um<br />

suporte físico, estes conteú<strong>do</strong>s <strong>íntimos</strong> se atualizam por <strong>meio</strong> <strong>do</strong> hipertexto. O digital<br />

permite que um <strong>no</strong>vo universo de geração de sig<strong>no</strong>s se desenvolva, <strong>no</strong> qual o<br />

computa<strong>do</strong>r funciona como um opera<strong>do</strong>r de virtualização da informação. No entanto,<br />

“embora necessite de suportes físicos pesa<strong>do</strong>s para subsistir e atualizar-se, o<br />

imponderável hipertexto não possui lugar” (Lévy, 1996: 20).<br />

A virtualização da informação acarreta em inúmeras outras conseqüências que<br />

afetam as características desses conteú<strong>do</strong>s. Uma das principais características da<br />

virtualização é o desprendimento <strong>do</strong> aqui e <strong>do</strong> agora, ou seja, a desterritorialização.<br />

Segun<strong>do</strong> o autor (1996: 20), quan<strong>do</strong> uma pessoa, uma coletividade, um ato, uma<br />

informação se virtualizam, eles se tornam “não presentes”, se desterritorializam.<br />

Uma espécie de desengate os separa <strong>do</strong> espaço físico ou geográfico ordinários e<br />

da temporalidade <strong>do</strong> relógio e <strong>do</strong> calendário. No entanto, nem por isso o virtual é<br />

imaginário. Ele produz efeitos.<br />

Para Lévy, “além da desterritorialização, um outro caráter é freqüentemente associa<strong>do</strong><br />

à vir tualização: a passagem <strong>do</strong> interior ao exterior e <strong>do</strong> exterior ao interior.<br />

Esse “efeito Moebius” declina-se em vários registros: o das relações entre priva<strong>do</strong> e<br />

público, próprio e comum, subjetivo e objetivo, mapa e território, autor e leitor etc”<br />

(Lévy, 1996: 24). A virtualização subverte as concepções tradicionais de identidade,<br />

privacidade, autoria, leitura e escrita.<br />

A REVOLuçãO DIgItAL | 25

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