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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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Por <strong>meio</strong> das mudanças na arquitetura da informação patrocinadas pelo surgimento<br />

<strong>do</strong> hipertexto, a plataforma digital altera a própria construção da narrativa<br />

ao exigir a participação ativa <strong>do</strong> receptor interagente. O hipertexto rompe com a<br />

linearidade <strong>do</strong> texto impresso e torna imprecisas as fronteiras entre leitor e autor.<br />

Por estes motivos, a narrativa na Internet seria em hipertexto, concebi<strong>do</strong> como<br />

um conjunto de <strong>do</strong>cumentos de qualquer tipo (imagem, texto, gráficos, quadros e<br />

videoclipes) conecta<strong>do</strong>s uns com os outros por links:<br />

O hipertexto tem da<strong>do</strong> a escritores <strong>no</strong>vas formas de experimentar com segmentação,<br />

justaposição e conexão. Histórias escritas em hipertexto geralmente têm mais de um<br />

ponto de entrada, várias ramificações internas e nenhum final claro. (...) são narrativas<br />

intrincadas, em redes (Lévy, 2000: 109).<br />

A bilateralidade permitida pelo hipertexto transforma toda navegação em uma narrativa<br />

própria, permitin<strong>do</strong> a Castells falar não em um hipertexto apenas, mas <strong>do</strong> hipertexto<br />

de cada pessoa. O hipertexto rompe com a linearidade, permitin<strong>do</strong> a construção<br />

de uma narrativa em conjunto. Uma narrativa hipertextual oferece múltiplos caminhos,<br />

através <strong>do</strong>s quais os leitores ou usuários constroem seu próprio texto, passan<strong>do</strong><br />

de um para outro através de links ou conexões. Tal argumento é explica<strong>do</strong> por Lévy:<br />

A escrita e a leitura trocam seus papéis. Aquele que participa da estruturação de<br />

um hipertexto, <strong>do</strong> traça<strong>do</strong> pontilha<strong>do</strong> das possíveis <strong>do</strong>bras <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>, já é um leitor.<br />

Simetricamente, aquele que atualiza um percurso, ou manifesta determina<strong>do</strong><br />

aspecto da reserva <strong>do</strong>cumental, contribui para a redação, finaliza temporariamente<br />

uma escrita interminável. Os cortes e remissões, os caminhos de senti<strong>do</strong> originais<br />

que o leitor inventa podem ser incorpora<strong>do</strong>s à própria estrutura <strong>do</strong>s corpus. Com o<br />

hipertexto, toda leitura é uma escrita potencial (Lévy, 2000: 116).<br />

A metáfora da navegação e <strong>do</strong> surfe, hoje utilizada para designar as incursões<br />

<strong>do</strong>s internautas pelos hiperlinks, implica, segun<strong>do</strong> Lévy (2000: 114) a “capacidade<br />

de enfrentar os redemoinhos, as correntes e os ventos contrários em uma extensão<br />

plana”. Esta designação ao ato de mover-se entre os hiperlinks diferencia-se bastante<br />

daquela utilizada para indicar o movimento para atingir a pirâmide <strong>do</strong> saber, que<br />

de<strong>no</strong>ta uma hierarquia, como se nem to<strong>do</strong>s pudessem escalar essa pirâmide para<br />

atingir o conhecimento.<br />

O hipertexto constitui um recurso que, por sua própria natureza, traz demandas<br />

mais próximas à construção de caminhos de navegação em rede e de exploração<br />

multimídia <strong>do</strong> que apenas à transposição <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> impresso ao qual estamos<br />

acostuma<strong>do</strong>s. No ambiente em rede, o leitor, embora possa aceitar a narrativa linear,<br />

espera interagir com o conteú<strong>do</strong>, para amplificar sua percepção <strong>do</strong>s fatos e<br />

aprofundar seu conhecimento acerca de um determina<strong>do</strong> acontecimento.<br />

Observa-se que, quan<strong>do</strong> se fala em hipertexto, os autores de referência tomam<br />

a linearidade como característica essencial, ou seja, lida-se com uma <strong>no</strong>ção muito<br />

simplista de texto, conforme atesta Possenti. Seguin<strong>do</strong> essa linha de pensamento,<br />

pode-se negar que até as tradicionais enciclopédias Britânica, vendidas de porta em<br />

porta antigamente, constituem textos. Buscan<strong>do</strong> argumentar a favor de sua idéia,<br />

Possenti emprega a <strong>no</strong>ção de Foucault, que se opõe a alguns <strong>do</strong>s conceitos tradicionais<br />

que colaboram para sustentar a idéia de unidade (contra a de dispersão)<br />

e de livro. Para o autor, a maior vantagem <strong>do</strong> hipertexto é justamente fomentar a<br />

discussão da definição de texto:<br />

54 | BLOgS ÍNtIMOS: PERCuRSOS DE SENtIDO NO CONtEXtO DISCuRSIVO DO MEIO DIgItAL

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