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Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP

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A essa <strong>no</strong>va relação espaço-temporal relacionam-se as diversas configurações<br />

<strong>do</strong> estatuto público e priva<strong>do</strong>. O desenvolvimento das mídias digitais altera essa<br />

distinção, bem como as formas de olhar, e a <strong>no</strong>ção de espaço público revela-se complexa,<br />

contraditória e plural. As conseqüentes transmissões de bens simbólicos por<br />

<strong>meio</strong> da interação mediada por computa<strong>do</strong>r suplantam a publicidade tradicional<br />

da co-presença e fazem surgir <strong>no</strong>vas formas de publicidade, estas não limitadas ao<br />

<strong>contexto</strong> físico comum. Assim, o ato de se tornar público se liberta <strong>do</strong> intercâmbio<br />

dialógico <strong>do</strong>s atos de fala e da presença física e se torna dependente <strong>do</strong>s <strong>meio</strong>s de<br />

comunicação.<br />

A exibição pública da intimidade e <strong>do</strong> cotidia<strong>no</strong>, característica <strong>do</strong>s blogs aqui<br />

estuda<strong>do</strong>s, integram esse <strong>no</strong>vo modelo de visibilidade em que o espetáculo surge<br />

em forma da prioridade da identidade sobre os interesses civis, pois o eu se torna a<br />

verdadeira essência das relações em público e da vida pública, em detrimento <strong>do</strong>s<br />

interesses civis comuns. Nesse <strong>contexto</strong> de articulação entre o voyeurismo e o exibicionismo,<br />

emerge uma cultura de promoção <strong>do</strong> culto a si mesmo, tanto <strong>no</strong> senti<strong>do</strong><br />

de dar-se a ver quanto de proteger o eu das investidas <strong>do</strong> outro.<br />

Também como parte desse tripé conceitual a partir <strong>do</strong>s quais o objeto de estu<strong>do</strong><br />

é inseri<strong>do</strong>, podem ser observa<strong>do</strong>s os mecanismos de colocação discursiva <strong>do</strong> sujeito<br />

<strong>no</strong> tempo, e, como decorrência, entrelaçam-se os <strong>percursos</strong> da preservação da memória<br />

pelo texto autobiográfico.<br />

PARtINDO DOS EStuDOS DE LINguAgEM<br />

O esboço <strong>do</strong>s diários virtuais <strong>íntimos</strong> empreendi<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> tripé conceitual<br />

sujeito-espaço-tempo recupera os pressupostos teóricos <strong>do</strong>s Estu<strong>do</strong>s de Linguagem,<br />

tanto como ponto de partida para a análise <strong>do</strong> corpus proposto, ten<strong>do</strong> em vista<br />

os mecanismos de discursivização <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r e percorren<strong>do</strong> as instâncias sintáticas,<br />

semânticas e pragmáticas, quanto como perspectiva na qual a Linguagem<br />

funda o huma<strong>no</strong>, opera<strong>do</strong>r da função simbólica e interpela<strong>do</strong> pelo inconsciente.<br />

A abordagem sintática deve ser empreendida especialmente pela Lingüistica<br />

da Enunciação, que postula que a instauração <strong>do</strong> sujeito se dá por <strong>meio</strong> <strong>do</strong> ato<br />

enunciativo: quan<strong>do</strong> esse sujeito se coloca como eu, ele constrói o mun<strong>do</strong> enquanto<br />

objeto ao mesmo tempo em que constrói a si mesmo. Em função <strong>do</strong> eu que<br />

se coloca em relação a um outro, instauram-se também as dimensões espaciais e<br />

temporais <strong>no</strong> enuncia<strong>do</strong>. A linguagem é, assim, a fenda cria<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> sujeito, <strong>do</strong> lugar<br />

e <strong>do</strong> tempo da enunciação.<br />

O discurso, embora obedeça às coerções da estrutura, é da ordem <strong>do</strong> acontecimento<br />

e da História, sen<strong>do</strong>, portanto, lugar de instabilidade das estruturas, onde se<br />

criam efeitos de senti<strong>do</strong>. Como não há acontecimento fora <strong>do</strong>s quadros de tempo,<br />

<strong>do</strong> espaço e da pessoa, torna-se importante compreender o processo de discursivização<br />

pelos mecanismos de actorialização, temporalização e espacialização.<br />

Os esquemas narrativos são assumi<strong>do</strong>s pelo sujeito da enunciação, que os converte<br />

em discurso. Ao realizar-se, a enunciação deixa marcas <strong>no</strong> seu produto, o<br />

enuncia<strong>do</strong>. O discurso construí<strong>do</strong> pela enunciação contém, assim, marcas dessa<br />

instância de comunicação, que podem ser caracterizadas pela presença ou ausência<br />

<strong>do</strong> ato de enunciar reproduzi<strong>do</strong> discursivamente.<br />

A pesquisa em questão também emprega os méto<strong>do</strong>s ofereci<strong>do</strong>s pela análise <strong>do</strong><br />

discurso com a finalidade de operacionalizar os conceitos elucida<strong>do</strong>s. A opção por<br />

este méto<strong>do</strong> de observação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s empíricos justifica-se em função das possibilidades<br />

que ele possibilita, como analisar o texto escrito em função das diversas<br />

instâncias <strong>do</strong> discurso, permitin<strong>do</strong>-o percorrer de suas estruturas sintáticas às prag-<br />

INtRODuçãO | 7

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