Blogs íntimos: percursos no contexto discursivo do meio - ECA-USP
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tinuidades, assim como a regularidade <strong>do</strong> discurso, e não a unidade e a originalidade.<br />
Os discursos, para Foucault, devem ser trata<strong>do</strong>s como conjuntos de acontecimentos<br />
<strong>discursivo</strong>s, séries homogêneas, mas descontínuas, umas em relação às outras. Sua<br />
análise deve seguir o princípio da inversão (onde parece haver um papel positivo,<br />
como a autoria, há o jogo negativo de um recorte e uma rarefação <strong>do</strong> discurso), da<br />
descontinuidade (na qual os discursos devem ser trata<strong>do</strong>s como práticas descontínuas<br />
que se cruzam e se ig<strong>no</strong>ram), da especificidade (não transformar o discurso em<br />
um jogo de significações prévias) e da exterioridade (não passar <strong>do</strong> discurso para seu<br />
núcleo interior e escondi<strong>do</strong> para o âmago de um pensamento ou significação)<br />
Ou seja, a análise <strong>do</strong> discurso deve priorizar as sistematicidades (ou regularidades<br />
<strong>do</strong> discurso) descontínuas, em regiões <strong>no</strong> mesmo discurso e não esquadrinhar<br />
as coerências e contradições, a mensagem <strong>do</strong> texto. O senti<strong>do</strong> organiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> texto<br />
não pode ser almeja<strong>do</strong>, pois a soberania <strong>do</strong> significante foi suspensa, tornan<strong>do</strong> inócuas<br />
as representações por trás <strong>do</strong>s discursos.<br />
A análise <strong>do</strong> discurso proposta por Foucault não pretende, segun<strong>do</strong> o autor, desvendar<br />
a universalidade de um senti<strong>do</strong>, mas mostrar à luz <strong>do</strong> dia o jogo de rarefação<br />
imposto. Concebi<strong>do</strong>s como dispersão, os discursos seguem regras de formação, que<br />
possibilitam determinar os elementos que os compõem, entre eles: os objetos, os<br />
tipos de enunciação, conceitos e estratégias (sistema forma<strong>do</strong> por temas e teorias).<br />
Essas regras que produzem formações discursivas se apresentam como um sistema<br />
de relações entre os elementos que compõem o discurso, sen<strong>do</strong> ele defini<strong>do</strong> como o<br />
conjunto de enuncia<strong>do</strong>s que remetem a uma mesma formação discursiva. São elas<br />
que permitem que se encontre uma certa regularidade na dispersão <strong>do</strong>s discursos,<br />
que, segun<strong>do</strong> Brandão, é atingida pela análise <strong>do</strong>s enuncia<strong>do</strong>s que constituem a<br />
formação discursiva:<br />
Se processo <strong>discursivo</strong> é produção de senti<strong>do</strong>, discurso passa a ser o espaço em que<br />
emergem as significações. E aqui, o lugar específico da constituição <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s<br />
é a formação discursiva, <strong>no</strong>ção que, juntamente com a de condição de produção e<br />
formação ideológica, vai constituir uma tríade básica nas formulações teóricas da<br />
análise <strong>do</strong> discurso. (Brandão, 1991: 35).<br />
A constituição de senti<strong>do</strong> e de identificação <strong>do</strong> sujeito é representada pela Formação<br />
Discursiva, conceito que, para Foucault (2002: 136) significa “um conjunto<br />
de regras anônimas históricas, sempre determinadas <strong>no</strong> tempo e <strong>no</strong> espaço, que definiram<br />
em uma época e para uma área social, econômica, geográfica ou lingüística,<br />
as condições <strong>do</strong> exercício da função enunciativa”, e “aquilo que se pode e se deve<br />
dizer numa situação dada, numa conjuntura dada, lugar provisório da metáfora,<br />
entendida esta como transferência”. As formações discursivas refletem, <strong>no</strong> discurso,<br />
as posições ideológicas e determinam seus senti<strong>do</strong>s.<br />
A <strong>no</strong>ção de formação discursiva formulada por Foucault é reformulada por<br />
Pêcheux, que, de acor<strong>do</strong> com o quadro teórico <strong>do</strong> marxismo althusseria<strong>no</strong>,<br />
Propunha que toda “formação social”, caracterizável por uma certa relação entre as<br />
classes sociais, implica a existência de “posições políticas e ideológicas, que não são<br />
feitas de indivíduos, mas que se organizam em formações que mantêm entre si relações<br />
de antagonismo, de aliança ou de <strong>do</strong>minação”. Essas formações ideológicas<br />
incluem “uma ou várias formações discursivas interligadas, que determinam o que<br />
pode e deve ser dito (articula<strong>do</strong> sob a forma de uma arenga, de um sermão, de um<br />
panfleto, de uma exposição, de um programa etc.) a partir de uma posição dada em<br />
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