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Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

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fraternida<strong>de</strong>.<br />

Para uma "cura", o programa dos AA exige que seus membros <strong>de</strong>pendam radicalmente <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r superior e<br />

dos companheiros que lutam. Muitas pessoas nos grupos a que assisti substituíram o "po<strong>de</strong>r superior" por "Deus".<br />

Abertamente, pe<strong>de</strong>m a Deus perdão e força, e pe<strong>de</strong>m a seus amigos que os cercam que lhes dêem apoio. Vão aos<br />

AA porque crêem que ali a graça flui "solta".<br />

Às vezes, quando subo e <strong>de</strong>sço as escadas que ligam o santuário da nossa igreja ao subsolo, penso no contraste<br />

sobe-e-<strong>de</strong>sce entre os domingos <strong>de</strong> manhã e as noites <strong>de</strong> terça-feira. Apenas alguns dos que se reúnem nas noites<br />

<strong>de</strong> terça-feira voltam aos domingos. Embora apreciem a generosida<strong>de</strong> da igreja em abrir o seu subsolo para eles,<br />

os membros dos AA com os quais conversei disseram que não se sentiriam à vonta<strong>de</strong> na igreja. Lã em cima as<br />

pessoas pareciam inteiras, enquanto eles mal se agüentavam. Eles se sentiam mais confortáveis no meio da<br />

fumaça, sentados nas ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> metal, vestidos com jeans e camisetas e utilizando palavras <strong>de</strong> baixo calão<br />

quando tinham vonta<strong>de</strong>. É àquele lugar que eles pertenciam, não a um santuário com vitrais e bancos alinhados.<br />

Se tão-somente eles percebessem, se tão-somente a igreja pu<strong>de</strong>sse perceber que, em algumas das lições mais<br />

importantes <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong>, os membros do grupo do subsolo eram nossos mestres. Começaram com<br />

honestida<strong>de</strong> radical e terminaram com <strong>de</strong>pendência radical. Se<strong>de</strong>ntos, vieram como "alegres mendigos" todas as<br />

semanas porque o AA era o único lugar que lhes oferecia graça em abundância.<br />

Algumas vezes, em minha igreja, eu pregava o sermão e <strong>de</strong>pois ajudava na cerimônia da Ceia. "Eu não participo<br />

porque sou uma boa pessoa, santa, piedosa e escorreita", escreve Nancy Mairs 9 a respeito da Ceia. "Participo<br />

porque sou uma pessoa ruim, cheia <strong>de</strong> dúvidas, ansieda<strong>de</strong>s e ira: <strong>de</strong>smaiando <strong>de</strong> séria hipoglicemia da alma",<br />

confessa o crente sincero consigo mesmo e com Deus. Depois <strong>de</strong> transmitir o sermão, eu ajudava a nutrir as almas<br />

famintas.<br />

Aqueles que <strong>de</strong>sejassem participar vinham à frente, ficavam silenciosamente em um semicírculo e esperavam<br />

que lhes levássemos os elementos. "O corpo <strong>de</strong> <strong>Cristo</strong> partido por você", eu dizia enquanto apresentava um pão<br />

para ser quebrado pela pessoa diante <strong>de</strong> mim. "O sangue <strong>de</strong> <strong>Cristo</strong> <strong>de</strong>rramado por você", o pastor ao meu lado<br />

dizia, segurando um cálice comum.<br />

Minha esposa trabalhava para a igreja, e eu ensinava a uma classe ali há muitos anos; por isso, conhecia as<br />

histórias <strong>de</strong> algumas pessoas que estavam diante <strong>de</strong> mim. Sabia que Mabel, a mulher com cabelo cor-<strong>de</strong>-palha e<br />

postura alquebrada que viera ao centro dos cidadãos idosos, havia sido uma prostituta. Minha esposa trabalhara<br />

com ela durante sete anos antes <strong>de</strong> Mabel confessar o negro segredo enterrado íá no fundo. Cinqüenta anos atrás,<br />

ela havia vendido seu único filho. Era uma menina. Sua família a rejeitara muito antes, a gravi<strong>de</strong>z havia<br />

eliminado sua única fonte <strong>de</strong> recursos e ela sabia que seria uma mãe negligente, por isso ven<strong>de</strong>u o bebê a um casal<br />

<strong>de</strong> Michigan. Ela não conseguia perdoar-se, dizia. Agora estava junto à amurada para comungar, manchas <strong>de</strong> ruge<br />

como ro<strong>de</strong>las <strong>de</strong> papel coladas às faces, as mãos estendidas, esperando receber o dom da graça. "O corpo <strong>de</strong><br />

<strong>Cristo</strong> quebrado por você, Mabel..."<br />

Ao lado <strong>de</strong> Mabel estavam Gus e Míldred, personagens principais na única cerimônia <strong>de</strong> casamento realizada<br />

entre os idosos da igreja. Eles per<strong>de</strong>ram 150 dólares por mês <strong>de</strong> benefícios do Seguro Social porque se casaram,<br />

em vez <strong>de</strong> viverem juntos, mas Gus insistiu. Ele disse que Míldred era a luz <strong>de</strong> sua vida, e ele não se importava se<br />

vivesse na pobreza contanto que fosse com ela ao seu lado. "O sangue <strong>de</strong> <strong>Cristo</strong> <strong>de</strong>rramado por você, Gus, e por<br />

você, Mildred..."<br />

A seguir vinha Adolphus, um jovem negro irado cujos piores temores a respeito da raça humana se<br />

confirmaram no Vietnã. Adolphus assustava as pessoas, afastando-as da igreja. Uma vez, em uma classe que eu<br />

estava lecionando sobre o livro <strong>de</strong> Josué, Adolphus levantou a mão e pronunciou-se: "Eu gostaria <strong>de</strong> ter agora<br />

uma M-16. Eu mataria todos vocês, seus branquelos, que estão nesta sala". Um ancião da igreja que era médico<br />

levou-o para a sala ao lado e conversou com ele, insistindo que tomasse o seu remédio antes dos cultos <strong>de</strong><br />

domingo. A igreja tolerava Adolphus porque sabia que ele não saíra apenas do ódio, mas também da fome. Se ele<br />

per<strong>de</strong>sse o ônibus, e ninguém lhe oferecesse uma carona, às vezes ele caminhava cinco quilômetros para chegar à<br />

igreja. "O corpo <strong>de</strong> <strong>Cristo</strong> partido por você, Adolphus..."<br />

Eu sorria para Christina e Reiner, um elegante casal germânico contratado pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Chicago.<br />

Ambos eram Ph.D.s e vinham da mesma comunida<strong>de</strong> pietista do sul da Alemanha. Eles nos haviam contado a<br />

respeito do impacto mundial do movimento moraviano que ainda influenciava sua igreja na pátria. E agora<br />

estavam lutando com a notícia que, para eles, era difícil <strong>de</strong> aceitar. Seu filho havia partido para uma viagem<br />

missionária na índia. Ele planejava viver por um ano na pior favela <strong>de</strong> Calcutá. Christina e Reiner sempre<br />

respeitaram tal sacrifício pessoal, mas agora, quando se tratava <strong>de</strong> seu filho, tudo parecia diferente. Eles temiam<br />

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