Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
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assombrosa. O filme <strong>de</strong>talhava falsas <strong>de</strong>núncias, prisões forçadas, queima <strong>de</strong> igrejas — os próprios atos que<br />
<strong>de</strong>ram à KGB sua reputação <strong>de</strong> cruelda<strong>de</strong>, especialmente contra a religião. Na era <strong>de</strong> Stalin, cerca <strong>de</strong> 42.000<br />
sacerdotes per<strong>de</strong>ram suas vidas, e o número total <strong>de</strong> sacerdotes <strong>de</strong>clinou <strong>de</strong> 380.000 para 172. Cerca <strong>de</strong> mil<br />
mosteiros, sessenta seminários e 98% das igrejas ortodoxas foram fechadas.<br />
Repentance <strong>de</strong>screve as atrocida<strong>de</strong>s do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> provinciana. Na cena mais pungente do<br />
filme, mulheres da vila rebuscam a lama <strong>de</strong> um <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iras inspecionando um carregamento <strong>de</strong> toras<br />
que havia acabado <strong>de</strong> <strong>de</strong>scer o rio. Elas estão procurando mensagens <strong>de</strong> seus maridos que cortaram essas toras<br />
em um acampamento <strong>de</strong> prisioneiros. Uma mulher encontra as iniciais gravadas na casca e, chorando, acaricia<br />
ternamente a tora, seu único fio <strong>de</strong> conexão com um marido que ela não po<strong>de</strong> acariciar. O filme termina com uma<br />
camponesa pedindo o en<strong>de</strong>reço <strong>de</strong> uma igreja. Informada <strong>de</strong> que está na rua errada, ela respon<strong>de</strong>: "Para que serve<br />
uma rua se não leva a uma igreja?".<br />
Abruptamente, a reunião tomou um rumo mais pessoal quando Alex Leonovich levantou-se para falar. Alex<br />
estivera sentado na ponta da mesa traduzindo para Stolyarov. Nativo da Bielo-Rússia, ele havia escapado do<br />
reinado do terror <strong>de</strong> Stalin e emigrara para os Estados Unidos. Durante quarenta e seis anos, havia transmitido<br />
programas <strong>de</strong> rádio cristãos, às vezes com interferências, para a sua terra natal. Ele conhecia pessoalmente muitos<br />
dos cristãos que foram torturados e perseguidos por sua fé. Para ele, estar traduzindo essa mensagem <strong>de</strong><br />
reconciliação <strong>de</strong> um alto oficial da KGB era assustador e quase incompreensível.<br />
Alex, um homem corpulento com aparência <strong>de</strong> vovô, representa a velha guarda <strong>de</strong> guerreiros que oraram por<br />
mais <strong>de</strong> meio século para que houvesse mudanças na União Soviética — essas mesmas mudanças que estávamos<br />
aparentemente testemunhando. Ele falou lentamente e com voz baixa ao general Stolyarov.<br />
"General, muitos membros <strong>de</strong> minha família sofreram por causa <strong>de</strong>sta organização", disse Alex. "Eu mesmo<br />
tive <strong>de</strong> sair do país que amava. Meu tio, que me era muito caro, foi para um campo <strong>de</strong> trabalhos forçados na<br />
Sibéria e nunca mais voltou. General, o senhor diz que se arrepen<strong>de</strong>. <strong>Cristo</strong> nos ensinou sobre como respon<strong>de</strong>r.<br />
Em nome <strong>de</strong> minha família, em nome do meu tio que morreu no Gulag, eu o perdôo".<br />
E, então, Alex Leonovich, um evangelista cristão, esten<strong>de</strong>u os braços para o general Nikolai Stolyarov, vicepresi<strong>de</strong>nte<br />
da KGB, e lhe <strong>de</strong>u um abraço <strong>de</strong> urso russo. Enquanto eles se abraçavam, Stolyarov sussurrou alguma<br />
coisa para Alex, e só mais tar<strong>de</strong> ficamos sabendo o que ele disse. "Apenas duas vezes em minha vida eu chorei.<br />
Uma vez foi quando minha mãe morreu. A outra é hoje à noite."<br />
"Eu me sinto como Moisés", disse Alex no ônibus <strong>de</strong> volta para casa naquela noite. "Eu vi a terra prometida.<br />
Estou preparado para a glória."<br />
O fotógrafo russo que nos acompanhava teve uma visão menos otimista. "Tudo não passou <strong>de</strong> uma<br />
encenação", ele disse. "Eles usaram máscaras diante <strong>de</strong> vocês. Não consigo acreditar." Mas ele também vacilava,<br />
<strong>de</strong>sculpando-se um pouco <strong>de</strong>pois: "Talvez eu esteja errado. Não sei mais em que acreditar".<br />
Nas próximas décadas — e talvez séculos — a extinta União Soviética vai enfrentar questões <strong>de</strong> perdão. O<br />
Afeganistão, a Chechênia, a Armênia, a Ucrânia, a Letônia, a Lituânia, a Estônia — cada um <strong>de</strong>sses estados tem<br />
ressentimentos contra o império que os dominava. Cada um <strong>de</strong>les vai questionar as motivações, como o fotógrafo<br />
que nos acompanhou ao quartel-general da KGB. Por bons motivos, os russos não confiam uns nos outros ou no<br />
seu governo. O passado <strong>de</strong>ve ser lembrado antes <strong>de</strong> ser vencido.<br />
Mesmo assim, superar a história é possível, ainda que lenta e imperfeitamente. As ca<strong>de</strong>ias da <strong>de</strong>sgraça po<strong>de</strong>m<br />
realmente quebrar-se com um estalo. Nós, nos Estados Unidos, experimentamos a reconciliação em escala<br />
nacional: arquiinimigos na Segunda Guerra Mundial, a Alemanha e o Japão são agora nossos dois aliados mais<br />
leais. Ainda mais significativamente — e <strong>de</strong> relevância mais direta para lugares como a extinta União Soviética e<br />
a Iugoslávia —, nós lutamos em uma sangrenta Guerra Civil que jogou família contra família e a nação contra si<br />
mesma.<br />
Fui criado em Atlanta, na Geórgia, on<strong>de</strong> as atitu<strong>de</strong>s para com o general Sherman, que queimou Atlanta até os<br />
alicerces, dão uma idéia <strong>de</strong> como os muçulmanos da Bósnia <strong>de</strong>vem ter-se sentido a respeito <strong>de</strong> seus vizinhos<br />
sérvios. Foi Sherman, afinal, que introduziu a tática da "terra arrasada" da guerra mo<strong>de</strong>rna, uma política que seria<br />
aperfeiçoada nos Bálcãs. De alguma forma, nossa nação sobreviveu, unida. Os sulistas ainda <strong>de</strong>batem os méritos<br />
da ban<strong>de</strong>ira dos Confe<strong>de</strong>rados e a canção "Dixie", mas não tenho ouvido muita discussão a respeito da secessão<br />
ultimamente, ato que dividiria a nação em enclaves étnicos. Ao contrário. Dois dos nossos recentes presi<strong>de</strong>ntes<br />
vieram <strong>de</strong> Arkansas e da Geórgia.<br />
Depois da Guerra Civil, políticos e conselheiros insistiram em que Abraham Lincoln punisse o Sul<br />
severamente por todo o <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> sangue que provocou. "Eu não <strong>de</strong>struo meus inimigos quando os<br />
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