Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
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encontrou-se secretamente com todos os diretores, orou com eles e ajudou-os a mudar <strong>de</strong> idéia (uma bússola<br />
misteriosamente <strong>de</strong>feituosa no avião atrasou o vôo, possibilitando este encontro crucial).<br />
Nelson Man<strong>de</strong>la quebrou a ca<strong>de</strong>ia da ausência <strong>de</strong> graça quando emergiu <strong>de</strong> sua prisão <strong>de</strong> vinte e seis anos com<br />
uma mensagem <strong>de</strong> perdão e reconciliação, e não <strong>de</strong> vingança. O próprio F. W. De Klerk, eleito pelas menores e<br />
mais restritamente calvinistas igrejas sul-africanas, sentiu o que mais tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>screveu como "um forte senso <strong>de</strong><br />
chamado". Disse à sua congregação que Deus o chamava para salvar todo o povo da África do Sul, mesmo<br />
sabendo que isso significaria rejeição por parte <strong>de</strong> seu próprio povo.<br />
Lí<strong>de</strong>res negros insistiram que De Klerk pedisse <strong>de</strong>sculpas pelo apartheid racial. Ele se esquivou, porque seu<br />
próprio pai estivera envolvido na implantação do sistema. Mas o bispo Desmond Tutu 6 cria que era essencial que<br />
o processo da reconciliação na África do Sul começasse com perdão, e ele não ce<strong>de</strong>ria. De acordo com Tutu,<br />
"po<strong>de</strong>mos ensinar uma lição ao mundo, ao povo da Bósnia, Ruanda e Burundi: estamos prontos a perdoar".<br />
Finalmente, De Klerk pediu perdão.<br />
Agora que a maioria negra tem o po<strong>de</strong>r político, estão formalmente consi<strong>de</strong>rando questões <strong>de</strong> perdão. O<br />
ministro da justiça parece muito teológico quando formula um plano <strong>de</strong> ação. Ninguém po<strong>de</strong> perdoar em lugar das<br />
vítimas, ele diz; elas próprias têm <strong>de</strong> perdoar pessoalmente. E ninguém po<strong>de</strong> perdoar sem plena divulgação; o que<br />
aconteceu e quem fez o quê tem <strong>de</strong> ser primeiramente revelado. Além disso, aqueles que cometeram atrocida<strong>de</strong>s<br />
têm <strong>de</strong> concordar em pedir perdão antes que este seja concebido. Passo a passo, os sul-africanos estão se<br />
lembrando do seu passado a fim <strong>de</strong> perdoá-lo.<br />
O perdão não é fácil nem bem <strong>de</strong>finido, como os sul-africanos estão <strong>de</strong>scobrindo. O papa po<strong>de</strong> perdoar quem<br />
tentou assassiná-lo, mas não po<strong>de</strong> pedir que o soltem da ca<strong>de</strong>ia. Po<strong>de</strong>-se perdoar os alemães, porém colocando<br />
restrições nos seus exércitos; perdoa-se um estuprador <strong>de</strong> crianças, mantendo-o no entanto afastado <strong>de</strong> suas<br />
vítimas; perdoa-se o racismo, contudo reforçam-se as leis para evitar que seja praticado novamente.<br />
As nações que buscam o perdão, em toda a sua complexida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>m pelo menos evitar as conseqüências<br />
horríveis da alternativa: a falta <strong>de</strong> perdão. Em vez <strong>de</strong> cenas <strong>de</strong> massacre e guerra civil, o mundo alegrou-se à vista<br />
dos negros sul-africanos em longas filas que, em alguns casos, se estendiam por mais <strong>de</strong> um quilômetro e meio,<br />
dançando <strong>de</strong> júbilo por sua primeira oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> votar.<br />
Consi<strong>de</strong>rando que o perdão vai contra a natureza humana, ele <strong>de</strong>ve ser ensinado e praticado, como se pratica<br />
qualquer arte difícil. "O perdão não é simplesmente um ato ocasional: é uma atitu<strong>de</strong> permanente", disse Martin<br />
Luther King Jr. Que presente maior os cristãos po<strong>de</strong>riam dar ao mundo do que a formação <strong>de</strong> uma cultura que<br />
preserva a graça e o perdão?<br />
Os beneditinos, por exemplo, têm um comovente culto <strong>de</strong> perdão e reconciliação. Depois <strong>de</strong> dar instruções da<br />
Bíblia, os lí<strong>de</strong>res pe<strong>de</strong>m a cada presente que i<strong>de</strong>ntifique questões que exigem perdão. Os participantes mergulham<br />
então as mãos em uma gran<strong>de</strong> vasilha <strong>de</strong> cristal com água, "segurando" o ressentimento nas mãos em concha.<br />
Enquanto oram por graça para perdoar, gradualmente suas mãos se abrem para simbolicamente "soltar" o<br />
ressentimento. "Encenar uma cerimônia como esta com todo o corpo", diz Bruce Demarest, um participante, "tem<br />
mais po<strong>de</strong>r transformador do que simplesmente enunciar as palavras 'eu perdôo'". Que impacto seria se negros e<br />
brancos na África do Sul, ou nos Estados Unidos, mergulhassem suas mãos repetidas vezes em uma vasilha<br />
comum <strong>de</strong> perdão!<br />
Em seu livro The Prisoner and the Bomb [O prisioneiro e a bomba], Laurens van <strong>de</strong>r Post 7 narra a miséria <strong>de</strong><br />
suas experiências no tempo da guerra em um campo japonês para prisioneiros em Java. Nesse lugar tão pouco<br />
propício ele concluiu:<br />
A única esperança para o futuro estava na atitu<strong>de</strong> abrangente do perdão das pessoas que foram nossas<br />
inimigas. O perdão, minha experiência na prisão me ensinou, não era mero sentimentalismo religioso; era uma<br />
lei fundamental do espírito humano, como a lei da gravida<strong>de</strong>. Se alguém transgri<strong>de</strong> a lei da gravida<strong>de</strong>, quebra o<br />
pescoço; se alguém transgri<strong>de</strong> a lei do perdão, inflige um ferimento mortal ao espírito e se torna novamente um<br />
membro da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> prisioneiros da mera causa e efeito da qual a vida tem lutado para escapar tão<br />
dolorosamente e há tanto tempo.<br />
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