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Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

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corrente ininterrupta <strong>de</strong> cartas. Seu pai morreu, <strong>de</strong>pois sua mãe, mas ele nunca pensou seriamente em voltar aos<br />

Estados Unidos para uma visita. Até on<strong>de</strong> eu sei, ninguém na família <strong>de</strong>le nem nenhum dos seus amigos também<br />

o visitou na África do Sul.<br />

As cartas se tornaram sombrias na década <strong>de</strong> 90, quando pela primeira vez tornou-se concebível que brancos e<br />

negros partilhariam o po<strong>de</strong>r na África do Sul. Harold me enviou cópias <strong>de</strong> cartas que havia mandado para os<br />

jornais. O governo da África do Sul o estava traindo exatamente como o governo dos Estados Unidos. Ele dizia<br />

po<strong>de</strong>r provar que Nelson Man<strong>de</strong>la e Desmond Tutu eram comunistas <strong>de</strong> carteirinha. Chamava os americanos <strong>de</strong><br />

traidores pelo seu apoio às sanções econômicas. E apontava para a agitação comunista como a razão principal por<br />

trás do <strong>de</strong>clínio da moralida<strong>de</strong>. Clubes <strong>de</strong> strip-tease estavam agora sendo abertos nas cida<strong>de</strong>s fronteiriças. E na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Johannesburgo podia-se ver realmente casais <strong>de</strong> raças misturadas andando <strong>de</strong> mãos dadas. O tom <strong>de</strong><br />

suas cartas estava tornando-se cada vez mais histérico.<br />

Com alguma apreensão, resolvi visitar Harold em 1993- Durante vinte e cinco anos eu havia recebido apenas<br />

julgamento e <strong>de</strong>saprovação da parte <strong>de</strong>le. Ele havia mandado longas refutações aos meus livros, até que um <strong>de</strong>les,<br />

Disappointment with God [Decepcionado com Deus], fê-lo ficar tão irado que me pediu que não lhe mandasse<br />

mais nenhum. Despachou uma carta <strong>de</strong> três páginas con<strong>de</strong>nando-o -— não o livro propriamente dito, mas o título.<br />

Embora não tivesse nem aberto o livro, tinha muita coisa a dizer a respeito do título, que achava ofensivo.<br />

Mesmo assim, uma vez que eu ia à África do Sul a negócios, po<strong>de</strong>ria fazer um <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> alguns quilômetros<br />

para visitar o Big Harold. Talvez ele fosse diferente pessoalmente, mais parecido com o homem que eu havia<br />

conhecido. Talvez precisasse entrar em contato com um mundo maior. Eu lhe escrevi com meses <strong>de</strong> antecedência<br />

perguntando se po<strong>de</strong>ria visitã-lo e imediatamente suas cartas mudaram para um tom mais ameno, mais<br />

conciliador.<br />

O único vôo para a cida<strong>de</strong> do Harold saía <strong>de</strong> Johannesburgo às<br />

6h30, e quando eu e minha esposa chegamos ao aeroporto serviram-nos café. A cafeína aumentou o nosso<br />

nervosismo por causa da visita. Não tínhamos idéia do que esperar. Os filhos <strong>de</strong>le eram agora adultos que, sem<br />

dúvida, falariam com sotaque sul-africano. Será que eu reconheceria os pais, Harold e Sarah? Fiz uma anotação<br />

mental <strong>de</strong> abandonar o título Big Harold, remanescente da infância.<br />

E assim começou um dos dias mais bizarros <strong>de</strong> minha vida. Quando o avião pousou e nós <strong>de</strong>sembarcamos,<br />

reconheci Sarah imediatamente. Seu cabelo estava grisalho e seus ombros curvos com a ida<strong>de</strong>, mas aquele rosto<br />

triste, magro, não po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong> mais ninguém. Ela me abraçou e nos apresentou o filho William e sua noiva<br />

Beveriy (a filha morava longe e não po<strong>de</strong>ria nos receber).<br />

William tinha quase trinta anos, era falante, simpático e gran<strong>de</strong> admirador da América. Mencionou que tinha<br />

conhecido sua noiva em uma clínica <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> viciados em drogas. Obviamente, alguns fatos nunca<br />

entraram nas cartas do Harold.<br />

William havia tomado emprestado uma velha perua Volskwagen, pensando que teríamos muita bagagem. Os<br />

assentos do meio da perua tinham sido retirados. William, Beveriy e Sarah sentaram-se na frente enquanto eu e<br />

minha esposa ocupamos o único assento <strong>de</strong> trás, diretamente em cima do motor. Estava fazendo calor e a fumaça<br />

do motor entrava pelos buracos no piso enferrujado. Para piorar, Beveriy e William, como muitos que se<br />

recuperam do vício das drogas, fumavam sem parar e nuvens <strong>de</strong> fumaça pairavam <strong>de</strong>ntro do carro, misturando-se<br />

com a <strong>de</strong>scarga do óleo.<br />

William nos levou a um passeio maluco pela cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> um lado para outro, parando aqui e acolá. E ele, a todo<br />

momento, se voltava em seu assento para <strong>de</strong>stacar vistas interessantes; —- Ouviu falar do dr. Christian Barnard?<br />

Ele morou nesta casa — e, quando o fazia, a perua pulava <strong>de</strong> um lado para o outro, a bagagem espalhando-se pelo<br />

chão. Tínhamos <strong>de</strong> lutar para manter no estômago os litros <strong>de</strong> café e o <strong>de</strong>sjejum do avião.<br />

Havia uma pergunta que eu ainda não tinha feito: On<strong>de</strong> estava Harold? Eu imaginava que ele estivesse nos<br />

esperando em casa. Mas, quando saltamos, ninguém apareceu à porta. — On<strong>de</strong> está o Harold? — perguntei ao<br />

William enquanto retirávamos a bagagem, lembrando-me <strong>de</strong> esquecer o "Gran<strong>de</strong>".<br />

—Nós íamos contar-lhe, mas ainda não tivemos oportunida<strong>de</strong>. Papai está na ca<strong>de</strong>ia — ele procurou um outro<br />

cigarro em seu bolso.<br />

—Ca<strong>de</strong>ia? — meu cérebro se encolheu.<br />

— Isso mesmo. Já <strong>de</strong>veria ter saído, mas a sua libertação atrasou. Fiquei olhando para ele à espera <strong>de</strong> mais<br />

explicações. — É que...<br />

bem, papai às vezes se <strong>de</strong>scontrola. Ele escreve cartas zangadas...<br />

— Eu sei, eu recebi algumas <strong>de</strong>ssas cartas — interrompi.<br />

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