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Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

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a conformida<strong>de</strong>. Cada conjunto <strong>de</strong> regras era um sistema sutilmente afinado <strong>de</strong> não-graça.<br />

O livro <strong>de</strong> Goffman ajudou-me a ver a faculda<strong>de</strong> cristã, e o funda-mentalismo em geral, como um ambiente<br />

controlado, uma subcultura. Eu estivera magoado com esse ambiente, mas então comecei a perceber que cada um<br />

<strong>de</strong> nós se <strong>de</strong>senvolve em uma subcultura. Alguns (como os ju<strong>de</strong>us hassídicos e os muçulmanos fundamentalistas)<br />

são mais legalistas do que os fundamentalistas do Sul; outros (as gangues das cida<strong>de</strong>s e os grupos militares <strong>de</strong><br />

direita) são muito mais perigosos; outros ainda (a subcultura do vi<strong>de</strong>ogame/MTV) parecem benignos na<br />

superfície, mas se revelam insidiosos. Minha resistência ao fundamentalismo abrandou-se quando consi<strong>de</strong>rei as<br />

alternativas.<br />

Comecei a ver a faculda<strong>de</strong> cristã como um tipo <strong>de</strong> aca<strong>de</strong>mia militar espiritual: ambas exigiam camas bem<br />

feitas, cabelo mais curto e postura mais rígida do que as outras escolas. Se eu não gostasse daquilo, podia ir<br />

embora.<br />

O que me aborrece, na retrospectiva, era a tentativa da faculda<strong>de</strong> cristã <strong>de</strong> relacionar todas as regras com a lei<br />

<strong>de</strong> Deus. No livro <strong>de</strong> sessenta e seis páginas das regras — nós brincávamos que ele incluía uma página para cada<br />

livro da Bíblia — e nos cultos na capela, os <strong>de</strong>ões e professores esforçavam-se para fundamentar cada regra em<br />

princípios bíblicos. Eu fervia <strong>de</strong> raiva diante <strong>de</strong> suas tentativas contorcionistas para con<strong>de</strong>nar o cabelo comprido<br />

nos homens, cientes <strong>de</strong> que Jesus e muitos personagens bíblicos que estudávamos provavelmente tinham cabelos<br />

mais longos do que os nossos. A regra a respeito do comprimento do cabelo tinha mais a ver com a probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ofen<strong>de</strong>r os mantenedores do que qualquer coisa nas Escrituras, mas ninguém se atrevia a admitir isso.<br />

Não podia encontrar uma palavra na Bíblia a respeito do rock, comprimento <strong>de</strong> saias ou uso <strong>de</strong> cigarros. E a<br />

proibição do álcool nos colocava do lado <strong>de</strong> João Batista, e não <strong>de</strong> Jesus. Mas as autorida<strong>de</strong>s naquela escola<br />

fizeram esforços <strong>de</strong>terminados <strong>de</strong> apresentar todas aquelas regras como parte do evangelho. A subcultura se<br />

misturou com a mensagem.<br />

Devo esclarecer que, <strong>de</strong> muitas maneiras, agora me sinto grato pela severida<strong>de</strong> do fundamentalismo, que<br />

talvez me tenha mantido afastado <strong>de</strong> problemas. O legalismo restrito estabelece fronteiras para os <strong>de</strong>svios: nós<br />

podíamos escapulir pela alameda do boliche, mas nunca pensaríamos em tocar em álcool ou — que horror! — em<br />

drogas. Embora não encontre nada na Bíblia contra o fumo, sinto-me grato que o fundamentalismo me tenha<br />

assustado e me afastado <strong>de</strong>le antes mesmo que o Ministério da Saú<strong>de</strong> criasse excelentes advertências.<br />

Resumindo, tenho poucos ressentimentos contra essas regras especiais, mas muito ressentimento contra a<br />

maneira pela qual eram estabelecidas. Tinha o sentimento constante, esmagador, <strong>de</strong> que obe<strong>de</strong>cer a um código<br />

externo <strong>de</strong> comportamento era a maneira <strong>de</strong> agradar a Deus — mais do que isso, <strong>de</strong> fazer Deus me amar. Levou<br />

anos para <strong>de</strong>stilar o evangelho da subcultura na qual eu o encontrei. Lamentavelmente, muitos dos meus amigos<br />

<strong>de</strong>sistiram dos esforços, nunca se aproximando <strong>de</strong> Jesus porque a intolerância da igreja bloqueou o caminho.<br />

Hesito em escrever a respeito dos perigos do legalismo em uma época em que ambas, a igreja e a socieda<strong>de</strong>,<br />

parecem estar-se inclinando para a direção oposta. Ao mesmo tempo, não sei <strong>de</strong> nada que represente uma ameaça<br />

maior para a graça. O legalismo po<strong>de</strong> "funcionar" em uma instituição tal como uma faculda<strong>de</strong> cristã ou a<br />

Marinha. Em um mundo carente <strong>de</strong> graça, a <strong>de</strong>sonra estruturada tem po<strong>de</strong>r consi<strong>de</strong>rável. Mas há um preço, um<br />

preço incalculável: a não-graça não funciona no relacionamento com Deus. Passei a ver o legalismo em sua busca<br />

<strong>de</strong> falsa pureza como um esquema elaborado para fugir da graça. Você po<strong>de</strong> conhecer a lei <strong>de</strong> cor sem conhecer a<br />

sua essência.<br />

Tenho um amigo que tentou ajudar um homem <strong>de</strong> meia-ida<strong>de</strong> a vencer sua reação alérgica à igreja; em seu<br />

caso, isso era <strong>de</strong>vido a uma criação exageradamente severa em escolas católicas. "Você vai realmente permitir<br />

que algumas freiras vestidas <strong>de</strong> branco e preto o mantenham longe do reino <strong>de</strong> Deus?", meu amigo perguntou.<br />

Trágico é dizer que, durante anos, a resposta foi sim.<br />

Quando estudo a vida <strong>de</strong> Jesus, um fato sempre me surpreen<strong>de</strong>: o grupo que <strong>de</strong>ixou Jesus mais irado foi o grupo<br />

com o qual, pelo menos externamente, Ele mais se i<strong>de</strong>ntificava. Os mestres concordam que Jesus tinha o perfil<br />

rigoroso <strong>de</strong> um fariseu. Obe<strong>de</strong>cia à Tora, ou lei mosaica, citava os fariseus famosos e, com freqüência,<br />

concordava com eles em argumentos públicos. Jesus, porém, dirigiu aos fariseus os seus mais fortes ataques.<br />

"Serpentes, 1 raça <strong>de</strong> víboras! Hipócritas! Condutores cegos! Sepulcros caiados!", era assim que <strong>Cristo</strong> os<br />

chamava.<br />

O que provocava tais explosões? Os fariseus tinham muita coisa em comum com aqueles que, atualmente, a<br />

imprensa po<strong>de</strong>ria chamar <strong>de</strong> fundamentalistas bíblicos. Eles <strong>de</strong>dicavam suas vidas para seguir a Deus, davam um<br />

dízimo exato, obe<strong>de</strong>ciam à Tora nos mínimos <strong>de</strong>talhes e enviavam missionários para ganhar novos convertidos.<br />

Diferindo dos relativistas e secularistas do primeiro século, mantinham-se fiéis aos valores tradicionais.<br />

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