Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
A esposa <strong>de</strong> Alexan<strong>de</strong>r escreveu uma carta pedindo perdão à viúva do homem negro, uma carta que foi <strong>de</strong>pois<br />
impressa em The New York Times. "Henry viveu uma mentira toda a sua vida, e me fez vivê-la também", ela<br />
escreveu. Todos aqueles anos ela havia acreditado na inocência do marido. Ele não <strong>de</strong>monstrou nenhum sinal<br />
exterior <strong>de</strong> remorso até os últimos dias <strong>de</strong> sua vida, tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais para tentar uma retratação pública. Mas não<br />
conseguiu levar o terrível segredo da culpa para a sepultura. Depois <strong>de</strong> trinta e seis anos <strong>de</strong> veementes negativas,<br />
ainda precisava da libertação que apenas o perdão po<strong>de</strong>ria conce<strong>de</strong>r.<br />
Outro membro da Ku Klux Klan, o Gran<strong>de</strong> Dragão Larry Trapp, <strong>de</strong> Lincoln, no Nebraska, provocou gran<strong>de</strong>s<br />
manchetes nos jornais quando, em 1992, renunciou a seu ódio, rasgou suas ban<strong>de</strong>iras nazistas e <strong>de</strong>struiu muitas<br />
caixas <strong>de</strong> literatura voltada ao ódio. Como Kathryn Watterson conta no livro Not by the Sword [Não pela espada],<br />
Trapp 6 fora vencido pelo amor per doador <strong>de</strong> um cantor ju<strong>de</strong>u e sua família. Embora Trapp lhes enviasse panfletos<br />
vis zombando dos ju<strong>de</strong>us e negando o Holocausto, embora fizesse ameaças violentas telefonando para a casa<br />
<strong>de</strong>les, embora escolhesse a sinagoga <strong>de</strong>les para que fosse explodida, a família do cantor sistematicamente reagia<br />
com compaixão e interesse. Diabético <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância, Trapp ficou confinado a uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas e notou que<br />
estava per<strong>de</strong>ndo rapidamente a visão; a família do cantor convidou Trapp para que fosse morar com eles, para<br />
cuidar <strong>de</strong>le. "Eles me <strong>de</strong>monstraram tal amor que eu não pu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> amá-los em retribuição", Trapp disse<br />
mais tar<strong>de</strong>. Ele passou seus últimos meses <strong>de</strong> vida buscando o perdão dos grupos ju<strong>de</strong>us e <strong>de</strong> muitos indivíduos<br />
que havia odiado.<br />
Nos últimos anos, auditórios em todo o mundo estiveram assistindo ao drama do perdão apresentado no palco<br />
na versão musical <strong>de</strong> Les Misérables [Os miseráveis]. O musical segue sua fonte original: o romance agitado <strong>de</strong><br />
Victor Hugo, 7 que conta a história <strong>de</strong> Jean Valjean, um prisioneiro francês perseguido e, finalmente, transformado<br />
pelo perdão.<br />
Con<strong>de</strong>nado a <strong>de</strong>zenove anos <strong>de</strong> trabalhos forçados pelo crime <strong>de</strong> roubar pão, Jean Valjean gradualmente<br />
endureceu-se até se transformar em um ru<strong>de</strong> prisioneiro. Ninguém podia vencê-lo em uma briga. Ninguém podia<br />
quebrar sua vonta<strong>de</strong>. Finalmente, Valjean recebeu a anistia. Mas os con<strong>de</strong>nados naquele tempo tinham <strong>de</strong><br />
carregar cartões <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação, e nenhum dono <strong>de</strong> pousada permitiria que um criminoso perigoso passasse ali a<br />
noite. Durante quatro dias vagou pelas estradas do lugarejo, procurando abrigo contra as intempéries, até que,<br />
finalmente, um bondoso bispo teve misericórdia <strong>de</strong>le.<br />
Naquela noite Jean Valjean ficou quieto em uma cama extremamente confortável até que o bispo e sua irmã<br />
caíram no sono. Levantou-se da cama, esvaziou os armários on<strong>de</strong> a família guardava a prata e saiu<br />
silenciosamente para as trevas.<br />
Na manhã seguinte, três policiais bateram à porta do bispo, com Valjean a reboque. Eles haviam apanhado o<br />
con<strong>de</strong>nado fugindo com a prata furtada e estavam prontos a colocar o canalha na ca<strong>de</strong>ia pelo resto <strong>de</strong> sua vida.<br />
O bispo reagiu <strong>de</strong> um jeito que ninguém, especialmente Jean Valjean, esperava.<br />
"Então você está aí!", ele gritou para Valjean. "Que bom vê-lo <strong>de</strong> novo. Você esqueceu que eu lhe <strong>de</strong>i também<br />
os castiçais? São <strong>de</strong> prata como o resto, e valem bem uns 200 francos. Esqueceu <strong>de</strong> levá-los?" Jean Valjean<br />
arregalou os olhos. Olhava para o velho homem com uma expressão que palavras não po<strong>de</strong>riam traduzir.<br />
Valjean não era ladrão, o bispo garantiu aos policiais. "Eu lhe <strong>de</strong>i esta prata <strong>de</strong> presente."<br />
Quando os policiais se afastaram, o bispo entregou os castiçais a seu hóspe<strong>de</strong>, agora trêmulo e sem fala. "Não<br />
se esqueça, jamais se esqueça", disse o bispo, "<strong>de</strong> que você me prometeu que usaria o dinheiro para se tornar um<br />
homem honesto."<br />
O po<strong>de</strong>r da atitu<strong>de</strong> do bispo, <strong>de</strong>safiando todo instinto humano <strong>de</strong> vingança, transformou a vida <strong>de</strong> Jean Valjean<br />
para sempre. Um encontro direto com o perdão — especialmente porque nunca se arrepen<strong>de</strong>ra — <strong>de</strong>rreteu o<br />
granito das <strong>de</strong>fesas <strong>de</strong> sua alma. Ele manteve os castiçais como lembrança preciosa da graça e <strong>de</strong>dicou-se daquele<br />
momento em diante a ajudar outras pessoas necessitadas.<br />
O romance <strong>de</strong> Hugo é, <strong>de</strong> fato, uma parábola <strong>de</strong> dois gumes a respeito do perdão. Um <strong>de</strong>tetive chamado Javert,<br />
que não conhece outra lei além da justiça, persegue Jean Valjean sem misericórdia nas duas décadas seguintes.<br />
Assim como Valjean é transformado pelo perdão, o <strong>de</strong>tetive é consumido pela se<strong>de</strong> <strong>de</strong> vingança. Quando Valjean<br />
salva a vida <strong>de</strong> Javert — a presa <strong>de</strong>monstrando graça para com o seu perseguidor —, o <strong>de</strong>tetive sente que o seu<br />
mundo em preto-e-branco começa a se <strong>de</strong>sintegrar. Incapaz <strong>de</strong> conviver com a graça que vai contra todo o<br />
instinto, e não encontrando em si mesmo o perdão correspon<strong>de</strong>nte, Javert pula <strong>de</strong> uma ponte e afoga-se no rio<br />
Sena.<br />
O perdão magnânimo, tal como foi oferecido a Valjean pelo bispo, dá possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformação à parte<br />
culpada. Lewis Sme<strong>de</strong>s 8 <strong>de</strong>talha este processo <strong>de</strong> "cirurgia espiritual":<br />
41