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Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

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cruelda<strong>de</strong> do chefe. "Hoje em dia, a gente não po<strong>de</strong> facilitar", ele rosna; antes que a jovem percebesse, estava na<br />

rua sem um tostão. Ela ainda conseguia ganhar alguma coisa <strong>de</strong> noite, mas não lhe pagavam muito, e todo o<br />

dinheiro era usado para manter o vício. Quando chegou o inverno, ela se encontrava dormindo nas gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

metal do lado <strong>de</strong> fora <strong>de</strong> uma loja <strong>de</strong> <strong>de</strong>partamentos. "Dormir" não é a palavra certa — uma adolescente sozinha<br />

na noite em Detroit não po<strong>de</strong> nunca baixar a guarda. Estava com olheiras profundas. Sua tosse piorava.<br />

Uma noite ela se encontrava acordada, atenta ao barulho <strong>de</strong> passos; <strong>de</strong> repente, tudo ao seu redor pareceu<br />

diferente. Ela não se sentia mais como uma mulher do mundo. Sentia-se uma menininha perdida em uma cida<strong>de</strong><br />

fria e assustadora. Começou a soluçar. Seus bolsos estavam vazios e estava com fome. Precisava <strong>de</strong> uma dose.<br />

Trêmula, encolheu as pernas <strong>de</strong>baixo dos jornais que empilhara sobre o seu casaco. Alguma coisa acionou uma<br />

série <strong>de</strong> lembranças e uma imagem preenchia sua mente: o mês <strong>de</strong> maio em Traverse City, quando milhares <strong>de</strong><br />

cerejeiras estão em flor todas ao mesmo tempo, e ela via seu cachorro correndo no meio das fileiras das árvores<br />

em flor atrás <strong>de</strong> uma bola <strong>de</strong> tênis.<br />

Deus, por que eu fugi?, ela disse para si mesma, e uma dor traspassa seu coração. Meu cachorro em casa come<br />

melhor do que eu agora. A jovem estava soluçando e, imediatamente, percebeu que <strong>de</strong>sejava voltar para casa<br />

mais do que qualquer outra coisa no mundo.<br />

Três telefonemas, todos caindo na secretária eletrônica. Nas duas primeiras vezes, ela <strong>de</strong>sligou sem <strong>de</strong>ixar uma<br />

mensagem; na terceira, porém, disse: "Papai, mamãe, sou eu. Estive pensando em voltar para casa. Estou pegando<br />

um ônibus e chegarei aí amanhã lá pela meia-noite. Se vocês não estiverem me esperando, bem, acho que ficarei<br />

no ônibus e irei para o Canadá".<br />

Foram sete horas <strong>de</strong> ônibus entre Detroit e Traverse City; durante aquele tempo ela percebia os erros no seu<br />

plano., E se os pais estivessem fora da cida<strong>de</strong> e nem tivessem ouvido a mensagem? Não <strong>de</strong>veria ter esperado<br />

outro dia para po<strong>de</strong>r falar com eles? E, mesmo que estivessem em casa, provavelmente já a consi<strong>de</strong>ravam morta<br />

há muito tempo. Deveria ter-lhes dado um tempo para se recuperarem do choque.<br />

Seus pensamentos pulavam <strong>de</strong> lá para cá entre as preocupações e o discurso que estava preparando para o pai.<br />

"Papai, sinto muito. Sei que estava errada. A culpa não foi sua; foi minha. Papai, você po<strong>de</strong> me perdoar?" Ela<br />

repetiu as palavras muitas e muitas vezes, com a garganta apertada enquanto as ensaiava. Nos últimos anos não<br />

havia pedido perdão a ninguém.<br />

O ônibus estivera andando com as luzes acesas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Bay City. Floquinhos <strong>de</strong> neve batem no calçamento<br />

<strong>de</strong>sgastado por milhares <strong>de</strong> pneus e o asfalto exala vapor. Ela havia esquecido como a noite é escura lá fora. Um<br />

cervo cruzou a estrada como uma flecha e o ônibus <strong>de</strong>u uma guinada. De vez em quando, aparecia um outdoor ao<br />

lado da estrada. Uma placa indicava quantos quilômetros faltavam até Traverse City. Oh, Deus!<br />

Quando o ônibus finalmente entrou na rodoviária, os freios sibilando em protesto, o motorista anunciou no<br />

microfone: "Quinze minutos, pessoal. É tudo quanto vamos gastar aqui". Quinze minutos para <strong>de</strong>cidir sua vida.<br />

Ela se examinou em um espelhinho, alisou o cabelo e limpou o <strong>de</strong>nte manchado <strong>de</strong> batom. Olhou para as manchas<br />

<strong>de</strong> fumo nas pontas dos <strong>de</strong>dos e ficou imaginando se os pais iriam perceber. Se estivessem lã.<br />

A jovem entrou no saguão sem saber o que esperar. Nenhuma das milhares <strong>de</strong> cenas que passaram por sua<br />

cabeça a prepararam para aquilo que viu. Ali, naquele terminal <strong>de</strong> ônibus <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> concreto e ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong><br />

plástico <strong>de</strong> Traverse City, em Michigan, estava um grupo <strong>de</strong> quarenta parentes, irmãos e irmãs, tios e primos, uma<br />

avó e uma bisavó para recebê-la. Todos eles estavam usando chapeuzinhos <strong>de</strong> festa e assoprando apitos; na pare<strong>de</strong><br />

do terminal havia um cartaz, dizendo: "Seja bem-vinda!".<br />

Da multidão que a recepciona irrompe o papai. Ela olhou para ele através das lágrimas que brotavam dos seus<br />

olhos como mercúrio quente e começou o discurso memorizado: "Papai, sinto muito. Eu sei...".<br />

Ele a interrompeu. "Quieta, filhinha. Não temos tempo para isso agora. Nada <strong>de</strong> pedidos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpas. Você<br />

vai chegar atrasada na festa. Lã em casa há um banquete esperando por você."<br />

Estamos acostumados a achar um impedimento em cada promessa,<br />

mas as histórias <strong>de</strong> Jesus a respeito da graça extravagante não incluem nenhum impedimento, nenhuma brecha<br />

nos <strong>de</strong>squalificando do amor <strong>de</strong> Deus. Cada uma <strong>de</strong>las traz no seu âmago um final bom <strong>de</strong>mais para ser<br />

verda<strong>de</strong>iro — ou tão bom que tem <strong>de</strong> ser verda<strong>de</strong>iro.<br />

Como essas histórias são diferentes das minhas próprias noções <strong>de</strong> Deus na minha infância: um Deus que<br />

perdoa, sim, mas relutantemente, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazer o penitente contorcer-se. Eu imaginava Deus como uma figura<br />

trovejante e distante que prefere medo e respeito ao amor. Jesus, pelo contrário, fala <strong>de</strong> um pai publicamente se<br />

humilhando e correndo ao encontro do filho para abraçar aquele que <strong>de</strong>sperdiçou meta<strong>de</strong> da fortuna da família.<br />

Não há nenhum discurso solene: "Espero que você tenha aprendido a lição!". Pelo contrário, Jesus fala da<br />

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