Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
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O jornal New York Times 13 recentemente publicou uma série <strong>de</strong> reportagens sobre crimes no Japão mo<strong>de</strong>rno.<br />
Por que, eles perguntavam, nos Estados Unidos se prendiam 519 cidadãos para cada 100.000, quando no Japão se<br />
prendiam apenas 37? Em busca <strong>de</strong> resposta, o repórter entrevistou um japonês que havia acabado <strong>de</strong> cumprir uma<br />
sentença por assassinato. Nos quinze anos que passou na ca<strong>de</strong>ia, não recebeu uma única visita. Depois <strong>de</strong> solto,<br />
sua esposa e filho vieram encontrar-se com ele apenas para dizer-lhe que nunca retornasse à sua casa. Suas três<br />
filhas, agora casadas, recusavam-se a vê-lo. "Eu acho que tenho quatro netos", o homem disse com tristeza,<br />
"nunca vi um retrato <strong>de</strong>les". A socieda<strong>de</strong> japonesa encontrou um jeito <strong>de</strong> aproveitar o po<strong>de</strong>r da não-graça. Uma<br />
cultura que valoriza "ter a cara limpa" não tem lugar para aqueles que trazem a <strong>de</strong>sgraça.<br />
Até mesmo as famílias, que unem indivíduos por aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> nascimento, e não por <strong>de</strong>sempenho, respiram a<br />
poluída fumaça da não-graça. Uma história <strong>de</strong> Ernest Hemingway 14 revela esta verda<strong>de</strong>. Um pai espanhol <strong>de</strong>cidiu<br />
reconciliar-se com seu filho que havia fugido para Madri. Cheio <strong>de</strong> remorso, o pai publica este anúncio no jornal<br />
El Liberal: "PACO, ENCONTRE-SE COMIGO NO HOTEL MONTANA TERÇA-FEIRA AO MEIO-DIA.<br />
ESTÁ TUDO PERDOADO, PAPÁ". Paco é um nome comum na Espanha. E quando o pai vai ao local<br />
combinado, encontra oitocentos jovens chamados Paco à espera <strong>de</strong> seus pais.<br />
Hemingway conhecia a não-graça nas famílias. Seus <strong>de</strong>votos pais (os avós <strong>de</strong>le haviam freqüentado a<br />
universida<strong>de</strong> evangélica <strong>de</strong> Wheaton) <strong>de</strong>testavam a vida libertina que ele levava. Depois <strong>de</strong> algum tempo, sua<br />
mãe não permitiu mais que ele permanecesse em sua presença. Em um dos seus aniversários, ela lhe enviou<br />
um bolo com a arma que seu pai havia usado para se matar. Em outro, ela lhe escreveu uma carta explicando<br />
que a vida <strong>de</strong> uma mãe é como um banco. Dizia ela: "Cada filho que lhe nasce 15 entra no mundo com uma<br />
conta bancária gran<strong>de</strong> e próspera, aparentemente inexaurível". O filho, ela continuava, faz saques, e não<br />
<strong>de</strong>pósitos, durante os primeiro anos <strong>de</strong> sua vida. Mais tar<strong>de</strong>, quando o filho cresce, é responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le<br />
repor o suprimento que sacou. A mãe <strong>de</strong> Hemingway então continuava enunciando todas as maneiras<br />
específicas pelas quais Ernest <strong>de</strong>veria ter feito "<strong>de</strong>pósitos para manter a conta em dia": flores, frutas ou doces,<br />
um pagamento sub-reptício das contas da mãe e, acima <strong>de</strong> tudo, uma <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> parar com "a<br />
negligência dos seus <strong>de</strong>veres para com Deus e o seu Salvador, Jesus <strong>Cristo</strong>". Hemingway nunca venceu o seu<br />
ódio pela mãe ou pelo Salvador.<br />
Ocasionalmente, a música da graça soa alto e etérea para interromper o monótono e obscuro rosnado da nãograça.<br />
Um dia enfiei a mão no bolso <strong>de</strong> uma calça em uma loja <strong>de</strong> saldos e encontrei uma nota <strong>de</strong> vinte dólares. Não<br />
tinha como encontrar o proprietário original, e o gerente da loja disse que eu po<strong>de</strong>ria ficar com ela. Pela primeira<br />
vez comprei um par <strong>de</strong> calças (<strong>de</strong> treze dólares) e saí da loja com um bom lucro. Revivo a experiência todas as<br />
vezes em que visto a calça e conto-a aos meus amigos sempre que o assunto <strong>de</strong> compras aparece.<br />
Outro dia, pela primeira vez escalei uma montanha <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> quinhentos metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>. Foi uma<br />
caminhada brutal e cansativa; quando finalmente <strong>de</strong>sci, achei que tinha ganho o direito <strong>de</strong> comer um churrasco e<br />
<strong>de</strong> ter uma semana <strong>de</strong> folga nas ativida<strong>de</strong>s aeróbicas. Quando virei uma curva, no caminho <strong>de</strong> volta para a cida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>parei-me com um genuíno lago alpino ro<strong>de</strong>ado por álamos ver<strong>de</strong>-vivos por trás dos quais levantava-se o mais<br />
brilhante arco-íris que eu já vira. Eu saí para o acostamento e fiquei olhando por muito tempo para aquela<br />
paisagem, em silêncio.<br />
Em uma viagem para Roma, eu e minha esposa seguimos o conselho <strong>de</strong> um amigo para visitar a basílica <strong>de</strong><br />
São Pedro bem cedo <strong>de</strong> manhã. "Peguem um ônibus antes do amanhecer para a ponte enfeitada com todas as<br />
estátuas <strong>de</strong> Bernini", o amigo instruiu. "Espere ali o nascer do sol, então corra para a catedral a alguns quarteirões<br />
<strong>de</strong> distância. De manhã vocês vão encontrar apenas freiras, peregrinos e padres". O sol nasceu em um céu límpido<br />
naquela manhã, tingindo o Tibre <strong>de</strong> vermelho e jogando raios alaranjados sobre as preciosas estátuas dos anjos <strong>de</strong><br />
Bernini. Seguindo o conselho, corremos para a basílica <strong>de</strong> São Pedro. Roma estava acabando <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar. É claro<br />
que éramos os únicos turistas; nossos passos sobre o chão <strong>de</strong> mármore ecoaram fortes na basílica. Admiramos a<br />
Pietã, o altar e os diversos monumentos, <strong>de</strong>pois subimos por uma escada externa para chegar ao balcão na base do<br />
imenso domo criado por Miguelângelo. Então percebi exatamente uma fila <strong>de</strong> duzentas pessoas atravessando a<br />
praça. "Horário perfeito", eu disse para minha mulher, pensando que eram turistas. Mas não eram turistas, e sim<br />
um grupo <strong>de</strong> peregrinos da Alemanha. Eles chegaram, reuniram-se em um semicírculo abaixo <strong>de</strong> nós e<br />
começaram a cantar hinos. Conforme suas vozes se elevavam, reverberando ao redor do domo e se mesclando na<br />
harmonia das muitas partes, a meia esfera <strong>de</strong> Michelangelo se transformou <strong>de</strong> apenas uma obra grandiosa <strong>de</strong><br />
arquitetura em um templo <strong>de</strong> música celeste. O som fez nossas células vibrarem. Ele recebeu substância, como se<br />
pudéssemos encostar-nos nele, ou nadar nele, como se os hinos, e não o balcão, estivessem nos segurando.<br />
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