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Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

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perdoada somente quando merece. Mas o próprio termo perdoar contém a palavra "doar" (exatamente como a<br />

palavra pardon, que contém o termo donutn e que significa doação). Assim como a graça, o perdão também traz<br />

em si a enlouquecedora qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser não-merecido, sem mérito, injusto.<br />

Por que Deus exigiria <strong>de</strong> nós um ato nada natural que <strong>de</strong>safia cada instinto primevo? O que torna o perdão tão<br />

importante para que seja o ponto central <strong>de</strong> nossa fé? Por minha experiência <strong>de</strong> pessoa muitas vezes perdoada, e<br />

às vezes perdoadora, posso sugerir diversos motivos. O primeiro é teológico. Os outros, mais pragmáticos,<br />

<strong>de</strong>ixarei para o próximo capítulo.<br />

Teologicamente, os evangelhos dão-nos uma resposta direta quanto à questão por que Deus nos pe<strong>de</strong> para<br />

perdoar: simplesmente porque é assim que Deus é. Ao nos dar a or<strong>de</strong>m "Amai os vossos inimigos", Jesus incluiu<br />

nessa or<strong>de</strong>nança um fundamento lógico: "...para que sejais filhos 11 do vosso Pai que está nos céus. Ele faz que o<br />

sol se levante sobre maus e bons, e envia chuva sobre justos e injustos".<br />

Qualquer um, disse Jesus, po<strong>de</strong> amar os amigos e a família: "Não fazem os gentios também assim?" Filhos e<br />

filhas do Pai são chamados para obe<strong>de</strong>cer a uma lei mais elevada a fim <strong>de</strong> que se pareçam com o Pai perdoador.<br />

Somos chamados para ser iguais a Deus, para carregarmos a semelhança da família divina.<br />

Lutando com a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> "amar os inimigos" enquanto estava sendo perseguido na Alemanha nazista, Dietrich<br />

Bonhoeffer finalmente concluiu que esta é a própria qualida<strong>de</strong> "peculiar... extraordinária, fora do comum" que<br />

diferencia um cristão das outras pessoas. Mesmo quando trabalhava para solapar o regime, ele obe<strong>de</strong>cia à or<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong> Jesus para "orar por aqueles que o perseguiam". Bonhoeffer escreveu:<br />

Por meio da oração vamos até o nosso inimigo, ficamos do seu lado e interce<strong>de</strong>mos por ele com Deus.<br />

Jesus não prometeu que quando abençoarmos os nossos inimigos e lhes fizermos o bem eles não abusarão <strong>de</strong><br />

nós nem nos perseguirão. Certamente eles o farão. Mas nem isso po<strong>de</strong> nos ferir ou vencer, quando oramos por<br />

eles... Estamos fazendo vicariamente o que eles não po<strong>de</strong>m fazer por si mesmos.<br />

Por que Bonhoeffer 12 lutava para amar os seus inimigos e orar pelos seus perseguidores? Ele tinha apenas uma<br />

resposta: "Deus ama os seus inimigos — essa é a glória do seu amor, como cada discípulo <strong>de</strong> Jesus sabe". Se<br />

Deus perdoou nossas dívidas, como não fazer o mesmo?<br />

Mais uma vez, a parábola do servo que não perdoou me vem à mente. O servo tinha todo direito <strong>de</strong> sentir a<br />

falta dos poucos dólares que seu companheiro lhe <strong>de</strong>via. Pelas leis da justiça romana, tinha o direito <strong>de</strong> jogar o<br />

companheiro na ca<strong>de</strong>ia. Jesus não argumentou a respeito da perda pessoal do servo, mas, antes, <strong>de</strong>stacou a perda<br />

contra o senhor (Deus) que já havia perdoado o servo em diversos milhões <strong>de</strong> dólares. Apenas a experiência <strong>de</strong><br />

sermos perdoados torna possível perdoarmos os outros.<br />

Tive um amigo, já falecido, que trabalhou na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Wheaton por muitos anos, durante os quais<br />

ouviu milhares <strong>de</strong> mensagens <strong>de</strong>vocionais. Muitas <strong>de</strong>ssas mensagens se <strong>de</strong>svaneceram em um borrão <strong>de</strong><br />

esquecimento. Outras, porém, se <strong>de</strong>stacaram. Particularmente, ele gostava <strong>de</strong> recontar a história <strong>de</strong> Sam Moffat,<br />

um professor do Seminário <strong>de</strong> Princeton, que serviu como missionário na China. Moffat contou aos estudantes <strong>de</strong><br />

Wheaton uma história comovente <strong>de</strong> sua fuga dos perseguidores comunistas. Eles tomaram sua casa e todas as<br />

suas posses, queimaram as instalações missionárias e mataram alguns dos seus amigos mais chegados. A própria<br />

família <strong>de</strong> Moffat quase não escapou. Quando ele saiu da China, levou consigo um profundo ressentimento contra<br />

os discípulos do presi<strong>de</strong>nte Mao, um ressentimento que se disseminou por metástase <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le.<br />

Finalmente, ele disse aos estudantes <strong>de</strong> Wheaton que havia enfrentado uma singular crise <strong>de</strong> fé. "Eu percebi",<br />

confessou Moffat, "que se não perdoasse os comunistas não teria mais nenhuma mensagem para pregar".<br />

O evangelho da graça começa e termina com o perdão. E as pessoas escrevem canções com títulos como<br />

"<strong>Maravilhosa</strong> graça" apenas por um motivo: a graça é a única força do universo suficientemente po<strong>de</strong>rosa para<br />

quebrar as ca<strong>de</strong>ias que escravizam gerações. Apenas a graça <strong>de</strong>rrete a não-graça.<br />

Participei <strong>de</strong> uma reunião, num fim <strong>de</strong> semana, com <strong>de</strong>z ju<strong>de</strong>us, <strong>de</strong>z cristãos e <strong>de</strong>z muçulmanos. O dirigente do<br />

encontro era o escritor e psiquiatra M. Scott Peck. Ele esperava que a reunião pu<strong>de</strong>sse acabar em alguma espécie<br />

<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> ou, pelo menos, dar início à reconciliação, nem que fosse em uma escala menor, entre os<br />

participantes. Não funcionou. Agressões físicas quase irromperam entre aquelas pessoas educadas, sofisticadas.<br />

Os ju<strong>de</strong>us falavam <strong>de</strong> todas as coisas horríveis que lhes foram feitas pelos cristãos. Os muçulmanos falavam <strong>de</strong><br />

todas as coisas horríveis que lhes foram feitas pelos ju<strong>de</strong>us. Nós, cristãos, tentávamos falar <strong>de</strong> nossos próprios<br />

problemas, mas eles empali<strong>de</strong>ciam em contraste com o Holocausto e as dificulda<strong>de</strong>s dos refugiados palestinos,<br />

por isso ficamos principalmente nas laterais, ouvindo os outros dois grupos falando das injustiças da história.<br />

Em <strong>de</strong>terminado momento, uma mulher judia eloqüente, que fora ativa em tentativas anteriores para<br />

reconciliação com os árabes, voltou-se para os cristãos e disse: "Creio que nós, ju<strong>de</strong>us, temos muito a apren<strong>de</strong>r<br />

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