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Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

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<strong>de</strong>ixam vulneráveis à crítica <strong>de</strong>vastadora. "A religião representa o que há <strong>de</strong> mais elevado em termos <strong>de</strong> ética e<br />

i<strong>de</strong>al", escreve Klausner, "enquanto a vida política e social representa o outro extremo da barbarida<strong>de</strong> e do<br />

paganismo".<br />

Klausner afirma que os fracassos da história cristã provam sua opinião <strong>de</strong> que Jesus ensinou uma ética<br />

impraticável que não vai funcionar em um mundo real. Ele menciona a Inquisição espanhola, que "não <strong>de</strong>via ser<br />

incompatível com o cristianismo". Um crítico contemporâneo po<strong>de</strong>ria acrescentar a essa lista a Iugoslávia,<br />

Ruanda e, sim, até mesmo a Alemanha nazista, pois todos esses três conflitos aconteceram em nações<br />

consi<strong>de</strong>radas cristãs.<br />

Será que a ênfase cristã sobre o amor, a graça e o perdão tem alguma relevância fora das famílias em disputa<br />

ou grupos <strong>de</strong> encontros nas igrejas? Em um mundo on<strong>de</strong> a força significa po<strong>de</strong>r, um i<strong>de</strong>al elevado como o perdão<br />

po<strong>de</strong> parecer etéreo como vapor. Stalin compreen<strong>de</strong>u este princípio muito bem quando zombou da autorida<strong>de</strong><br />

moral da igreja: "Quantas divisões <strong>de</strong> soldados tem o papa?".<br />

Para ser honesto, eu não sei como reagiria no lugar <strong>de</strong> Simon Wiesenthal. Po<strong>de</strong>ríamos ou <strong>de</strong>veríamos perdoar<br />

crimes dos quais não fomos vítimas? Karl, o oficial da SS, arrepen<strong>de</strong>u-se, amenizando sua situação. Mas o que<br />

dizer dos rostos <strong>de</strong> pedra, quase sorrindo com <strong>de</strong>sdém, nos julgamentos <strong>de</strong> Nuremberg e Stuttgart? Martin Marty,<br />

um dos cristãos interrogados no livro <strong>de</strong> Wiesenthal, escreveu estas linhas, com as quais sou tentado a concordar:<br />

"Posso respon<strong>de</strong>r apenas com o silêncio. Os que não são ju<strong>de</strong>us, e talvez especialmente os cristãos, não <strong>de</strong>veriam<br />

dar conselhos aos seus her<strong>de</strong>iros a respeito da experiência do Holocausto durante os próximos dois mil anos. E,<br />

então, não teremos nada a dizer".<br />

Ainda assim, tenho <strong>de</strong> admitir, enquanto leio as eloqüentes vozes que dão apoio à falta do perdão, que não<br />

posso ficar sem imaginar o que é mais difícil, o perdão ou a falta <strong>de</strong> perdão. Herbert Gold julgou que "nenhuma<br />

reação pessoal para com ela (a culpa alemã) é injustificável". Oh?! O que dizer <strong>de</strong> uma execução vingativa <strong>de</strong><br />

todos os alemães sobreviventes — seria justificável?<br />

O argumento mais forte em favor da graça é o seu oposto, um mundo <strong>de</strong> não-graça. O mais forte argumento<br />

para o perdão é a outra alternativa — um permanente estado <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> perdão. Concordo que o Holocausto cria<br />

condições especiais. Que dizer <strong>de</strong> outros exemplos mais contemporâneos? Ao escrever estas palavras, cerca <strong>de</strong><br />

dois milhões <strong>de</strong> refugiados hutus estão sentados sem fazer nada nos campos <strong>de</strong> refugiados nas fronteiras da<br />

Ruanda, recusando todas as solicitações para que voltem para casa. Seus lí<strong>de</strong>res, gritando através <strong>de</strong> chifres <strong>de</strong><br />

boi, os advertem <strong>de</strong> que não confiem nas promessas dos tutsis <strong>de</strong> que "tudo está perdoado". "Eles vão matá-los",<br />

dizem os lí<strong>de</strong>res hutus. "Eles vão procurar vingar os quinhentos mil tutsis que assassinamos."<br />

Enuanto escrevo isto, soldados americanos estão ajudando a manter unidas as quatro nações separadas que se<br />

formaram ao longo das fronteiras <strong>de</strong> uma Iugoslávia dilacerada pela guerra. Como muitos americanos, acho<br />

<strong>de</strong>sconcertante, impronunciável e perverso tudo o que se refere à região dos Bálcãs. Mas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> reler The<br />

Sunflower, comecei a ver os Bálcãs como simplesmente o cenário do último estágio <strong>de</strong> um recorrente motivo da<br />

história. On<strong>de</strong> reina a falta <strong>de</strong> perdão, como o ensaísta Lance Morrow <strong>de</strong>stacou, uma lei newtoniana entra em<br />

jogo: para cada atrocida<strong>de</strong> tem <strong>de</strong> haver uma atrocida<strong>de</strong> igual e oposta.<br />

Os sérvios, naturalmente, são os bo<strong>de</strong>s expiatórios <strong>de</strong> todos para o que está acontecendo na Iugoslávia.<br />

(Observe a linguagem utilizada para <strong>de</strong>screvê-los na supostamente objetiva seção <strong>de</strong> notícias da revista Time: "O<br />

que aconteceu na Bósnia é simplesmente sordi<strong>de</strong>z e barbarismo — o trabalho sujo <strong>de</strong> mentirosos e cínicos<br />

manipulando preconceitos tribais, usando propaganda <strong>de</strong> antigas atrocida<strong>de</strong>s e inimiza<strong>de</strong>s feudais para atingir o<br />

resultado da política suja da 'purificação étnica'".) Apanhados na repulsa justa — e totalmente apropriada — às<br />

atrocida<strong>de</strong>s sérvias, o mundo ignora um fato: os sérvios estão simplesmente acompanhando a terrível lógica da<br />

falta <strong>de</strong> perdão.<br />

A Alemanha nazista, o mesmo regime que eliminou oitenta e nove membros da família <strong>de</strong> Simon Wiesenthal e<br />

que provocou palavras tão ásperas <strong>de</strong> pessoas refinadas como Cynthia Ozick e Herbert Marcuse, incluía os sérvios<br />

em sua campanha <strong>de</strong> "purificação étnica" durante a Segunda Guerra Mundial. É verda<strong>de</strong> que na década <strong>de</strong> 1990<br />

os sérvios mataram <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhares — mas, durante a ocupação nazista no território dos Bálcãs em 1940, os<br />

alemães e croatas mataram centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> sérvios, ciganos e ju<strong>de</strong>us. A memória histórica continua: na<br />

recente guerra, alemães neonazistas alistaram-se para lutar ao lado dos croatas, e unida<strong>de</strong>s do exército croata<br />

atrevidamente <strong>de</strong>sfraldaram ban<strong>de</strong>iras com suásticas, o antigo símbolo fascista croata.<br />

"Nunca mais", foi o grito unânime dos sobreviventes do Holocausto. E foi também o que inspirou os sérvios a<br />

<strong>de</strong>safiar as Nações Unidas e, virtualmente, o mundo inteiro. Nunca mais permitirão que os croatas dominem o<br />

território habitado pelos sérvios. Nunca mais aceitarão os muçulmanos também: a última guerra que tiveram com<br />

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