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Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

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graça, não pregue uma graça fictícia, mas a verda<strong>de</strong>ira; e se a graça é verda<strong>de</strong>ira, envolve um pecado verda<strong>de</strong>iro,<br />

não fictício. Seja pecador e peque vigorosamente... Basta reconhecermos, mediante a riqueza da glória <strong>de</strong> Deus, o<br />

Cor<strong>de</strong>iro que tira o pecado do mundo; disto o pecado não nos separa, mesmo se milhares, milhares <strong>de</strong> vezes por<br />

dia nós fornicássemos ou cometêssemos homicídio".<br />

Outros, alarmados com a perspectiva dos cristãos fornicarem ou matarem milhares <strong>de</strong> vezes por dia,<br />

censuraram Lutero por sua hipérbole. A Bíblia, afinal, apresenta a graça como uma contrapartida para o pecado.<br />

Como po<strong>de</strong>m os dois coexistir na mesma pessoa? Não <strong>de</strong>veríamos "crescei na graça", 14 como Pedro or<strong>de</strong>na? A<br />

nossa semelhança familiar com Deus não <strong>de</strong>veria aumentar? "<strong>Cristo</strong> nos aceita como somos", escreveu Walter<br />

Trobisch, 15 "mas quando ele nos aceita, não po<strong>de</strong>mos permanecer como somos".<br />

Dietrich Bonhoeffer, teólogo do século XX, cunhou a expressão "graça barata" como meio <strong>de</strong> resumir o abuso<br />

da graça. Vivendo na Alemanha nazista, ficou alarmado com a maneira covar<strong>de</strong> pela qual os cristãos estavam<br />

reagindo à ameaça <strong>de</strong> Hitler. Os pastores luteranos pregavam a graça dos púlpitos aos domingos, <strong>de</strong>pois ficavam<br />

em silêncio o restante da semana enquanto os nazistas continuavam sua política <strong>de</strong> racismo, eutanásia e<br />

finalmente genocídio. O livro <strong>de</strong> Bonhoeffer The Cost of Discipleship [O preço do discipulado] <strong>de</strong>staca as muitas<br />

passagens do Novo Testamento or<strong>de</strong>nando aos cristãos que busquem a santida<strong>de</strong>. Todo chamado à conversão, ele<br />

insistia, inclui um chamado para o discipulado, para a semelhança <strong>de</strong> <strong>Cristo</strong>.<br />

No livro <strong>de</strong> Romanos, Paulo lida exatamente com essas questões. Nenhuma outra passagem bíblica apresenta<br />

<strong>de</strong> maneira tão direcionada a graça em todos os seus mistérios. E para termos uma perspectiva do escândalo da<br />

graça <strong>de</strong>vemos ler Romanos 6 a 7.<br />

Os primeiros capítulos <strong>de</strong> Romanos alertam sobre o estado miserável da humanida<strong>de</strong>, com a conclusão<br />

con<strong>de</strong>natória: "Pois todos pecaram 16 e <strong>de</strong>stituídos estão da glória <strong>de</strong> Deus". Como uma orquestra introduzindo um<br />

novo movimento sinfônico, os próximos dois capítulos falam da graça que apaga toda penalida<strong>de</strong>: "Mas on<strong>de</strong> o<br />

pecado 17 abundou, superabundou a graça". Certamente uma gran<strong>de</strong> teologia, mas essa <strong>de</strong>claração arrasadora<br />

introduz o problema muito prático que estou abordando: por que ser bom se você já sabe com antecedência que<br />

vai ser perdoado? Por que lutar para ser justo como Deus quer quando Ele me aceita exatamente como sou?<br />

Paulo sabe que abriu um dique teológico. Em Romanos 6 ele pergunta bruscamente: "Que diremos, pois?<br />

Permaneceremos no pecado, 18 para que a graça aumente?", e, novamente: "Havemos <strong>de</strong> pecar 19 por não estarmos<br />

<strong>de</strong>baixo da lei, mas da graça? O apóstolo respon<strong>de</strong> curta, explosivamente, às duas perguntas: "De modo nenhum".<br />

Outras traduções são mais pitorescas; a Versão King James, por exemplo, diz: "Deus me livre!"<br />

O que absorve o apóstolo nesses capítulos <strong>de</strong>nsos, apaixonados, é simplesmente o escândalo da graça. A<br />

questão "Para que ser bom?" subsiste no fundo do argumento <strong>de</strong> Paulo. Se você já sabe com antecedência que<br />

será perdoado, por que não se juntar aos bacanais pagãos? Coma, beba, divirta-se, pois amanhã Deus perdoará.<br />

Paulo não po<strong>de</strong> ignorar esta brecha evi<strong>de</strong>nte.<br />

A primeira ilustração <strong>de</strong> Paulo (Romanos 6:1-14) vai diretamente ao ponto. Ele apresenta a questão: se a graça<br />

aumenta quando o pecado aumenta, então por que não pecar o máximo possível para que Deus tenha mais<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r a sua graça? Embora esse raciocínio possa parecer perverso, em diversas ocasiões os<br />

cristãos têm seguido exatamente essa lógica viciosa. Um bispo do século III ficou perplexo ao ver mártires<br />

<strong>de</strong>votos da fé cristã <strong>de</strong>dicarem suas últimas noites na prisão embriagando-se, em orgias e promiscuida<strong>de</strong>. Uma<br />

vez que a morte <strong>de</strong> mártires os tornaria perfeitos, eles raciocinavam, que importância teria se passassem suas<br />

últimas horas pecando? E, na Inglaterra <strong>de</strong> Cromwell, uma seita extremista conhecida como "Ranters"<br />

(Vociferadores) <strong>de</strong>senvolveu a doutrina da "santida<strong>de</strong> do pecado". Um lí<strong>de</strong>r lançava maldições durante toda uma<br />

hora no púlpito <strong>de</strong> uma igreja <strong>de</strong> Londres; outros embebedavam-se e blasfemavam em público.<br />

Paulo não tinha tempo para tais circunvoluções éticas. Para refutá-las, ele começa com uma analogia básica<br />

que contrasta diretamente a morte com a vida. "Nós, que estamos mortos para o pecado, 20 como viveremos ainda<br />

nele?", pergunta, incrédulo, o apóstolo. Nenhum cristão que tenha ressuscitado para a nova vida em <strong>Cristo</strong><br />

<strong>de</strong>veria estar preso à sepultura. O pecado tem cheiro <strong>de</strong> morte. Por que alguém o preferiria?<br />

Contudo, o exemplo vivo <strong>de</strong> Paulo da morte versus vida não esclarece totalmente a questão em exame, pois a<br />

malda<strong>de</strong> nem sempre tem o cheiro <strong>de</strong> morte — pelo menos, não para os seres humanos. O abuso da graça é uma<br />

verda<strong>de</strong>ira tentação para a luxúria, a ganância, a inveja e o orgulho que tornam o pecado claramente atraente.<br />

Como os porcos <strong>de</strong> fazenda, nós gostamos <strong>de</strong> chafurdar na lama.<br />

E mais ainda: embora os cristãos possam ter "morrido para o pecado" <strong>de</strong> algum modo teórico, ele continua<br />

pipocando <strong>de</strong> volta à vida. Um amigo meu que dirigiu um estudo bíblico a respeito <strong>de</strong>sta passagem <strong>de</strong>pois foi<br />

interpelado por uma colega com uma expressão aturdida. "Eu sei que foi <strong>de</strong>clarado que estamos mortos para o<br />

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