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Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

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antecedência que seria perdoado?<br />

Há um "gancho" na graça que preciso mencionar agora. Nas palavras <strong>de</strong> C. S. Lewis: 5 "Agostinho diz 'Deus dá<br />

on<strong>de</strong> Ele encontra mãos vazias'. Um homem cujas mãos estão cheias <strong>de</strong> pacotes não po<strong>de</strong> receber um presente". A<br />

graça, em outras palavras, tem <strong>de</strong> ser recebida. Lewis 6 explica que aquilo que eu chamei <strong>de</strong> "abuso da graça" brota<br />

<strong>de</strong> uma confusão entre tolerância e perdão: "Tolerar um erro é simplesmente ignorá-lo, tratá-lo como se fosse uma<br />

coisa correta. Mas o perdão precisa ser aceito, além <strong>de</strong> oferecido, para que seja completo. Um homem que não<br />

admite culpa não po<strong>de</strong> aceitar o perdão".<br />

Foi o que eu disse ao meu amigo Daniel, em resumo. "Se Deus po<strong>de</strong> perdoá-lo? Naturalmente. Você conhece a<br />

Bíblia. Deus usa homicidas e adúlteros. A bem da verda<strong>de</strong>, Pedro e Paulo, dois homens que falharam muito,<br />

li<strong>de</strong>raram a igreja do Novo Testamento. O perdão é problema nosso, e não <strong>de</strong> Deus. O que nós temos <strong>de</strong> fazer<br />

para cometer pecado é que nos distancia <strong>de</strong> Deus — nós nos transformamos no próprio ato <strong>de</strong> rebeldia — e não há<br />

garantia <strong>de</strong> que um dia voltemos. Você me pergunta agora a respeito do perdão, mas será que mais tar<strong>de</strong> você vai<br />

querer o perdão, especialmente se ele envolver arrependimento?"<br />

Meses <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> nossa conversa, Daniel fez sua escolha e abandonou a família. Ainda não vi evidências <strong>de</strong><br />

arrependimento. Agora ele se inclina a racionalizar sua <strong>de</strong>cisão como uma maneira <strong>de</strong> fugir <strong>de</strong> um casamento<br />

infeliz. Ele se afastou <strong>de</strong> seus antigos amigos por consi<strong>de</strong>rá-los "<strong>de</strong>masiadamente estreitos e críticos" e procura<br />

substitutos que celebrem sua recém-<strong>de</strong>scoberta libertação. Para mim, entretanto, Daniel não parece muito<br />

liberado. O preço da "liberda<strong>de</strong>" significou virar as costas para aqueles que mais se interessam por ele. Ele me diz<br />

também que agora Deus não faz mais parte <strong>de</strong> sua vida. "Talvez mais tar<strong>de</strong>", ele diz.<br />

Deus assumiu um gran<strong>de</strong> risco anunciando o perdão com antecedência. E o escândalo da graça envolve uma<br />

transferência <strong>de</strong>sse risco para nós.<br />

"Verda<strong>de</strong>iramente é um erro estar cheio <strong>de</strong> faltas", disse Pascal, "mas é um erro ainda maior estar cheio <strong>de</strong>las e<br />

não <strong>de</strong>sejar reconhecê-las".<br />

As pessoas se divi<strong>de</strong>m em duas categorias. Não estou me referindo aos culpados e aos "justos", como muitas<br />

pessoas. pensam. Antes, porém, em duas categorias diferentes <strong>de</strong> pessoas culpadas. Há pessoas culpadas que<br />

reconhecem seus en"os. E pessoas culpadas que não os reconhecem. São dois grupos que convergem em uma<br />

cena registrada em João 8.<br />

O inci<strong>de</strong>nte acontece nos átrios do templo, on<strong>de</strong> Jesus está ensinando. Um grupo <strong>de</strong> fariseus e mestres da lei<br />

interrompe o "culto" arrastando uma mulher apanhada em adultério. Segundo o costume, ela é <strong>de</strong>snuda da cintura<br />

para cima como prova <strong>de</strong> sua vergonha. Aterrorizada, in<strong>de</strong>fesa, publicamente humilhada, a mulher se encolhe<br />

diante <strong>de</strong> Jesus, os braços cobrindo os seios nus.<br />

Adultério envolve duas pessoas, naturalmente, mas a mulher está sozinha diante <strong>de</strong> Jesus (talvez tivesse sido<br />

apanhada na cama com um fariseu?). João <strong>de</strong>ixa claro que os acusadores estavam mais interessados em criar uma<br />

armadilha para Jesus do que punir um crime. E a armadilha era muito inteligente. A lei <strong>de</strong> Moisés especificava<br />

morte por apedrejamento para o adultério, mas a lei romana proibia os ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong> realizar execuções. Jesus<br />

obe<strong>de</strong>ceria a Moisés ou a Roma? Ou Ele, notório por sua misericórdia, encontraria uma maneira <strong>de</strong>ssa adúltera<br />

escapar? Neste caso, teria <strong>de</strong> <strong>de</strong>safiar a lei <strong>de</strong> Moisés diante <strong>de</strong> uma multidão reunida nos próprios átrios do<br />

templo. Todos os olhos se fixaram em Jesus.<br />

Nesse momento cheio <strong>de</strong> tensão, Jesus faz uma coisa diferente: Ele se inclina e escreve no chão com o <strong>de</strong>do.<br />

Esta, <strong>de</strong> fato, é a única cena dos evangelhos que apresenta Jesus escrevendo. Para suas únicas palavras escritas<br />

Ele escolheu como agente um galho e escreveu na areia, sabendo que os pés, o vento, ou a chuva logo as<br />

apagariam.<br />

João não nos conta o que Jesus escreveu na areia. No seu filme a respeito da vida <strong>de</strong> Jesus, Cecil B. De Mille o<br />

apresenta anotando os nomes dos diversos pecados: adultério, homicídio, orgulho, avareza, luxúria. Cada vez que<br />

Jesus escreve uma palavra, alguns fariseus se afastam. A imaginação <strong>de</strong> De Mille, como todas as outras, é uma<br />

conjectura. Sabemos apenas que nesse momento carregado <strong>de</strong> perigo Jesus pára, fica em silêncio e escreve com o<br />

<strong>de</strong>do na areia. O poeta irlandês Seamus Heaney 7 comenta que Jesus "marca passo em todo o sentido <strong>de</strong>ssa<br />

expressão", concentrando a atenção <strong>de</strong> todos e criando uma brecha <strong>de</strong> significado entre o que está acontecendo e o<br />

que o auditório <strong>de</strong>seja que aconteça.<br />

Aqueles que estão no auditório vêem, sem dúvida, duas categorias <strong>de</strong> atores no drama: a mulher culpada,<br />

apanhada com as mãos sujas, e os acusadores "justos", que são, afinal <strong>de</strong> contas, profissionais religiosos. Quando<br />

Jesus finalmente fala, <strong>de</strong>strói uma daquelas categorias. — Se algum <strong>de</strong> vocês não tem pecado — diz o Filho <strong>de</strong><br />

Deus, — que seja o primeiro a atirar uma pedra nesta mulher.<br />

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