Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
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aborto aos seus termos morais mais simples: vida ou morte, amor ou rejeição. Um cético po<strong>de</strong>ria dizer a respeito<br />
<strong>de</strong> sua oferta: Madre Teresa, a senhora não compreen<strong>de</strong> as complexida<strong>de</strong>s envolvidas. Ha mais <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong><br />
abortos só nos Estados Unidos anualmente. Com certeza a senhora não vai conseguir cuidar <strong>de</strong> todos esses<br />
bebês!<br />
Mas, afinal, ela era a madre Teresa. Ela tinha vivido a sua vocação especial <strong>de</strong> Deus e, se Deus lhe enviasse<br />
um milhão <strong>de</strong> bebês, ela provavelmente encontraria um meio <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong>les. Ela compreen<strong>de</strong>u que amor<br />
sacrificial é uma das mais po<strong>de</strong>rosas armas no arsenal cristão da graça.<br />
Os profetas apresentam-se em todos os tipos e estilos; imagino que o profeta Elias, por exemplo, teria usado<br />
palavras mais fortes do que madre Teresa ao <strong>de</strong>nunciar injustiças morais. Mas não posso <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> pensar que,<br />
<strong>de</strong> todas as palavras sobre aborto que o presi<strong>de</strong>nte Clinton ouviu enquanto esteve no seu cargo, as palavras <strong>de</strong><br />
madre Teresa penetraram mais profundamente.<br />
Minha segunda conclusão talvez pareça contradizer a primeira: compromisso com um estilo <strong>de</strong> graça não<br />
significa que os cristãos vão viver em perfeita harmonia com o governo. Como Kenneth Kaunda, 8 o expresi<strong>de</strong>nte<br />
da Zâmbia, escreveu, "o que uma nação precisa mais do que qualquer outra coisa não é <strong>de</strong> um<br />
governante cristão no palácio, mas <strong>de</strong> um profeta cristão ao alcance do ouvido".<br />
Des<strong>de</strong> o início, o cristianismo — cujo fundador, afinal, o Estado executou — viveu em tensão com o<br />
governo. Jesus advertiu seus discípulos <strong>de</strong> que o mundo os odiaria como odiaram a Ele próprio, e no caso <strong>de</strong><br />
Jesus foram os po<strong>de</strong>rosos que conspiraram contra Ele. Quando a igreja se espalhou pelo Império Romano, seus<br />
discípulos adotaram o lema "<strong>Cristo</strong> é o Senhor", 9 uma afronta direta às autorida<strong>de</strong>s romanas que exigiam que<br />
todos os cidadãos jurassem que "César (o Estado) é o Senhor". Um objeto imovível encontrou uma força<br />
irresistível.<br />
Os cristãos primitivos forjaram regras para governar seus <strong>de</strong>veres para com o Estado. Proibiram certas<br />
profissões: o ator que tivesse <strong>de</strong> afazer o papel <strong>de</strong> um <strong>de</strong>us pagão, o professor que fosse forçado a ensinar<br />
mitologia paga nas escolas públicas, o gladiador que tirava a vida humana por esporte, o soldado que matava, o<br />
policial e o juiz.<br />
Justino, que se tornou mártir, enunciou os limites da obediência a Roma: "A Deus somente 10 prestamos<br />
adoração, mas em outras coisas alegremente os servimos, reconhecendo-os como reis e governadores dos<br />
homens e orando para que, com o seu po<strong>de</strong>r real, façam também julgamento perfeito".<br />
Com o passar dos séculos, alguns governadores <strong>de</strong>monstraram julgamento perfeito e outros, não. Quando<br />
houve conflito, os cristãos se colocaram contra o Estado, apelando para uma autorida<strong>de</strong> mais elevada. Thomas<br />
Becket 11 disse ao rei da Inglaterra: "Não tememos ameaças, porque a Corte da qual viemos está acostumada a dar<br />
or<strong>de</strong>ns aos imperadores e reis".<br />
Os missionários que levaram o evangelho a outras culturas viram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>safiar certas práticas,<br />
colocando-se em conflito direto com o Estado. Na índia eles atacaram o sistema <strong>de</strong> castas, o casamento infantil, a<br />
queima das noivas, o extermínio das viúvas. Na América do Sul baniram o sacrifício humano. Na África se<br />
opuseram à poligamia e à escravidão. Os cristãos compreen<strong>de</strong>ram que sua fé não era uma fé simplesmente<br />
particular e <strong>de</strong>voçional, mas tinha implicações para toda a socieda<strong>de</strong>.<br />
Não foi por aci<strong>de</strong>nte que os cristãos foram pioneiros no movimento antiescravatura, por exemplo, por causa <strong>de</strong><br />
suas argumentações teológicas. Filósofos como Daviq Hume consi<strong>de</strong>ravam os negros inferiores, e os homens <strong>de</strong><br />
negócio os consi<strong>de</strong>ravam como uma fonte barata <strong>de</strong> trabalho. Alguns cristãos corajosos viram, acima da utilida<strong>de</strong><br />
dos escravos, o seu valor essencial, como seres humanos criados por Deus e li<strong>de</strong>raram sua emancipação.<br />
Com todas as suas falhas, a igreja às vezes — esporádica e imperfeitamente, é verda<strong>de</strong> — tem dispensado a<br />
mensagem da graça <strong>de</strong> Jesus ao mundo. Foi o cristianismo, e apenas o cristianismo, que acabou com a escravidão.<br />
E também foi o cristianismo que inspirou a criação dos primeiros hospitais e hospícios. A mesma energia impeliu<br />
o primeiro movimento trabalhista, o voto das mulheres, as campanhas dos direitos humanos e os direitos civis.<br />
Quanto à América, Robert Bella.h 12 diz que "não houve nenhuma questão importante na história dos Estados<br />
Unidos a respeito da qual as organizações religiosas não falassem, pública e clamorosamente".<br />
Na história recente, os principais lí<strong>de</strong>res do movimento dos direitos civis (Martin Luther King Jr., Ralph<br />
Abernathy, Jesse Jackson, Andrew Young) foram pastores, e seus comoventes sermões o provaram. Igrejas<br />
negras e brancas proporcionaram os edifícios, as re<strong>de</strong>s, a i<strong>de</strong>ologia, os voluntários e a teologia para apoiar o<br />
movimento.<br />
Martin Luther King Jr. mais tar<strong>de</strong> alargou sua cruzada para encampar as questões da pobreza e da oposição à<br />
guerra no Vietnã. Apenas recentemente, quando o ativismo político passou para as causas conservadoras, o<br />
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